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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

"SOBRE AS ASAS DO TEMPO A TRISTEZA VAI SE EMBORA" LA FONTAINE-- O IMPORTANTE É ATRAVESSAR OS SEUS DESERTOS. EVA IBRAHIM.

                            DIAS TERRÍVEIS
                             CAPÍTULO 13
A dor era lancinante e subia pelo braço; parecia que havia uma faca espetada no seu dedo polegar. Chegou da mata rapidamente, o tanto que sua canseira permitiu e foi lavar a mão desesperadamente, depois tirou a roupa que usava e saiu atrás do dono da mercearia. Jofre, o comerciante, ficou muito assustado ao ver os dois furos da picada da cobra na mão de Antonio.
Indagou que tipo de cobra fizera aquele estrago e ele não sabia dizer. Quando jogou a cobra para longe viu que era grossa como um cano de água e tinha uma variação de marrom em seu corpo. Não vira mais nada, a dor parecia cegá-lo, precisava de ajuda. Jofre pediu ao filho para tomar conta da venda e levou o conhecido para o Pronto Socorro, era caso de urgência.
O médico que o atendeu disse que poderia ser muito grave e como não sabia o tipo de cobra que o havia picado, ele tomaria o soro antiofídico polivalente e ficaria em observação para acompanhar a evolução do quadro. Com um olhar sério e penetrante, o velho médico, lhe disse:
 - Há casos de picadas de cobras que deixam aleijões horríveis no local da picada, esperamos que não seja o seu caso. Depois disse que Antonio ficaria internado para observação até o dia seguinte ou poderia morrer sozinho.
A contra gosto foi colocado em uma maca com o braço elevado e orientado a ficar em repouso absoluto. O homem sentiu medo e concordou em ficar ali até o dia seguinte. Jofre saiu dizendo que voltaria no outro dia.
Antonio não se conformava com a situação em que se encontrava, a única explicação que vinha a sua cabeça era a perseguição da pedra amarela. Era um homem marcado pela desgraça e nada poderia fazer. Se conseguisse encontrar a tal pedra, a levaria para a represa de onde foi retirada.
Foi uma noite de muitos pesadelos e aflições; sentia muita dor e a picada da cobra parecia se repetir o tempo todo. Despertou com o rosto inchado e mal conseguia abrir os olhos, sentia-se mal, o dedo latejando e vermelho; o veneno era potente, não havia dúvidas.
O Doutor chegou e perguntou se havia feito xixi e Antonio disse que não. O velho médico, muito sério, disse que ele só seria liberado após a primeira micção e o resultado dos exames. Não deixaram ele se levantar e depois do xixi no papagaio ele foi tranquilizado; sua urina não continha sangue, era um bom sinal.
 No horário de visitas o Jofre chegou para vê-lo e Antonio queria ir embora. Insistiu muito e o médico concordou desde que ele permanecesse em repouso durante três dias e depois retornasse ao Hospital para nova avaliação.
Agradeceu ao novo amigo e adentrou à sua casa, precisava dar comida ao Lobo e ver como o Bernardo estava. Olhou no espelho e não se reconheceu, estava muito inchado, barbudo e fedido. Daquela vez, a pedra amarela quase o matou, foi por pouco. Entrou debaixo do chuveiro, precisava se livrar daquele cheiro horrível de mato misturado com Hospital. Deu comida ao Lobo e foi deitar-se, estava muito fraco.
Em três dias ele ainda estava mal, o corpo dolorido e o dedo vermelho e muito inchado. O retorno ao médico foi preocupante; seu dedo desenvolvera uma celulite no local da picada e poderia piorar ainda mais, disse o médico receitando antibióticos.
Antonio estava travado pelos últimos acontecimentos, mal conseguia andar dentro da casa, seu consolo era Bernardo, que ouvia suas queixas e reclamações.
Depois de uma semana ele saiu para comprar comida no empório do Jofre, que era a única relação que mantinha com o mundo fora de sua casa. Comprou o que precisava e tratou de voltar para sua casa, ainda estava debilitado.
Deitado na rede juntamente com Bernardo, o homem olhava as estrelas e se perguntava por que acontecera aquilo com ele? Esperava que seu dedo melhorasse e que dias melhores viessem, porque aqueles foram terríveis.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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