CAPÍTULO ONZE
A conversa com Raquel foi muito
difícil, ela não entendia o motivo da mudança, tão rápida, de Murilo. Ele
estava morando na casa dela fazia poucos dias e agora, havia decidido ir morar
com sua mãe. Ela precisava saber o que aconteceu, para que ele tomasse uma decisão
tão inesperada.
Murilo não parecia ser um homem volúvel, mas as aparências, às vezes,
enganam. Raquel ficou perplexa momentaneamente, pois ele parecia muito
apaixonado por ela.
- O que pode ter feito ele mudar
de ideia tão depressa? Essa pergunta martelava em sua cabeça, enquanto via ele
juntar suas coisas.
Mas, seu amante não queria que ela pensasse,
que ele estava arrependido, de ter ido morar com ela. Então, Murilo usou de
subterfúgios. Disse a ela que sua mãe estava doente e necessitava de alguém
para lhe fazer companhia; era idosa e precisava dele.
A moça não gostou da atitude do
rapaz, porém acabou concordando, não gostava de sentir-se presa a alguém, preferia
ser livre para se dedicar à escola de samba. Deixou que Murilo saísse, sem
impor obstáculos.
O rapaz chegou a casa de sua mãe
levando poucas coisas, somente o que levara naquela noite, em que deixara sua
casa. Trazia consigo esperanças de reconciliação com sua esposa, estava,
sinceramente, arrependido.
No dia seguinte, a sogra foi a
casa de Lívia e disse-lhe, que Murilo estava morando na casa dela. Mas a
receptividade não foi boa.
- Eu não quero saber daquele
traidor, a senhora é bem-vinda aqui, mas não fale dele. Afirmou a moça
nervosa.
Rosa pediu desculpas, apenas queria
dizer, que ele estava arrependido de ter saído de casa. Ela trouxera dinheiro
para as despesas da casa e iria levar algumas roupas, que o filho estava
precisando. Depois, a mulher saiu deixando um recado:
- Se precisarem de alguma coisa é só
ligar.
As crianças ficaram acenando para a
avó, até ela desaparecer com o táxi.
Murilo ficou triste com a notícia, que sua mãe
trouxera da casa de Lívia.
- Ela não quer saber de você, foi bem clara.
Disse Rosa ao filho.
- Não posso desistir mãe, eu preciso ver meus
filhos crescerem. Eu irei lá amanhã, quero ver as crianças. O rapaz disse com
muita firmeza.
Na manhã seguinte, antes das
crianças saírem para a escola, Murilo tocou a campainha da casa. Ficou
esperando do lado de fora, com uma sensação muito estranha, era sua casa e
tinha que tocar a campainha. Sentia-se humilhado com aquela posição de visita.
Lívia gritou, do banheiro,
para os filhos verificarem quem estava chamando. Demorou e ela não obteve
resposta. Então saiu alarmada, onde estavam as crianças?
- Quem estava chamando? Entrou na
sala gritando.
E, deu de cara com o ex-marido
sentado no sofá, com a caçula no colo e os outros dois filhos sentados ao seu
redor. Parou na porta, estava sem ação. Então, Murilo disse:
- Estava aqui perto e vim ver meus
filhos, eu estava com saudades deles.
Lívia
ficou sem palavras, não queria brigar na frente das crianças. Deu meia volta e
retornou à cozinha, foi preparar os lanches das crianças. Retornou à sala com
as mochilas nas mãos dizendo, que já estavam atrasados.
O pai se levantou segurando a
mão de um filho e com a menina no colo disse:
- Eu vou levá-los à escola.
Lívia ficou pálida, será que ele iria raptar
as crianças? Pensou enquanto seu coração disparava. Ela não teria forças para
impedi-lo, pois era o pai deles.
Então
ele completou:
- São meus filhos e os amo muito, não vou
fugir com eles, pode ficar tranquila. Em seguida, saiu levando as crianças.
A
mulher entrou e foi chorar no banheiro, sentia-se impotente diante de Murilo.
Como seria sua vida dali para a frente? Murilo não daria sossego para ela e
usaria as crianças para frequentar sua casa.
À
noite, durante o jantar, o rapaz comentou com sua mãe:
-
É necessário ter muita paciência, mas hoje eu percebi, que as crianças vão me
abrir o caminho do coração de Lívia.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa.