MOSTRAR VISUALIZAÇÕES DE PÁGINAS

sexta-feira, 19 de abril de 2013

"O FANTÁSTICO DA VIDA É ESTAR COM ALGUÉM QUE SABE FAZER DE UM PEQUENO INSTANTE, UM GRANDE MOMENTO"---AUTOR DESCONHECIDO---TIRE OS OLHOS DAS DIFICULDADES E ENFRENTE A REALIDADE---EVA IBRAHIM


                                          E, FOI ASSIM.
O automóvel adentrou ao pátio do Hospital e Maternidade buzinando freneticamente; as pessoas ali presentes deram passagem. Certamente deveria estar ocorrendo uma emergência, tal a velocidade com que o veículo chegou e estacionou em frente à porta de entrada. O homem abriu a porta, saiu correndo e dizendo que havia um bebê nascendo. Dois enfermeiros apareceram com uma maca para levar a paciente para o Centro Obstétrico. Os curiosos se posicionaram para ver a ocorrência e poder comentar o fato.
A mulher foi retirada do automóvel e, gemendo muito, foi colocada sobre a maca, que se tingiu de vermelho pelo sangue que escorria do seu vestido. Carlos, o marido, parecia uma barata tonta, andava de um lado para outro sem parar. O guarda do Pronto Socorro pediu que se acalmasse e retirasse o veículo dali. 
O homem ficara desesperado quando a mulher disse que a bolsa de águas havia se rompido. Mal conseguira colocar as roupas, que deveria levar ao Hospital, no automóvel, pois, estava com muita pressa. Carlos precisava correr para não perder mais um bebê; disso ele tinha certeza. O primeiro filho do casal nasceu prematuro e não sobreviveu.
Sua esposa estava fazendo repouso desde que foi constatado que sua placenta era baixa e poderia ter um parto de urgência. Estava explicado o desespero de Carlos, que era filho único e tinha loucura por ter muitas crianças em casa. 
Eloisa entrara em depressão quando perdeu o primeiro filho; ambos sofreram muito. Agora era a hora de realizar o sonho de ter um bebê em casa; um filho muito amado e desejado. Uma menina com nome forte, escolhido pelo pai, Valentina Duarte Fonseca como a avó paterna.
Ele tirou o automóvel da entrada e estacionou no pátio, longe da porta de emergência. Quando voltou foi tomar um copo de água e preencher a ficha da mulher. Parecia estar em transe, agia automaticamente com o olhar perdido em algum ponto indefinido. 
Procurava por Eloisa, que parecia ter sumido por aqueles corredores imensos e assustadores. Foi orientado pelo segurança do local a aguardar notícias da esposa na saleta de espera do Centro Obstétrico, no quinto andar. Um estranho silêncio reinava no local, o que deixava o homem mais inquieto, queria saber o que estava acontecendo lá dentro; estava com medo.
Depois de um longo tempo, uns quarenta minutos, que pareciam uma eternidade, apareceu uma enfermeira dizendo que Eloisa estava na sala de parto. Eufórico, o futuro papai, pediu para assistir o parto e lhe foi dado um gorro e um avental para entrar na área restrita, onde aconteceria o nascimento do bebê.
A enfermeira retornou e ele ficou sozinho com o avental e o gorro nas mãos. Não sabia o que fazer com aquilo ou como colocar aquela estranha roupa. Então, tirou a roupa que estava usando, pois achou que não poderia entrar naquele recinto com uma roupa qualquer. Rapidamente, Carlos colocou o avental aberto nas costas, o gorro enfiado na cabeça e, em seguida adentrou á Sala de Parto..
A equipe toda aguardava a chegada do bebê que já podia ser visualizado. A técnica de enfermagem que iria recepcionar o recém-nascido olhou assustada quando o homem passou por ela. Carlos tinha o traseiro nu, sapatos com meias e o gorro na cabeça. O homem estava sem a roupa de baixo, apenas com o avental aberto atrás; a equipe toda franziu as sobrancelhas. Naquele momento solene do nascimento de uma criança todos se entreolharam e riram disfarçadamente. A atenção da equipe médica fora desviada para a situação cômica de ter um acompanhante somente com um avental transparente dentro da sala de parto.
O anestesista, que era quem estava com as mãos desocupadas, pegou uma tira de esparadrapo e fechou a traseira do avental do homem. Em seguida deu um banco de inox para ele sentar-se e todos riram, pois deveria estar gelado; a sala tinha ar condicionado. Carlos estava tão nervoso que nem percebeu a situação que fora criada por ele; além de hilária era inusitada. Um acompanhante quase pelado na sala de parto!
A criança nasceu bem e Carlos acompanhou tudo só de avental. Quando Eloisa foi para a sala de recuperação o homem foi orientado a colocar suas roupas, que nunca deveria ter tirado. 
No dia seguinte ele voltou para desculpar-se com a equipe médica pelo constrangimento, mas, disse que não perderia o nascimento da filha por nada, nem que tivesse que ficar totalmente despido; a ansiedade o impedira de raciocinar. Feliz e com um sorriso no rosto foi visitar as duas mulheres de sua vida, Eloisa e Valentina. Um texto de Eva Ibrahim.

domingo, 14 de abril de 2013

"QUERO A DELÍCIA DE PODER SENTIR AS COISAS MAIS SIMPLES"---MANUEL BANDEIRA.--- SONHAR É VIAJAR COM O CORAÇÃO, PELAS ASAS DA IMAGINAÇÃO".---EVA IBRAHIM


