BOINA
AZUL
EU AMO
VOCÊ
CAPÍTULO UM
O espelho
estava embaçado pela fumaça quente que saia do box, Serena não tinha pressa em
sair dali; estava desolada. Enquanto a água corria pelos seus cabelos banhando
seu corpo, as lágrimas salgavam sua boca. Acontecera o que ela mais temia, seu
noivo fora convocado para servir na força de paz da Organização das Nações
Unidas (ONU).
Vitor andava
ansioso e parecia inquieto, deixando Serena preocupada. Então, a moça perguntou
o que o afligia e ele tirou um papel do bolso entregando para ela ler. Era a
convocação para servir no Haiti, em missão de paz, com toda sua tropa. Ficariam
lá, pelo menos, durante seis meses, com possibilidade de prorrogação.
- O que vou fazer? Exclamou apavorada. Ela e Vitor,
estavam de casamento marcado para dali a três meses.
- Como repensar tudo? Desistir de meus sonhos e esperar indefinidamente até meu amor retornar?
Serena fizera muitos planos, amava
o noivo e queria viver ao seu lado. O rapaz também queria casar-se com ela,
o amor de sua vida; Vitor afirmava com convicção. Porém, sua carreira era muito
importante e não abriria mão dela por nada.
No começo do ano ele conseguira
se formar; um diploma muito almejado. Era só o que faltava para a realização de
seu sonho, tornar-se sargento do exército brasileiro, conseguido com muito
estudo e garra na escola militar. E, com sua convocação seria mais um soldado
boina azul no Haiti; um país arrasado pela natureza.
Na
verdade, ele estava feliz, queria conhecer novos lugares e ajudar aquele povo
maltratado. Amava sua noiva, mas era jovem e queria aventurar-se para conhecer
o mundo, promovendo a ajuda humanitária tão necessária. O casamento poderia
esperar mais um pouco. Estava eufórico, iria viajar, conhecer novos lugares;
abrir seus caminhos.
Serena
caiu na cama ainda com os cabelos molhados, estava com os olhos inchados de
tanto chorar. Eles teriam uma semana para arrumar tudo e Vitor deveria apresentar-se
no seu local de origem, na cidade de São Paulo.
Sua tropa seguiria para Brasília, a
capital do país, lá seria submetida a um treinamento específico, com duração de
três meses. Depois dessa fase de preparação intensa, embarcariam no navio
brasileiro com destino ao Haiti. Estaria, então, a serviço de sua pátria; o que
era motivo de orgulho para o rapaz.
Serena sofria por antecipação,
amava o noivo do fundo de sua alma e temia a solidão que se desenhava no
horizonte. A ausência de Vitor poderia durar meses e até anos, ninguém saberia
precisar a data de sua volta.
Ela queria ficar ao lado dele o maior
tempo possível, não se conformava em ter que adiar o casamento, com tantas
incertezas envolvidas. Entretanto, não poderia reclamar, pois sabia dos desejos
do seu amor e conhecia as regras do exército. O que menos importava naquele
momento, eram os seus sentimentos.
A apresentação de Vitor seria na
quarta feira, então, planejaram passar o final de semana juntos em um resort
campestre. Escolheram uma região montanhosa de Serra Negra, uma cidade
turística do interior do estado de São Paulo.
Na
sexta feira a noite saíram com destino ao local combinado, seria uma despedida
especial. Mas, Serena sentia o seu coração pesado, não conseguia relaxar.
Estava ansiosa e apreensiva, sua vida fora interrompida. Seu futuro era um
ponto de interrogação.
- Como
posso deixar meu amado partir? Este pensamento não saia de sua cabeça, parecia
um martelo batendo o tempo todo dentro de seu cérebro.
- Eu amo
você... eu amo você! Ela sussurrava baixinho ao pé do ouvido de seu noivo,
enquanto ele dirigia absorto.
Um texto de Eva Ibrahim