Laura estava motivada e resolvida
a preparar a ceia de Natal, chamaria os filhos e netos. Estava viva e queria
ser feliz com seus familiares, assim, ela armou a árvore, colocou luzes
brilhantes e uma guirlanda na porta de entrada. A casa ganhou vida, do ar de
abandono e tristeza, agora exalava esperança; estava limpa, arrumada, colorida
e festiva.
Na quarta-feira ela foi ao
supermercado e comprou os mantimentos para a ceia. No dia seguinte seria a
véspera do Natal e ela passaria o dia todo cozinhando os assados e doces, para
servir aos seus familiares. Durante muitos anos, a ceia de Natal foi realizada
em sua casa, uma alegria para todos.
As compras que foram feitas no supermercado, seriam
entregues somente no período da tarde, então, ela tinha tempo para descansar na
praça. Alguma coisa a atraia para aquele lugar, ali ela se conectava com seu passado
e acalmava seu coração.
Sentou-se mais uma vez embaixo da
árvore, que para ela representava a volta à vida. Ficou algum tempo olhando as formigas
cortadeiras, que continuavam na mesma labuta, cadenciada e constante.
- O formigueiro deve estar
cheio de folhas das árvores desse jardim, mas, elas não descansam. E, se alguém
não as pararem, o futuro do jardim será um deserto. Ela pensou e mentalmente
vislumbrou um deserto naquele lugar e fechou o semblante.
– Não, isso não pode acontecer! Esse
lugar não pode acabar.
Em seguida, Laura fechou os olhos e voltou ao
passado novamente. Sentiu seu amor crescer por Luís Carlos, ele a tratava com
carinho e amor. O namoro acontecia em locais escondidos, até que seu pai tomou
conhecimento e os chamou para uma conversa. Desse modo foi colocada a necessidade
de uma atitude mais séria do rapaz.
- Ou namora em casa ou não tem
mais nenhum encontro às escondidas. O pai foi taxativo.
O consentimento para o noivado
foi cheio de recomendações. Ela se lembrava perfeitamente das palavras, que ele
disse ao aprovar o noivado:
- Laura é uma boa moça e
lembre-se do que vou dizer. Ela tem família que a ama muito, portanto nunca a
maltrate ou terá que responder por isso.
Foi um jantar animado, o casal
parecia feliz. E, na hora da despedida rolou um forte abraço e um beijo intenso
e profundo. A moça entrou correndo para seu quarto, foi naquele momento que ela
percebeu todo o desejo do homem, contido por seu amor.
Um barulho a despertou de seu devaneio, abriu os
olhos e viu que não havia nada ao seu redor, foi uma motocicleta que passou
rapidamente por ali. Então, mergulhou em seus pensamentos novamente; era um
lugar confortável, que afagava sua alma inquieta.
A senhora abriu os olhos, ainda
podia sentir um arrepio na espinha, estava viva. Todas as lembranças eram boas
e ela não queria sair dali, estava extasiada.
Nos meses seguintes houve a preparação
do casamento, tudo feito com muito capricho pelas duas famílias. Quanto ao
noivo, aumentava suas investidas com palavras e atos mais picantes, ele
sussurrava em seus ouvidos palavras de amor e desejo. Era um tempo de
controvérsias, o sangue queimava em suas veias, também queria se entregar ao
amor nos momentos da despedida.
Mas tinha muito medo de uma
gravidez inoportuna, que envergonharia seus pais. Assim, Luís Carlos e Laura se
despediam e continuavam a espera da noite de núpcias. O ano demorou a passar,
havia pressa em se entregarem ao amor pleno.
O casamento foi marcado para um
sábado, dia vinte de dezembro de um mil novecentos e sessenta e nove. As
lembranças estavam vivas em seu pensamento, havia um sentimento mágico que
envolvia aquele dia especial. Com um sorriso nos lábios ela retornou para o dia
do seu casamento.
Um texto de Eva Ibrahim