                                         SONHAR É PRECISO.
            Enquanto Celina olhava o enorme e majestoso balão colorido sobre a relva, sentia-se hipnotizada, eram muitas lembranças que passavam por sua cabeça. Estava acompanhada do marido e dos filhos, mas, custava crer que iria voar em um balão de verdade. Era lindo, tinha um cesto enorme pousado ali no chão; incrível mesmo! Raul lhe fizera uma surpresa e ela ficara muda. Era um sonho de criança voar lentamente ao sabor do vento e planar no ar como os pássaros.
           Hoje em dia é um passeio turístico programado e seguro. O grupo era composto de 16 pessoas, que iriam voar a bordo do balão naquela manhã; o baloeiro, dois tripulantes e treze passageiros, Chegaram bem cedo, ás cinco horas da madrugada do domingo; ainda estava escuro, mas o Sol não tardaria a aparecer. Enquanto aguardavam os preparativos finais para a subida no cesto da aeronave, Celina, sentada em um toco de árvore, buscava as mais remotas lembranças; anos felizes que passara em Barbacena.
          Celina, duas irmãs, um irmão e dois primos, passavam férias em um casarão antigo no centro da cidade de Barbacena, casa dos avós maternos das crianças. Na construção havia um lindo jardim distribuído harmoniosamente em frente á casa; flores variadas de muitos tipos embelezando a moradia antiga. Separado por cerca viva havia um grande quintal com árvores frutíferas. Uma enorme árvore se sobressaia entre as demais, era uma mangueira, que dava muitos frutos saborosos e sem fio. As crianças a chamavam de rainha do quintal, pois comiam as mangas todos os dias. Seus galhos frondosos serviam de cadeira e um deles de suporte para a balança que comandava as brincadeiras.
         O tio Roque, que era solteiro e ainda morava com os pais, colocara uma tábua bem no alto para as crianças sentarem e amarras de corda para segurar e não correr o risco de caírem. Daquele local podiam ver a cidade e a Igreja da “Boa Morte” que ficava bem ao alcance dos olhos. Na verdade era uma mangueira que dava frutos doces como o mel das abelhas e onde as cinco crianças davam asas à sua fértil imaginação.
         Celina e o primo Jairo eram os maiores e mais sonhadores; imaginavam reis, rainhas, fadas, super-heróis e viagens mirabolantes. O tio, muitas vezes, contava histórias fantasiosas dos livros do escritor francês Júlio Verne. Uma delas era: “Cinco semanas em um balão” e outras tantas histórias famosas. As cinco crianças ouviam atentas e depois imaginavam viagens no “Zepelin” e balões encantados. Ficavam de olhos fechados e mãos dadas para gerar energia; fora o tio quem lhes falara sobre a energia das mãos. Passavam horas sentadas sobre a tábua da árvore, embaladas pelo farfalhar das folhas ao sabor do vento. Quando a fome aparecia era só esticar o braço e se fartar com a fruta suculenta. Para descer, o tio fizera uma escada de corda; era fantástico!
         Uma rotina de todos os dias, durante as férias escolares. Eles ficavam brincando no quintal pela manhã e a tarde no alto da mangueira. Imaginavam que eram vigias e olheiros avançados para detectar a aproximação dos piratas. A mangueira era o ponto mais próximo do mar, um posto indispensável para a segurança da população. Lá podiam ver a vizinhança e sentir o vento no rosto. Quando batia o sino da Igreja da Boa Morte anunciando a hora da Ave Maria eles desciam da árvore e seguiam para casa, era hora de entrar, ordens da velha avó.
         Quando o Mané, vizinho da chácara, faleceu, o tio levou as crianças ao velório e fez cada um deles beijar os pés do defunto, dizia que era para não ficar com medo do morto. Foi o maior sacrifício já imposto a eles. Não adiantou nada, pois eles tremiam ao pensar na morte. Um dia Celina propôs aos irmãos e primos irem até a Igreja tirar essa história de morte a limpo. O padre Bento, já bem velhinho, foi atender as crianças.
         –O que queriam saber? Perguntou o velho pároco. O primo Jairo gaguejou, mas Celina o socorreu dizendo:
        - Como sua Igreja pode ser chamada de “Boa Morte”, a morte deve ser muito ruim!             
        Padre Bento com muita paciência explicou às crianças que a morte faz parte da vida e se alguém morre na graça de Deus teve uma boa morte. Não ficaram satisfeitos, mas, aceitaram à explicação e deixaram aquela história de lado. Nunca mais queriam ver defuntos e muito menos beijar-lhes os pés.
         -Que nojo!
 Disse Jairo e todos concordaram.
         Aos domingos iam à missa e depois ficavam brincando de subir e descer às escadas da Igreja. À tarde eles sentavam-se no jardim da praça e ficavam imaginando as viagens mais fantásticas do mundo. O tio Roque apanhava o livro de Júlio Verne “Volta ao mundo em oitenta dias” e incentivava a imaginação das crianças. Na verdade eles adoravam aquele tio desocupado que tinha muitos livros de aventuras; ele já estava aposentado, foi professor no ginásio da cidade.
         O balão estava pronto e seus dirigentes aguardando os passageiros. Celina voltou à realidade seguindo até o balão com os filhos e o marido para realizar aquele sonho de criança. Uma nostalgia se instalou em seu semblante, queria os irmãos e primos naquele balão. As pessoas foram se ajeitando dentro do cesto, uma criança começou a chorar, mas logo se acalmou e a aeronave iniciou a subida lentamente. Todos olhavam ao redor e uma luz forte surgia no horizonte; era o amanhecer no campo. A paz reinava no local e as pessoas embevecidas procuravam uma melhor posição para ver e filmar aquela aventura única.
         O balão sobe com o ar quente do gás propano, que alimenta o fogo do maçarico. Quando acionado faz um barulho característico e forte quebrando o silêncio do passeio. A aeronave voa ao sabor do vento, que deve ser propício, senão a aventura pode se tornar perigosa. Há ausência total da sensação de movimentos, somente a percepção do chão se afastando. Voo raso sobre as copas das árvores e depois sob lentamente a centenas de metros do chão, deixando os passageiros extáticos diante da uma visão panorâmica indescritível. Um voo tranquilo levado pelo vento, onde se pode avistar a sombra do balão, lá embaixo. Os cães latem alvoroçados, as galinhas correm assustadas, pois devem pensar que pode ser um gavião gigante. O gado fica agitado correndo de um lado para o outro enquanto as pessoas acenam dando adeus aos passageiros do balão.
         A vista é maravilhosa e o passeio inesquecível, dura cerca de uma hora no ar cobrindo uma distância de cerca de trinta quilômetros. No final do percurso o baloeiro procura um espaço seguro para descer. Em terra há o apoio da equipe que se comunica através do rádio; é um verdadeiro rali seguir o balão. São estradas de terra esburacadas através dos campos. É permitido que carros particulares de parentes que estão no balão, também sigam a nave.
Escolhido o local do pouso começa a descida lentamente e lá embaixo o grupo de apoio fica esperando o pouso do balão. Quando descem ocorre a festa de comemoração, onde é servido champanhe á todos os participantes e guaraná às crianças.
         Leva meia hora para recolher e dobrar todo o balão, depois a “Van” conduz os passageiros ao Hotel para um delicioso café da manhã. O passeio deixou Celina extasiada e muito grata a seu marido por ter permitido que acontecesse a realização de um sonho de criança. Estava muito feliz e queria contar aos primos o seu passeio deslumbrante. Teria que voltar à Barbacena, aquela cidade era o berço de seus sonhos e rever o tio Roque, agora já bem velhinho, para lhe contar do passeio. O tio Roque ficaria muito feliz.... Um texto de Eva Ibrahim.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

"QUE SEJA LIVRE O QUE CHEGAR. QUE SEJA DOCE O QUE FICAR. E QUE SEJA BREVE O QUE TIVER QUE IR". ---MOZART.---NÃO HÁ LUGAR PARA ONDE CORRER, QUANDO SE DESEJA FICAR... EVA IBRAHIM.


                                  O RATO FININHO.

A primavera chegou trazendo flores, colorindo os jardins e modificando as paisagens; com ela também chegou á temporada das águas. Durante o dia o sol era insuportável e a tarde aparecia um barrado negro no horizonte; em seguida, entre relâmpagos, trovões e ventania era despejada muita água em toda aquela região. Árvores e casas sucumbiam ao poder dos ventos, havia muita destruição deixada pelos temporais. As moradias que permaneciam íntegras tinham suas paredes e muros embolorados com uma camada de musgo verde, por causa da grande umidade.

No final de semana era feita a limpeza geral dos quintais e das casas; rotina das famílias daquela vila. Na casa de Zuleica não era diferente. Ela, o marido, a filha e o genro procuravam manter a casa limpa e protegida de insetos, porque ali moravam os dois filhos do casal e netos de Zuleica. Sérgio, o genro, ficou encarregado de limpar o quintal e o quarto de despejos, que ficava nos fundos da casa. Mexendo em uma caixa de papelão o rapaz viu uma família inteira de ratos. A ratazana mãe com quatro filhotes; quando tirou a caixa os ratos saíram em disparada. A mãe sumiu e os filhotes desapareceram como por encanto. O genro alertou a esposa e a sogra para ficar de olho, porque se algum deles entrasse em casa seria missão impossível encontrá-lo, pois eram ratos fininhos.

No meio da semana o filho de Sérgio, disse que viu um bicho correndo na cozinha. Ele e Arlete, sua esposa, procuraram em todos os lugares possíveis e não encontraram nada, pensaram que poderia ser uma barata e esqueceram o assunto.

 No sábado seguinte, Zuleica levantou-se cedo, fez café e sentou-se na cadeira para sorvê-lo. Ouviu um barulhinho e instintivamente olhou para cima e viu o indivíduo sobre o armário, era ele o rato “Fininho”. Ela o batizou assim porque o genro havia dito que eram fininhos e um deles estava ali. A mulher arrepiou e ficou enojada só de pensar por onde aquela criatura teria andado em sua cozinha. Chamou a filha e o genro e impôs um ultimato:
 - Fininho deveria ser morto o mais rápido possível.
Com o barulho o rato correu para o quarto do casal.

 Zuleica pegou a vassoura e ficou de prontidão, por ali ele não passava. A filha pegou outra vassoura e o Sérgio armou-se com um pedaço de pau. As crianças ficaram encolhidas em suas camas, no outro quarto, tinham medo de Fininho. A caçada começou; Sérgio puxou o guarda roupas e o rato estava lá no cantinho. O homem, com seus um metro e oitenta, nada tinha de ágil, por isso seria muito difícil ele apanhar o ratinho. Quando Fininho aparecia as duas mulheres gritavam com as vassouras nas mãos e o rato corria. O marido ficava bravo; a cena se repetiu por diversas vezes, até que o camundongo entrou embaixo da geladeira.

Mãe e filha ficaram cercando as portas para ele não sair. Quando o rapaz puxou a geladeira, as mulheres gritaram em coro, “dez a zero para o rato”. Enquanto ele corria para a sala, os três se entreolharam e uma pergunta ficou no ar:
-“Como iriam pegá-lo”?
 As duas mulheres estavam assustadas e tremendo de medo de Fininho, pois sempre ouviram falar que são portadores de doenças. Zuleica pensou no marido que estava trabalhando, ele fora criado no sítio e era “especialista” em exterminar camundongos. Arlete tratou de chamar o pai para salvá-las de tão grave ameaça. O pai de Arlete chegou rapidamente; ele iria acabar com o rato Fininho; todos concordaram. Foram á luta. As mulheres com as vassouras ficaram na passagem da porta para impedir que o camundongo saísse e os homens com paus para matá-lo. Fininho era rápido e esperto o que faltava ás pessoas ali presentes. Sérgio puxou a estante e o ratinho saiu correndo antes de tomar a paulada desferida pelo avô. Foi tão rápido que as mulheres mal viram quando ele ganhou a porta da rua.

Respiraram aliviados, pelo menos não sujaram o tapete com sangue de camundongo. Mas, assim mesmo lavaram toda a casa para eliminar qualquer vestígio daquela criatura tão repelente. Ainda assustadas, as crianças puderam sair da cama. Quanto ao camundongo deve estar correndo até agora.
-“Pudera!” O susto foi muito grande! Disse Zuleica sorrindo.
-Fininho escapou por um triz e deve ter ficado com trauma de vassouras, completou Arlete aliviada. Um texto de Eva Ibrahim.

terça-feira, 2 de abril de 2013

"A ARQUITETURA DA MINHA ALMA É BARROCA. SOU FRACO, SOU FORTE, SOU LUZ, SOU SOMBRA. SOU DE AÇO, SOU DE FLORES" ---AUTOR DESCONHECIDO----O VENTO QUE PASSOU POR AQUI ME ENSINOU A VOAR.---EVA IBRAHIM


                                       O HOMEM DAS CHUPETAS.

