OLHOS VERMELHOS
CAPÍTULO OITO
Marília
abriu a carta e leu que deveria se apresentar com documentos em lugar e hora
determinados para assumir seu cargo. Ela sonhara com aquele momento e precisava
do emprego mais que tudo em sua vida, tinha dois filhos para criar, então, ela
desabou.
Chorou muito, até seus olhos ficarem
inchados, depois foi tomar banho; queria lavar a alma para se livrar de tantas
angustias passadas. Encerrar aquele capítulo triste de sua vida e iniciar outro
menos sofrido.
As
crianças chegaram da escola e encontraram uma mãe mais alegre, cheia de planos
para o futuro. Estava arrumando os documentos e planejando como faria para
cuidar da casa, das crianças e trabalhar. Sentia-se pronta para lutar, uma
verdadeira leoa para defender sua casa e seus filhotes.
Enquanto
mexia em seus documentos encontrou uma foto de seu casamento, um dia feliz,
cheio de sonhos de amor e agora implorava a Deus para afastar o marido dali.
–
Que ironia! O amor não é eterno se não for cultivado com amizade e respeito,
pensou a moça entre lágrimas.
Com
os olhos vermelhos de tanto chorar guardou a foto e lembrou-se do ditado que a
fizera estudar até a exaustão. “Colhemos, infalivelmente, resultados
proporcionais aos nossos esforços”. Sim, Marília sentia-se abençoada com um
emprego fixo tão almejado por muita gente; funcionária pública. Estava feliz
pela conquista, mas uma nostalgia pelo passado a deixava triste.
Ela
sabia que sua vida seria difícil, porém, com um futuro que dependia somente
dela; não se submeteria mais as exigências de um marido alcoólatra.
No entanto, demorou alguns dias para ela escolher aonde
iria trabalhar. Finalmente o grande dia chegou, fora empossada em caráter
experimental, mas faria tudo para passar na experiência. Iria trabalhar em um Posto
de Saúde e estava muito feliz com o novo emprego. Começava ali uma nova vida
para Marília, que acreditou em um ditado popular e se esforçou ao máximo para
passar no exame.
Seu
primeiro dia de trabalho terminou e na volta para casa ela entrou na Igreja
para agradecer a Deus pelo futuro promissor. E, quando saiu tinha os olhos
vermelhos de tanto chorar, mas era um choro de alegria.
O
importante era o fato de ela ter resistido ao vendaval que assolara sua vida.
Sendo assim, ela seguiria em frente com o que o vento não levou ou ela não
deixou que levasse. Estava íntegra, permanecera dígna e segura para viver sua vida.
Um texto de Eva Ibrahim