A menina estava sentada no degrau do portão que dava para a calçada da rua, esperando seu pai chegar. De repente, levantou-se correndo e foi chamar sua mãe. Agarrou-se à saia da mãe e chorando dizia que o homem das chupetas estava lá fora. Alice tratou de acalmar sua filha de cinco anos, que soluçava sem parar. Bruna, a menina, tinha muito medo do homem das chupetas. Quando ele surgia no início da rua, todas as crianças corriam para esconder-se.
Tudo começou quando apareceu na pequena cidade, um mendigo cheio de colares coloridos. Os antigos sempre assustaram as crianças com ameaças de serem levadas pelos homens dos sacos, mas, em Visconde de Borá era o homem das chupetas quem assustava as crianças.
 O mendigo, de alcunha Degão, trazia no pescoço, pendurados, diversos colares com chupetas de crianças, que eram amarradas com barbante. Quando ele andava com o saco de objetos pessoais nas costas, os colares balançavam e faziam um barulho estranho. Parecia um guizo de cobra coral, o que tornava o maltrapilho mais assustador.
 As mães aproveitavam a figura aterrorizante para fazer medo às crianças e contê-las dentro de casa. Naquele bairro pobre da periferia a maioria das pessoas vivia com dificuldades, por isso ninguém dava esmolas; Degão mal conseguia o que comer. Porém, ele sempre trazia chupetas novas penduradas no pescoço. O homem andava por ali já fazia algum tempo e uma pergunta passou a ser feita pela população local.
-Se o mendigo não trabalhava, como ele conseguia dinheiro para comprar chupetas?
 A verdade é que cada vez que ele aparecia trazia novos colares com mais chupetas. Eram tantas que pareciam colares para o baile Havaiano. Degão tornou-se o terror das crianças, que não saiam do portão para fora, desacompanhadas. Os pequenos, que chupavam chupetas, deixavam- nas escondidas embaixo do travesseiro e só a pegavam à noite, na hora de dormir.
Um dia o mendigo apareceu no bar e pediu um trago para uma turma de amigos, que tomavam cachaça antes do jantar, para abrir o apetite, diziam. Degão tomou a cachaça e saiu apressado, quando um dos amigos propôs segui-lo para ver aonde ele conseguia as chupetas. Zeca, o mecânico e Aldo, o pedreiro, resolveram segui-lo. O homem andava rápido pelas ruas escuras e descampadas. Os dois amigos se entreolharam temerosos, estavam indo para o cemitério.
Degão pulou o muro e entrou no cemitério, desaparecendo na escuridão. Os dois amigos resolveram voltar, pois, ficaram com medo de segui-lo.
No dia seguinte voltariam para assuntar com o coveiro se o mendigo dormia no cemitério. A curiosidade aumentou quando voltaram e contaram aos outros amigos para onde o homem tinha ido. Os cinco amigos fizeram uma aposta para descobrir de onde vinham as chupetas; quem ganhasse levava uma caixa de cervejas para casa.
Zeca e Aldo já planejavam um churrasco com a cerveja que iriam ganhar dos amigos. Na hora do almoço os dois homens foram ao cemitério e encontraram o coveiro descansando na sombra de algumas árvores das alamedas entre os túmulos. Enquanto os homens conversavam chegou um casal com uma criança e adentraram ao cemitério. Zeca perguntou ao coveiro aonde o casal iria e ouviram uma história surpreendente.
O coveiro explicou que havia um túmulo onde estava enterrado um menino que morreu depois de ser picado por uma cobra venenosa e sua mãe, muito triste, colocou a chupeta do menino dentro do caixão, pois era a coisa que ele mais gostava. Alguns anos se passaram e surgiram boatos de que o menino fazia milagres; havia sempre muitas flores em seu túmulo.
E a crendice popular dizia que se as crianças dessem a chupeta para ele, nunca mais voltariam a gostar de chupetas. As mulheres da região vinham com seus filhos e deixavam as chupetas ali. No dia seguinte as chupetas desapareciam e todos pensavam que o menino viera buscar, disse o coveiro com olhar assustado.
Os dois amigos desconfiaram de quem roubava as chupetas, mas combinaram com o coveiro para dar um flagrante no ladrão. À noite eles ficariam escondidos para ver quem entrava ali. Com lanternas e máquinas fotográficas eles esperaram o meliante.
O ladrão apareceu e sob as luzes das lanternas começou a chorar.
Degão soluçava e dizia que pegava as chupetas porque quando era criança seu pai não permitira que lhe dessem chupetas e agora ele dormia com uma delas na boca. Ele adorava chupetas.
 O coveiro e os dois amigos se entreolharam surpresos, o mendigo parecia ter um retardo mental; era digno de compaixão.
Os dois amigos fizeram um pacto com o coveiro para manter aquela história em segredo, afinal as chupetas não pertenciam a ninguém e Degão era um pobre homem. Era melhor deixar essa história de lado, milagres eram coisas de Deus e eles não queriam se comprometer. A cerveja ficaria para outra ocasião. Um texto de Eva Ibrahim.

sábado, 23 de março de 2013

"A NOITE ACENDEU AS ESTRELAS, PORQUE TINHA MEDO DA PRÓPRIA ESCURIDÃO".---MÁRIO QUINTANA---"NO FUNDO É SIMPLES SER FELIZ; DIFÍCIL É SER TÃO SIMPLES".---LEONI.


                                                  O PERNALONGA.
Era uma cidade pequena localizada no planalto paulista; lugar onde a indústria têxtil empregava a maioria da mão de obra da região. As indústrias de tecidos seguia a tradição deixada pelos seus fundadores. As confecções estavam por toda parte; havia muitas lojas de roupas de crianças. A variedade era grande e pessoas de outras cidades vinham para comprar no atacado e revender.
O automóvel descia a rua principal e no volante um senhor de meia idade conversava com sua filha Laura, que estava sentada no banco do carona. Era um bom carro aquele, um Honda, corria muito e Pepe, o pai, estava contente, pois realizara seu sonho. Por isso os dois saíram da cidade vizinha para fazer compras para a loja de roupas infantis, da outra filha, a Sonia, que fora inaugurada recentemente.
Na verdade o homem queria testar o automóvel novo; estava feliz. Pai e filha ficaram satisfeitos com as compras de roupas infantis, realmente aquela fábrica, onde compraram, vendia com preço bom e vantajoso. O pai propôs parar em uma lanchonete para comerem alguma coisa, estava com fome e Laura concordou. Pepe, olhando para os lados à procura do local ideal para estacionar, viu correndo na calçada um rapaz com uma sacola na mão. Atrás dele uma porção de gente gritando – pega-ladrão – pega-ladrão.
 O homem tinha pernas longas e corria rapidamente; olhava para trás e ria com jeito abobalhado. Ninguém o alcançava, ele corria como se estivesse em uma maratona, chacoalhando a sacolinha que levava na mão. Pepe assustado parou o automóvel para ver o que estava acontecendo e de repente um policial armado de metralhadora abriu a porta de trás do carro e mandou o motorista seguir o meliante. Laura gritou assustada e seu pai disse que não poderia perseguir o rapaz, pois, aquela rua, era contra mão. Com a arma em punho o policial dizia ser autoridade e ele deveria obedecer.
Pepe, com olhos arregalados, mal conseguia dirigir tamanho era seu nervosismo; não queria estragar seu carro novo. Laura olhou para o policial com a arma apontada para os transeuntes e perguntou o que o rapaz que corria havia roubado.
-Deveria ser alguma coisa de muito valor, quem sabe alguma joalheria? Ponderou a moça.
-O que havia na sacola que o rapaz carregava? Perguntou Pepe, assustado.
Para surpresa dos dois, o policial disse que o assalto fora na padaria e ele roubara alguns pães. O motorista ficou pasmo, todo aquele movimento de pessoas e até metralhadora para pegar um ladrão de pães?
- Por acaso ali seria o “Velho Oeste” americano, na versão brasileira?
Naquele momento apareceram duas viaturas para dar apoio ao policial, que felizmente desceu do automóvel de Pepe. O Pernalonga finalmente foi rendido pela força policial. Deitado no chão e algemado ele sorria o tempo todo; era visível que tinha algum problema mental. Desapontado os policiais abriram a sacola e de lá caíram três pãezinhos do tipo francês e algumas moedas. Quando a família apareceu explicou que o dinheiro era para pagar os pães. O rapaz não era ladrão, apenas tinha um retardo mental, mas, fazia compras normalmente.
Ele pegou os pães e todos ficaram olhando para ele. Com certeza pensaram que ele não iria pagar e o rapaz assustado saiu correndo, promovendo uma verdadeira caçada. Tudo fora esclarecido e os pães foram pagos. O suposto ladrão de um metro e noventa, seguiu para a delegacia com os policiais e familiares.
Os policiais desconcertados pediram desculpas ao Pepe, que nada tinha a ver com a ocorrência. O homem e sua filha trataram de ir embora daquele lugar onde o roubo de pães era atendido com metralhadora. Por pouco seu carro novo não virou peneira; estavam na linha de fogo....,
-Ufa! Que horror.  Um texto de Eva Ibrahim.

sexta-feira, 15 de março de 2013

"UM DIA, QUANDO OLHARES PARA TRÁS, VERÁS QUE OS DIAS MAIS BELOS FORAM AQUELES EM QUE TIVESTES QUE LUTAR"... SIGMUND FREUD---POR ISSO SE QUISER SE LEMBRAR COM SAUDADES DO DIA DE HOJE, VÁ A LUTA! --- EVA IBRAHIM


                                   UMA CABEÇA FALANTE.
         Cecília parou o automóvel em frente ao portão e acionou o controle remoto, pedindo a Deus para que seu marido estivesse dormindo. Se ele percebesse que ela estava chegando tarde, não haveria desculpa que o convencesse a ouvi-la. Seria cobrada, ofendida e teria que ficar calada mais uma vez; era sempre assim, até ele se sentir satisfeito e parar de atormentá-la. Cecília entrou na garagem e desligou o automóvel. Em silêncio fechou a porta e acionou o alarme, seguia em frente com a certeza de que Arnaldo ainda estaria acordado.
         A mulher adentrou a sala e percebeu que havia uma quietude estranha, nenhum som, apenas os passos dela no chão de madeira podiam ser ouvidos no ambiente escuro. Acendeu a luz do abajur para poder tomar ciência do que havia ali e ficou surpresa ao ver sua filha dormindo no sofá. A mulher ansiosa seguiu para o quarto. O marido estava na cama dormindo e nem se mexeu quando ela entrou. Cecília respirou aliviada, iria se enfiar na cama e dormir rapidamente.
         Mais uma vez o sono não vinha, estava agitada demais para dormir e muito perturbada com os últimos acontecimentos. Foi uma tarde de muita emoção e seus olhos estavam inchados de tanto chorar. Retornara do enterro de seu pai, que havia falecido depois de um longo período de internação no Hospital. Ele morreu de um câncer de fígado, estava na fila do transplante, mas a morte o levou antes de chegar a sua vez. Cecília foi visita-lo algumas vezes e sempre quando chegava, seu marido a ofendia dizendo que ela fora atrás de homens para namorar. Ainda bem que sua filha conseguira fazer o pai dormir antes que ela chegasse, porque não iria suportar mais uma cena daquelas; estava muito triste. Fazia tempo que Cecília não ria pra valer, sua vida tornara-se um tormento, desde que seu marido adoecera.
        Quando Arnaldo e Cecília casaram-se tinham a certeza de uma vida feliz, pois havia muito amor entre eles. O casal tinha uma boa casa e um sítio de 20 alqueires de onde tiravam o sustento da família. Plantavam cana de açúcar, criavam porcos, galinhas, patos e também algumas vacas leiteiras. O caseiro fazia horta e cuidava do sítio; havia fartura no local. Logo vieram os filhos, um casal; Cássio e Luiza e os quatro viviam felizes, uma família perfeita.
        No aniversário de dez anos de Cássio a família toda se reuniu em um grande churrasco; o clima era de festa.  Já estava escuro quando todos os convidados saíram e Arnaldo sentou-se em uma cadeira, parecia desolado. Cecília perguntou se ele estava passando mal e ele disse que estava sentindo muito cansaço e parecia que suas pernas não obedeciam a sua vontade. A mulher o aconselhou a ir deitar-se logo, pois aquilo poderia ser cansaço natural, ele trabalhara bastante nos preparativos da festa. No dia seguinte, domingo de manhã, o homem levantou-se cedo e andava arrastando as pernas; elas pareciam pesadas demais. O dia foi passando e nada de Arnaldo sentir melhoras, pelo contrário, ele começou a sentir formigamento nas pernas.
        Cecília apreensiva prometeu acompanha-lo ao médico na segunda feira. O médico pediu uma porção de exames para depois fazer uma avaliação rigorosa da fraqueza e dormência nas pernas de Arnaldo. Durante a semana foram a diversos locais para exames diferentes e cada vez o homem reclamava mais de dores nas pernas. A situação estava se agravando, ele passava a maior parte do tempo deitado na cama ou no sofá. Finalmente depois de quinze dias e uma junta médica veio o diagnostico: esclerose múltipla.
        A partir dessa data a vida naquela casa mudou completamente. Cecília e Arnaldo passaram a fazer uma busca incessante da cura da doença. No início os sintomas são transitórios e Arnaldo conseguiu ficar bem durante o primeiro mês, após o diagnóstico. Estavam animados e cheios de planos, mas durante uma caminhada no sítio, o homem perdeu as forças das pernas e ficou sentado no chão. Foi levado para a casa do sítio carregado pelo caseiro. Cecília foi busca-lo e o médico achou melhor interna-lo para novos exames. Depois de alguns dias, Arnaldo melhorou e voltou para casa mais animado; parecia estar bem; as dores diminuíram.
        O médico havia explicado à Cecília que os sintomas da doença no início, vão e voltam independente do tratamento. As manifestações da doença são remitente-recorrente e às vezes demora meses ou até anos para nova manifestação. Porém, a situação de Arnaldo não era das mais fáceis, os sintomas eram característicos e bastante graves. O homem sentia fraqueza nas pernas, visão turva e descontrole urinário. Ele foi novamente internado e quando recebeu alta parecia que a doença estava controlada, disse o médico. O casal ficara esperanço, porém, foi pura ilusão.
        Durante um ano inteiro e muitas idas e vindas aos Hospitais Arnaldo percebeu que estava se tornando um inválido; mal conseguia parar em pé, tamanho era o formigamento que sentia nas pernas fracas e bambas. Os três primeiros anos se passaram com crises de média duração, mas no quarto ano, Arnaldo não conseguia levantar as pernas, até que passou a se locomover em uma cadeira de rodas; Cecília estava desolada e fazia tudo para aliviar o sofrimento do marido, tomando conta dos negócios e dando assistência às suas necessidades. Os filhos exigiam atenção da mãe que a essa altura da vida perdera as ilusões, seu marido tinha um péssimo prognóstico e ela teria que ser forte.
         Aos poucos ele foi ficando paralisado, permanecia muito tempo na cama, sua coluna estava comprometida; não andava mais na cadeira de rodas. Os anos foram passando, as crianças crescendo e Cecília lutava com os negócios e cuidava do marido que já não tinha nenhum movimento do pescoço para baixo; seu marido ficara tetraplégico. Arnaldo, aquele moço bonito com quem, um dia, ela se casara, agora era apenas uma cabeça falante. Com lágrimas nos olhos ela virou-se para dormir, nada mais poderia fazer; o relógio marcava meia-noite. Um texto de Eva Ibrahim.

domingo, 10 de março de 2013

BÓRIS, O DESAJEITADO. ---"SAIBA VALORIZAR QUEM TE AMA. ESTES SIM, MERECEM O SEU RESPEITO. QUANTO AO RESTO, BOM, NINGUÉM NUNCA PRECISOU DE RESTOS PARA SER FELIZ". CLARICE LISPECTOR.


O CÃO E O VAGABUNDO.
           O burburinho na Rodoviária era grande, as pessoas apressadas puxavam malas e carregavam bolsas pesadas; até crianças levavam mochilas nas costas. A correria era intensa, pois o feriado fez com que o fim de semana ficasse mais longo e todos queriam viajar. O ônibus que iria para a capital estava atrasado e se formara um aglomerado de gente inquieta. Muita conversa e reclamações faziam a fila serpentear para os lados perdendo sua forma original.           
           Ninguém viu de onde surgiu um homem visivelmente bêbado, cambaleava e falava coisas sem sentido. Ele começou a incomodar as pessoas que estavam na fila pedindo dinheiro e cigarros. As pessoas ansiosas ficavam de costas, outros disfarçavam para fugir daquela conversa inoportuna. Cada pessoa estava focada em embarcar o mais rápido possível e fugir daquela aglomeração.
           De repente apareceu um cachorro Rottweiler preto, velho e manso; seus cotovelos estavam gastos e seu corpanzil parecia flácido, isto é, magro. Ele chegou rápido e foi lamber a mão daquele homem, que mais parecia um farrapo humano. O bêbado  olhou para ele e ordenou com o dedo indicador em riste, que ficasse sentado ali, naquele lugar. O cão, que deveria pertencer ao molambo, ergueu as patas para que ele as segurasse, mas, ele ignorou a atitude do cão e reforçou a ordem dada em tom exacerbado.
             Extático, o cachorro permaneceu sentado, somente as orelhas estavam alertas esperando uma contra ordem para sair dali. O vagabundo andava e olhava para trás para ter certeza que o cão obedecera a sua ordem. O homem parou para conversar com outro bêbado e o rottweiler permanecia no mesmo lugar. As pessoas que estavam alvoroçadas pararam para observar a cena, era incrível como o cachorro obedecia á ordem de seu dono. Não havia outra explicação para uma atitude tão servil e aquele bêbado com certeza não tinha comida para alimentar um cachorro daquele tamanho.
            Durante dez minutos o rottweiler permaneceu sentado no chão sem tirar os olhos do dono, que agora conversava com outra pessoa. A atenção das pessoas foi concentrada na situação inédita em que o poder do vagabundo sobre o cachorro era de se admirar. De repente o homem foi andando e o cachorro erguia as orelhas quase pedindo socorro, mas, em sua completa fidelidade ele não saiu do lugar. Quando o bêbado lembrou-se do cão, já estava á cinquenta metros de distância e ai ele assoviou e o cachorro mais feliz do mundo saiu correndo para lamber a mão do homem, que cheirava á álcool. Ali estava a prova de que o cão é o maior amigo do homem, seja ele quem for. O amor incondicional pelo seu dono e a obediência total.
Os dois, o cão e o vagabundo, deixaram a Rodoviária e seguiram seu caminho diante dos olhares espantados das pessoas. Um texto de Eva Ibrahim.

sábado, 2 de março de 2013

"É MUITO FÁCIL SER PEDRA, O DIFÍCIL É SER VIDRAÇA".--- PROVÉRBIO CHINÊS.---DURMA COM IDÉIAS E ACORDE COM ATITUDES. EVA IBRAHIM.


                           HOMEM DE ALUGUEL.
          Era verão e o calor abafado deixava as pessoas mais lentas e nervosas; quase todas as tardes caia uma chuva torrencial, que alagava as principais ruas da cidade. Durante aquela semana a chuva comparecera todos os dias. As paredes já mostravam sinais verdes de bolor; a umidade estava por toda parte.
         Sara acordou cedo, estava preocupada, não sabia o que fazer para acabar com um vazamento de água que a estava atormentando há dias. A água vertia da parede e escorria pelo chão, era um vazamento no registro do lado de fora da cozinha. Olhou e entrou desolada, que falta fazia um homem prendado, isto é, aquele que quebra todos os galhos de uma residência; conserta chuveiro, ferro de passar roupas, troca lâmpadas, faz pequenos consertos em fechaduras, pinta paredes e limpa o quintal, sem chiar. Animal em extinção nos dias de hoje.
        Ela se apoiou na pia da cozinha e fitando o dedão do pé sentiu pena de si mesma; não tivera sorte. Seu marido nunca foi chegado em fazer consertos, não gostava de sujar as unhas, se julgava chique para tais afazeres. Agora que estava separada tinha que resolver tudo sozinha; a filha casada morava com ela, mas o marido, um rapaz jovem e sem nenhuma habilidade, era carta fora do baralho; podia piorar ainda mais a situação do vazamento.
        Não conhecia ninguém que consertasse encanamentos obsoletos, tinha que pensar...
Uma frase não saia de sua cabeça: “você não é quadrada, se vira”, dizia sua mãe, quando Sara era criança. Agora ia se virar como soubesse ou pudesse. 
Decidida, pegou uma lista telefônica e sentou-se no sofá, tinha que achar uma solução urgente.
         Folheando a lista deparou com uma loja de materiais de construção e pensou que era ali que estava á solução, discou o número e aguardou para ser atendida. Uma voz feminina do outro lado perguntou o que ela desejava e Sara disse:
         - Preciso de um homem de aluguel. A moça horrorizada disse um palavrão e desligou. A mulher ficou atônita. Onde foi que errou? Sara estava assustada, mas não iria desistir, teria que tentar novamente, talvez a moça da loja tenha interpretado errado o que ela disse. Não queria um homem para programas escusos, mas para consertos de encanamentos.
         Procurou outra loja de materiais de construção e ligou, agora seria  mais explicita, precisava dar certo.
Foi um rapaz que a atendeu e ela explicou o problema dizendo que precisava de um encanador; O homem se mostrou compreensivo e lhe deu um número de telefone para ela ligar e tentar contratar o serviço.
Finalmente o encanador fêz o trabalho e por um serviço de duas horas levou uma grana preta, mas acabou com o vazamento.
         -Que alívio! Estava satisfeita, resolvera o problema.
        Depois de alguns dias ao acender a luz da cozinha percebeu que estava queimada, era uma luz de mercúrio;
       - E agora? - O que fazer?
Sara precisava de outro homem de aluguel, um eletricista, mas já era tarde; deixaria para o dia seguinte.
        Foi dormir com aquele pensamento, ligaria para uma loja de ferragens, daria certo novamente.
A tensão era grande e ela sonhou que em frente á sua casa havia um enorme cartaz com letras pintadas em vermelho:

       ”PRECISA-SE DE UM HOMEM DE ALUGUEL”.

        No portão, vestidos com uma sunga preta, estavam cinco homens musculosos se oferecendo para o serviço; a mulher corou e entrou rapidamente, fechando a porta.
        - O que a vizinhança pensaria dela? Que horror! Era honesta e não gostava de desfrutes, porque aquela situação estava acontecendo? Será que a moça da loja havia mandado aqueles homens ali?
Sara começou a suar em bicas, se via nua em frente á filha, o genro e os netos; queria morrer. Não suportaria tamanha afronta.
De repente uma campainha soou e ela acordou, era o despertador; Surpresa e aliviada ela percebeu que estava sonhando. Levantou-se rapidamente e respirou profundamente, não fora exposta a maledicência pública.
        Sara jurou para si mesma, que nunca mais diria que precisava de um “Homem de aluguel” e sim de um eletricista, encanador, pedreiro e outros. A mulher havia compreendido o poder da palavra. 
        Um texto de Eva Ibrahim

domingo, 24 de fevereiro de 2013

MARINA VESTIDA DE NOIVA NA FESTA JUNINA DA ESCOLA.--- "DESEJO A VOCÊS: (...) NAMORO NO PORTÃO. DOMINGO SEM CHUVA. SEGUNDA SEM MAU HUMOR. SÁBADO COM SEU AMOR (...)" CARLOS DRUMOND DE ANDRADE.


                                                           É PRA CASAR.
         Estava sentada na rodoviária aguardando o embarque para minha viagem anual de férias, quando duas jovens se aproximaram e na despedida se beijaram no rosto; um de cada lado. Porém, a mais velha puxou a amiga dizendo que faltava um.
       - Tem que ser três beijinhos, é pra casar.
         A moça partiu e eu fiquei pensando que no século vinte e um ainda há pessoas preocupadas em seguir rituais que as levem ao altar. O matrimonio, instituição tão desacreditada, que facilmente se desfaz, ainda povoa a mente da maioria das mulheres. São jovens, viúvas, separadas e homens também; todos são sensíveis ao acasalamento de papel passado.
        Como podemos acreditar que os sonhos acabaram se os presenciamos todos os dias. Somos seres humanos bastante desenvolvidos e práticos, mas na verdade somos seres espirituais, tão vulneráveis quanto os nossos antepassados. Podemos constatar esse fato nas telenovelas, nos livros, na delegacia e dentro de nossas famílias, pois todos nós conhecemos alguém muito apaixonado. Aquele parente com cara de bobo, que é capaz de matar por amor.
        Outro dia eu ia para o trabalho de carona com uma colega e conversávamos futilidades, isto é, "papo cabeça". Eu estava lhe contando o assunto de uma palestra que havia assistido em um seminário de autoajuda. O palestrante dizia que a nossa mente é poderosa e tudo que quisermos conquistar deve partir do nosso íntimo. Podemos concretizar nossas metas com afirmações positivas e até fotos para ficarmos receptivos aos nossos desejos.
         A minha amiga está á procura de uma casa para comprar e eu sugeri que pregasse uma foto de uma casa na porta da geladeira, para ver se dá certo. Com um sorriso maroto ela me perguntou se poderia colocar uma foto de um par de alianças perto da casa. Surpresa, eu disse que para uma mulher que havia acabado de sair de um casamento tumultuado ela estava bastante animada. Sugeri, então, que colocasse também os noivinhos e se possível uma foto do bolo.
         Rimos bastante, o que alegrou o nosso dia; fizemos algumas considerações sobre a falta de bons partidos para trocar alianças, mas, concluímos que um ombro para colocar nossas cabeças é indispensável. O aconchego é calmante e protetor.
         O fato é que a carência afetiva está nas ruas, jornais, revistas, agências de casamento e até nas rádios. As pessoas querem consultar o tarô, horóscopos, videntes e todo tipo de previsões que a mídia oferece. É uma fábrica para alimentar os sonhos das pessoas, que se iludem propositalmente para escapar da solidão.
         Passei a observar o modo de cumprimentar das pessoas e me surpreendi com a quantidade de beijinhos distribuídos em nome de um futuro casamento.
Todos querem companhia, decididamente não nascemos para viver sós; até os mais velhos, com experiências anteriores desastrosas, querem tentar novamente. Vale tudo para desencalhar. Apelar para Santo Antônio com promessas, praticar rituais obsoletos e três beijinhos, que os antigos garantem ser infalíveis.
         Abri o jornal semanal para dar uma olhada e fiquei surpresa com a notícia do casamento de uma solteirona da vizinhança. A moça, tida como virgem e adepta dos beijinhos, conseguira se casar. O comentário foi geral:
        - Se a Lucinda conseguiu casar, qualquer uma casa, é só seguir o ritual.
Com essa história eu quero dizer para todas as mulheres que estiverem sós, que ainda resta uma esperança; não custa nada, é só tentar. A partir de hoje só devem aceitar cumprimentos acompanhados de três beijinhos, porque é pra casar.
        Um texto de Eva Ibrahim.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

GUILHERME E MARINA NO DIA DA FORMATURA DELE------"A EDUCAÇÃO É MAIS QUE UMA ARMA QUE PODE MUDAR O MUNDO, É UMA BANDEIRA QUE PÕE FIM À IGNORÂNCIA".----- PROF. IVANILSON




                                       DOCE, DOCE MEL!

Em dezembro, no Brasil, o calor é uma constante, pois acontece o final da primavera e o início do verão. As festas são muitas, além do Natal e da passagem do ano há as comemorações escolares; formaturas das escolas infantis e de primeiro grau.
Na segunda quinzena os professores já finalizaram seus trabalhos e preparam os alunos para danças e teatrinhos apresentados em uma grande festa com a presença de familiares dos alunos. Os pátios das escolas são enfeitados e os professores apresentam suas considerações sobre o ano letivo e em seguida ocorre a entrega dos certificados de conclusão de curso, aos alunos promovidos.
São apresentados os bons momentos vivenciados na escola durante o ano letivo em slides com registros dos eventos mais importantes. É valorizado todo o trabalho dos profissionais envolvidos com o bom andamento escolar. Os alunos homenageiam os professores e a direção da escola. Aqueles que se destacaram nos estudos apresentam poesias e textos alusivos à data.
Olivia era a mãe de um dos formandos do primeiro grau e queria apresentar-se muito bonita na festa. Seu filho Eduardo foi um bom aluno e ela queria prestigiá-lo, pois estava muito orgulhosa.
Levantou-se cedo e concluiu seus afazeres para poder ir ao salão de beleza. A mulher queria fazer depilações e arrumar os cabelos para combinar com o vestido novo, que ganhara do marido. Passou a tarde se preparando no salão de beleza e quando chegou a sua casa não teve tempo para tomar banho. Vestiu-se rapidamente, pois seu marido a aguardava ansioso; estava na hora da apresentação que seu filho iria participar.
Quando o casal chegou à escola ficou em pé junto ao gramado, pois os melhores lugares já estavam ocupados. O teatro estava começando e seu filho fazia o papel  principal na peça apresentada. Olivia ficou na ponta dos pés para poder enxergar melhor. De repente a mulher começou a sentir alguma coisa subindo pelas suas pernas. Assustada deu um passo atrás e olhou no chão. Ficou surpresa, pois estava em cima de um formigueiro, que se formara após as chuvas. Todos olharam e suas pernas estavam cheias de formigas mordedoras. A mulher desesperada saiu à procura de uma torneira de água, para lavar as pernas e se livrar das formigas. O marido assustado ficou sem palavras e tratou de acompanhar Olivia.
As pernas da mulher estavam vermelhas e cheias de picadas, que ardiam muito. Teria que procurar o Pronto Socorro para tomar um antialérgico. Deixou uma amiga responsável pelo seu filho e foi ao PS acompanhada do marido. O médico estranhou o fato das formigas atacarem suas pernas daquela maneira e perguntou se ela havia passado alguma coisa nas pernas. Olivia pensou e lembrou-se que a cera de depilação que a depiladora do salão de beleza usara era feita a base de mel. A mulher chorosa dizia que não teve tempo de tomar banho por isso as formigas a atacaram.
O médico sorriu e observou:
- As formigas adoram doces e suas pernas estavam doces, doce mel!
O marido, encabulado, tratou de entrar no automóvel e aguardar sua mulher....
Um texto de Eva Ibrahim.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

MARINA E JÚLIA PRONTAS PARA OS FESTEJOS CARNAVALESCOS.------ "TANTO RISO! OH! QUANTA ALEGRIA! MAIS DE MIL PALHAÇOS NO SALÃO. ARLEQUIM ESTÁ CHORANDO PELO AMOR DA COLOMBINA, NO MEIO DA MULTIDÃO"..... "MÁSCARA NEGRA"-----ZÉ KETI.


                             CARNAVAL, SEMPRE CARNAVAL.
         Enquanto as crianças faziam fila para receber a maquiagem, Carla desenhava em cada rosto uma figura diferente. Traços coloridos para enfeitar e combinar com a fantasia. Os meninos escolhiam traços que os deixavam parecidos com monstros; Otávio era o Frankenstein, João e Luís dois vampiros. Ainda havia um pirata e um homem aranha. As meninas gostavam de pinturas de animais, principalmente onça e gatos. Saias longas, capas, perucas, chapéus e óculos coloridos compunham os tipos mais esquisitos do grupo de crianças, que iriam brincar o carnaval.
       Adentraram o salão, que estava enfeitado com muitas cores e brilhos, com os olhinhos espertos e um sorriso nos lábios; estavam num mundo de fantasias. Eram crianças de cerca de dez anos e prontos para descobrir o mundo. Otávio, que parecia liderar o grupo começou a explicar aos outros como seria a matinê no salão. Abriram caminho entre os personagens mais estranhos possíveis; era carnaval e cada um se vestia como queria. Era hora de dar asas à imaginação. Os tios, Raul e Sara fizeram questão de acompanhar a turma toda ao baile; queriam a felicidade das crianças.
       A banda começou a tocar uma música atemporal, presente em todos os bailes de carnaval. Uma marchinha muito conhecida: “O abre alas” de Chiquinha Gonzaga. As crianças seguiram o cordão que se formara e saíram na maior festança. A alegria acontecia entre confete, serpentina, passos de dança e muita cantoria.
        Foram horas de euforia, todos suados e com as maquiagens escorridas pelo rosto ouviram os últimos acordes da banda de carnaval. Cansados e felizes seguiram cantarolando pela avenida já com saudades do carnaval. A magia contagiante que aflora no carnaval encanta crianças e adultos, pois é a festa da alegria. Raul e Sara prometeram que no ano que vem tem mais carnaval, sempre carnaval e as crianças sorriram.
        Um texto de Eva Ibrahim.                             



sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

"AS PESSOAS NÃO SE PRECISAM, ELAS SE COMPLETAM... NÃO POR SEREM METADES, MAS POR SEREM INTEIRAS, DISPOSTAS À DIVIDIR OBJETIVOS COMUNS, ALEGRIAS E VIDA". -----MÁRIO QUINTANA------ CARNAVAL 2013.


                                          O CAMINHO DA FELICIDADE.

        Álvaro chegara do trabalho por volta das vinte horas e depois de um banho para tirar a “inhaca” como dizia sua mãe, comeu um sanduíche e ligou a televisão; era sexta-feira de carnaval.
        Estava triste, pois fazia uma semana que discutira com Raissa e não a vira mais. Orgulhoso como era não iria se rebaixar e pedir desculpas, muito pelo contrário ele esperava que ela se retratasse. Ele estava apaixonado e sentiu-se ofendido quando ela disse que iria estudar à noite. Álvaro bateu o pé, não queria que sua namorada saísse todas as noites sem a sua companhia. A discussão aconteceu e ambos sentiam-se donos da razão, não houve acordo e pela primeira vez o rapaz a deixou sem despedir-se. Há quatro meses eles estavam saindo para se conhecer e essa fora a primeira briga do casal.
        Ele queria muito falar com ela, mas se voltasse atrás perderia o respeito por si próprio e além do mais ele não mudara de ideia. Álvaro temia que sua amada conhecesse alguém e o passasse para trás. Raissa argumentou que precisava trabalhar para ajudar seus pais e o jeito seria estudar à noite. Um dilema que envolvia a família da moça e ele poderia perder a razão, por isso estava tão triste.
       O telefone não tocou e o rapaz resolveu sair para arejar a cabeça; havia muita bagunça nas ruas. Ele sentou-se em uma mureta para ver os blocos desfilarem pela avenida. Álvaro estava enfraquecido emocionalmente e sentia-se solitário em meio aquela grande festa. Resolveu andar um pouco para aliviar o peso da amargura que sentia naquele momento. Com as mãos no bolso ele seguia cabisbaixo pensando em seu amor; não poderia viver sem ela.
       O jeito de andar e o modo como sorria eram insubstituíveis, ele amava aquela moça e morreria sem ela; parecia que tudo estava escuro e feio. Não via graça em nada e ainda teria mais quatro dias de carnaval para curtir sozinho.
        Álvaro imaginava Raissa afagando seus cabelos e beijando-o ardentemente; precisava dela. Perdido em seus pensamentos ele não percebeu que havia andado bastante; estava perto da casa do seu amor. Assustado, o rapaz se escondeu atrás de uma árvore para não ser visto; havia música na rua e os blocos de carnaval passavam promovendo uma grande folia.
        –Será que ela estaria assistindo aos festejos? A possibilidade era grande, ninguém iria dormir com aquela algazarra na rua, concluiu o rapaz. Álvaro, muito ansioso, passou a olhar com atenção para todos os lados. Seu coração pulsava rapidamente quando ele viu o objeto de sua paixão, Raissa estava encostada no muro de sua casa conversando com uma amiga.
        O coração do rapaz parecia não caber em seu peito, sua amada estava a cinquenta metros de distância e ele queria abraça-la e beijá-la até matar a saudade, que o estava matando. Ela não sabia que ele estava ali e também parecia triste. Álvaro não se continha, teria que percorrer aquela distância, que para ele representava ser o caminho da felicidade.
        Foi o caminho mais longo que Álvaro já percorreu em toda sua vida e quando Raissa o viu abriu os braços com um belo sorriso. O beijo foi inevitável, ambos se amavam e teriam que resolver suas diferenças para poderem ser felizes. Seguiram abraçados em meio aos foliões; teriam a noite toda para se entender, afinal era noite de carnaval. O amor estava no ar e havia um convite ao prazer e a felicidade.
       Um texto de Eva Ibrahim.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

"ABRAÇAR VAI ALÉM DE UM ENCONTRO DE CORPOS, DE BRAÇOS AO REDOR DE ALGUÉM...É TRANSMITIR CONFIANÇA, DEMONSTRAR CARINHO E TRADUZIR O AMOR". -----AUTOR DESCONHECIDO.


                                                      AH! O AMOR DURADOURO.
O ônibus encostou para alguns passageiros descerem e no solavanco eu acordei. Dormir dentro do ônibus na volta para casa é uma prática que muitas pessoas adquirem depois de algum tempo de trabalho. Principalmente os que se levantam de madrugada para ir trabalhar. Passei as mãos na cabeça para alinhar a juba; pensei nas balconistas da padaria. “O que pensariam de mim toda desgrenhada”. Bem, estava mais ou menos acordada, a sesta fora gloriosa, pois nada vi ou senti durante o trajeto de trinta e cinco quilômetros de estrada. Compraria pães e iria para casa cumprir a rotina de todos os dias.
Quando a porta do ônibus se abriu eu levantei cambaleando e desci seguindo pela praça que me levaria à padaria. Olhando à frente vi um casal, que vinha pelo passeio ao meu encontro. Eu os conhecia de muito tempo, já eram avós e estavam bastante judiados pela vida, para não dizer que formavam um casal “feio”. Ele alto, louro, esguio e mal arrumado, ela, baixa, gorda, cabelos escorridos com muitos fios brancos e mal vestida. Estavam inseridos na paisagem e ninguém prestaria a atenção neles se não fosse à maneira que caminhavam. Quando ela me viu sorriu e deu com a mão, eu respondi com a cabeça e parei para observá-los enquanto seguiam em sentido contrário ao meu.
Ele segurava a mão esquerda dela e a outra deixava postada em sua cintura, andando abraçados em uma posição de proteção masculina.  Parecia que ele havia tirado aquela mulher para dançar e a conduzia à pista de um grande salão. O casal seguia sorrindo em uma sintonia de provocar inveja nas pessoas, ali havia amor. Eu segui pensando em quantas vezes cruzei com esse casal e eles estavam sempre de mãos dadas. Casaram os filhos, ganharam os netos e continuam apaixonados como sempre estiveram. Parece que o cupido os flechou e parou ali mesmo.
O casal tem mais de trinta anos de matrimônio e sempre andando pelas ruas de mãos dadas em passo cadenciado; satisfeitos um com o outro. Seria a tão cantada alma gêmea, a felicidade completa que nada mais almeja senão estar juntos e de mãos dadas, arrulhando como um casal de pombinhos. A beleza não estava nas figuras e nem nas vestimentas, mas estava na postura romântica e amorosa que o casal mantnha. Entrei na padaria com um sentimento de felicidade no coração, porque se eles podem outros também poderão sentir o amor. Ah! O AMOR DURADOURO!
Um texto de Eva Ibrahim.

domingo, 27 de janeiro de 2013

ARARA ALICE, A MASCOTE DA CIDADE DE COSMÓPOLIS. VALEU ALICE, VOCÊ É UMA FOFA. EVA IBRAHIM.



A FESTA DO LEÃO.
“O zoológico de Piracicaba, interior de São Paulo, estava em festa; era aniversário de “Léo”, o leão que mora no zoo desde seu nascimento há vinte anos. Ele e sua companheira Kiara receberam um pernil de vinte quilos de carne para cada um. A festa teve a participação de adultos, crianças e idosos. Um grande bolo de chocolate foi preparado para todos os participantes e foram distribuídas lembrancinhas da festa do leão. O local foi enfeitado com bexigas e cartazes de felicitações ao aniversariante. O leão não entendeu porque bem na hora de sua sesta havia tanta gente gritando, mas aceitou muito bem a carne oferecida. Ele e sua companheira comeram a carne e Léo agradeceu com alguns urros bem fortes”.  Notícia veiculada pela mídia escrita e falada no dia 26 de janeiro de 2013.

Festa na floresta.
A festa do leão comoveu meu coração e o de muita gente também. O zoológico de Piracicaba foi muito feliz em promover essa festa, porque ela significa o resgate dos sonhos infantis, da alegria legítima de um rostinho rindo e gritando parabéns ao leão.
A festa, com certeza, comoveu as crianças do século vinte e um, como o circo comovia as crianças do início do século vinte. As emoções estavam no rosto de todos os participantes, adultos, crianças e idosos.
“Que felicidade participar da festa de vinte anos do leão Léo”, diziam ás pessoas que saiam com seus filhos e netos.
Palmas, gritos e muita alegria compunham o cenário da festa do leão.
Se a expectativa de vida de um leão é de vinte e cinco anos, então ele já está velho e deve ser muito festejado. Naquela festa havia a interação natureza, animais e gente, era a festa da floresta, da certeza que nem tudo está perdido, ainda resta uma esperança para a humanidade.
O coração que bate forte em cada peito tem a mesma emoção que batia no peito de nossos avós. A vida só pode valer a pena se o povo puder viver seus sonhos, rir até a barriga doer, comer bolos de chocolate na festa de um leão. Esse tipo de alegria não tem preço, equivale a um passeio ao mundo encantado.  Para as crianças que participaram da festa de aniversário do leão ficará para sempre a lembrança da alegria pura e saudável de uma festa na floresta.
Parabéns aos funcionários, a prefeitura, a comunidade e a todos os envolvidos.
Ao aniversariante e sua companheira, um abraço virtual e muitos anos de vida.
Um comentário de Eva Ibrahim.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

"AQUELA NUVEM QUE PASSA LÁ EM CIMA, SOU EU.----- AQUELE BARCO QUE VAI MAR AFORA, SOU EU. -----BUSCANDO VOCÊ.----- AQUELA FOLHA QUE VAGA PELAS RUAS, SOU EU.----- BUSCANDO VOCÊ.----- COMO EU QUERIA SER ESSE SOL QUE LHE QUEIMA, -----ESSA ROUPA QUE COBRE O SEU CORPO.----- O VENTO QUE LHE POSSUI E ESSA ÁGUA QUE BANHA VOCÊ. -----SÓ ASSIM EU PODERIA ME APROXIMAR DE VOCÊ SEM PRECISAR CONFESSAR, O QUE EU TENTO ESCONDER E SOFRO E NÃO É DIREITO, QUE VENHO FAZENDO TUDO PRA NINGUÉM SABER".-----LETRA DA MÚSICA: "AQUELA NUVEM" ------ GILLIARD.




                                          MAMÃE TROCA A PILHA.

O avião estava estacionado no pátio das aeronaves aguardando os passageiros para decolar. Dentro do salão de espera havia muita gente ansiosa pela viagem, o burburinho era grande. O painel de voos era o que prendia a atenção de todos. Aguardavam uma viagem doméstica entre Estados vizinhos em véspera de feriado. Famílias com crianças, idosos, estudantes e passageiros assíduos formavam o grupo heterogêneo daquela manhã.
 O ônibus que fazia o transporte interno dos clientes, encostou-se à plataforma de embarque e os passageiros adentraram ao coletivo, acomodando-se; a expectativa era grande. O veiculo, lotado, lentamente se aproximou da aeronave cor de rosa. Em uma empresa cujo nome e cor de suas aeronaves é “Azul,” estranharam ter um avião da cor “Rosa”. Em ordem e com os comprimentos do copiloto e da comissária de bordo, todos se acomodaram em seus respectivos lugares.
Com a segurança e cordialidade peculiar aos comandantes os passageiros ouviram a voz de boas vindas a bordo e a explicação por estarem em um avião da cor rosa. O avião fazia parte da campanha contra o câncer de mama. Uma bela atitude da empresa de aviação, pois levava aquela mensagem pelos céus do país. A luta contra tão terrível doença, que é responsável por muitas mortes e mutilações entre as mulheres, ganhava força. Um leve sorriso apareceu em cada rosto, todos aquiesceram.
O avião rosa percorria lentamente todos os quilômetros da pista antes de alçar voo, porém, quando a maioria das pessoas já estava finalizando suas orações profiláticas contra o medo de alturas, o avião não subiu. Voltou e estacionou no local de onde saíra, em seguida foi desligado pelo comandante. Todos se entreolharam perplexos e, a uma só voz surgiu a pergunta:
 - O que aconteceu?
Em resposta apareceu um Senhor alegre e brincalhão, o comandante, para acalmar os ânimos que pareciam exaltados. Sorrindo dizia que havia chamado o “pediatra” para consultar o avião que apresentara uma pane elétrica. Ele sabia como abordar e acalmar pessoas inquietas, era um cavalheiro. Uma senhora, mais exaltada, dizia que deviam trocar a aeronave e não consertá-la, pois havia outra aeronave parada a uns cinquenta metros de distância do avião com defeito. Era só andar até lá e pronto, enfatizava a mulher apreensiva.
Tranquilo, o homem dizia que o melhor lugar para consertar um avião era em terra e não no ar. Deviam agradecer a Deus por não estar no ar. O comandante explicou que havia todo um procedimento de segurança para trocar de avião; os passageiros teriam que permanecer dentro da aeronave até segunda ordem. Longos minutos se passaram e o calor e a diminuição do oxigênio começava a incomodar, havia crianças e idosos a bordo.
O silêncio se instalou no local, a situação era inédita e nada podia ser feito, a não ser esperar. Quando um garotinho de nome Lucas, de cerca de três anos de idade, ficou em pé no assento do banco em que estava sentado e disse: “Mamãe troca a pilha dele, precisamos voar para encontrar a vovó”. Os passageiros riram, o diagnóstico estava correto, realmente sua pilha estava estragada e o “pediatra” não conseguiu arrumá-la.
Depois que a decisão de mudar de avião foi tomada pelos seus dirigentes, demorou mais de trinta minutos para que os passageiros pudessem seguir em fila e entre cordões de segurança, até o outro avião, o “Azul”. A demora ocorreu porque tiveram que abastecer o avião e transferir toda a bagagem para a outra aeronave.
Finalmente o avião seguiu seu itinerário deixando a mensagem da luta contra o câncer de mama para a próxima viagem, quando sua pilha fosse trocada. Chegando ao seu destino o garotinho foi recebido por sua avó, que seguiu feliz com seu neto no colo.
Um texto de Eva Ibrahim.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

"NÃO IMPORTA O TEMPO QUE LEVAMOS PARA CATIVAR O CORAÇÃO DE ALGUÉM. O IMPORTANTE É MARCAR NOSSO LUGAR PARA QUE MESMO AUSENTES, NOS FAÇAMOS PRESENTES".--- JÚ RIBEIRO.


          UM POUCO DE MAGIA ENFEITA A VIDA.

        Estamos vivendo um início de século onde os valores morais e éticos da sociedade se perderam pelo novo caminho trilhado pela humanidade. Nas últimas cinco décadas as estruturas familiares ruíram e os sentimentos mais nobres ficaram esquecidos no cotidiano das pessoas. As conquistas materiais, o consumismo exagerado e a mudança do foco familiar para o foco individual, tornou o ser humano mais egoísta. Um caminho árduo onde as mulheres ganharam espaço e deixaram de ser "do lar" para lutar pela sobrevivência; tudo em nome da tal ”liberdade”. A tecnologia encurtou as distâncias entre os povos, deixando as urgências das conquistas tornar-se uma prioridade para todos. Em consequência deixaram-se engolir pela condição pretensiosa da globalização, esquecendo-se de cultivar os valores familiares mantidos por muitas gerações. As separações de casais virou rotina, haja vista o número de divórcios que ocorrem hoje em dia.
      Poucos casamentos sobrevivem ao dia a dia de correrias, caindo nas mesmices das cobranças mútuas. Os grandes amores se desfazem na primeira briga mais séria, decorrente da banalidade com que são tratados os sentimentos entre as pessoas. Os filhos não são levados em consideração na hora da separação, são apenas objetos de disputas e acordos difíceis entre as partes em conflito. Muitas vezes tornam-se fardos para a mãe que faz dupla jornada, uma na empresa e a outra em casa. Enquanto o pai deixou de ser o grande herói das crianças, pois é substituído com facilidade. Uma roda viva que parece ter atingido a exaustão e algum elo partido nesse caminho necessita ser recuperado.
   A mulher com toda a liberdade adquirida ainda é o sexo frágil carregado de emoção, que uma vez por mês sangra e chora atoa. As mulheres estão por toda parte em muitos cargos que pertencia ao sexo masculino e reconhecidamente esbanjando competência. Elas são responsáveis por prover a subsistência da família, cuidar da casa e da criação dos filhos. Porém, parece que estão dando sinais de que querem resgatar o romantismo e a sensualidade perdida. Podemos perceber isso acessando os sites das livrarias e verificando os livros mais vendidos "OS CINQUENTA TONS DE CINZA" de autoria  de E. L. JAMES e também o CD do Roberto Carlos, “ESSE CARA SOU EU” entre os mais vendidos.
   Lá está, a trilogia dos “CINQUENTA TONS DE CINZA”, que nada mais é do que um apelo à sensualidade de ambos os sexos, envolvidos por uma linda história de amor. Assustou, num primeiro momento, por ser explicito quanto ao sexo praticado; mas pensando bem, está aos moldes da atualidade. E a música do Roberto Carlos nos faz retomar ao amante cavalheiro, que transmitia proteção quando estava ao lado de sua amada. Em nome do amor esbanjava-se romantismo; era uma época de galanteadores.
  Na verdade as mulheres continuam as mesmas, apesar da independência conquistada. Ainda adoram receber flores e ouvir palavras de amor, ditas no aconchego dos braços masculinos. São seres passionais e carinho nunca é demais. Uma noite de luar, um amasso no portão e um pouco de magia enfeitam a vida, mesmo no século XXI.
 Um texto de Eva Ibrahim.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

"NÃO SE QUEIXE DO MUNDO. NA VERDADE NÃO CONSEGUIMOS APANHAR ESTRELAS, MAS PODEMOS PLANTAR FLORES".--- ANDRÉ LUIZ------- CADA UM É HERDEIRO DE SI MESMO.----FLORES SÃO SEMPRE BEM VINDAS.-----EVA IBRAHIM.



"Um dia, ela estava conversando com o marido e de repente ele ficou quieto e desmaiou. Demorou a voltar a si e quando a ambulância chegou precisou ser carregado, pois não parava em pé.Foi levado ao Hospital e internado por alguns dias. Quando voltou não era mais o mesmo, ficava sentado olhando o infinito, perdido em seus pensamentos. Adilson foi afastado da empresa onde trabalhava, pois precisava de tratamento médico especializado. O diagnóstico de epilepsia e depressão profunda, chegou como um duro golpe; sua mulher não tinha mais sossego". Um parágrafo do texto:"UM ANJO ME ABRAÇOU", do novo livro de Eva Ibrahim.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

"EM CADA UM DE NÓS HÁ UM SEGREDO, UMA PAISAGEM INTERIOR COM PLANÍCIES INDOMÁVEIS, VALES DE SILÊNCIO E PARAÍSOS SECRETOS".-----ANTOINE DE SAINT EXUPÉRY------- UM BRAÇO DE TERRA NO MAR.


"As pessoas tentavam salvar-se carregando os filhos, pais e avós. A lama descia dos morros levando tudo que encontrava pela frente, deixando dor e desolação atrás de si. Os que estavam com os familiares presentes se consideravam agraciados pela mão divina". Um parágrafo do texto: "PÁSSARO DE FERRO", do novo livro de Eva Ibrahim.

sábado, 5 de janeiro de 2013

PEDRO HENRIQUE-------"NINGUÉM É DIGNO DE UM OASIS, SE NÃO APRENDER A ATRAVESSAR OS SEUS DESERTOS". AUGUSTO CURY

"Cambaleando foi pegar a moto e acelerou apressado para chegar á casa e dormir um pouquinho, ou não aguentaria o  trabalho, logo mais á noite. Estava sonolento, não conseguia prestar atenção na pista. O trânsito era intenso na Rodovia e ele resolveu cortar caminho adentrando em um bairro da periferia; logo chegaria a casa de seu cunhado". Um parágrafo do texto: "POR UM FIO", do novo livro de Eva Ibrahim.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

"A FELICIDADE VIBRA NA FREQUÊNCIA DAS COISAS MAIS SIMPLES".---ANA JÁCOMO-------A POMBINHA VOLTOU PARA CHOCAR, MAIS UMA VEZ, SEUS OVINHOS NO XAXIM LÁ DE CASA.


"Faltavam apenas três dias para o casamento e Breno Daniel foi dormir bastante preocupado com os preparativos da festa. Seu sono foi conturbado e teve muitos pesadelos onde ele sempre aparecia procurando a pedra amarela. Acordou assustado e ligou para Silvana, queria saber se estava tudo bem; a moça tentou acalmá-lo, porém, ele ficou cismado com aquele sonho estranho".  Um parágrafo do texto: "COM MUITO AMOR", do novo livro de Eva Ibrahim.                                    

MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.