A
DESPEDIDA
CAPÍTULO TRÊS
O dia terminou com Adele sentada
no sofá com os olhos inchados de tanto chorar.
Suas filhas estavam ali para lhe dar apoio, porém, já estavam exaustas e
acabaram dormindo jogadas sobre suas camas. A mulher cochilou e acordou
sobressaltada; havia tido um pesadelo com Rafael. Ele a chamava para
acompanha-lo, mas ela se negava a segui-lo. Adele estava com medo de tudo o que
acontecera naquele domingo de manhã.
A sua vida estava destruída, amava
o marido e não saberia viver sem a presença dele. Então, sentiu um forte arrepio percorrer seu corpo. Temerosa, tratou de afastar este
pensamento, pois temia a morte e não queria conversa com os mortos.
-Que descanse em paz, desejou a
mulher cautelosa.
Pelo vitro da sala ela viu o dia chegando e a
sua claridade inundando a casa. Levantou-se e foi tomar um banho precisava
livrar-se da sensação de sujeira que a estava incomodando. Depois fez um café e
sorveu o líquido quente, que a revigorou, dando lhe forças para pensar em ligar
para o cunhado e saber quando o corpo seria liberado para o enterro.
Aquele, certamente seria um dia
muito ruim; enterrar o marido nunca fez parte de seus piores pensamentos. No
entanto, coube a ela essa missão e ela teria que ser forte. Duas lágrimas
correram em seu rosto indo morrer em sua boca, deixando ali um gosto salgado.
Ela queria sumir para não ter que
acompanhar o enterro de Rafael. Adele trazia uma dor intensa em seu íntimo.
- Como poderia deixa-lo enterrado e
ir para sua casa? Pensou a mulher assustada.
Estava além de suas forças; ele era
o amor de sua vida. Sentia-se sozinha em sua dor. Ninguém poderia avaliar o
tamanho de seu sofrimento e nada a consolava, estava revoltada. A campainha
tocou e alguns parentes próximos chegaram para ajudar e consolar a viúva.
Na verdade, Adele queria ficar
sozinha e pensar em tudo que ocorrera, precisava entender o que Deus queria dizer
levando Rafael tão cedo. Mas, com tanta gente em sua casa teria que adiar
aqueles pensamentos e tratar de se preparar para a chegada do corpo no
necrotério.
Rafael estava duro e gelado, além de
pálido, as flores que encobriam parte de seu corpo eram amarelas, o que
deixavam o defunto ainda mais descorado. Adele ficou extática em frente ao
marido morto. Estranhamente não estava chorando, se conformara com a ideia da
morte de Rafael.
A sala onde estava o falecido, ficou
cheia de gente e o cheiro dos crisântemos tomou conta do lugar. A viúva sentiu
náuseas e saiu acompanhada das filhas. Ficou algum tempo encostada na parede do
lado de fora, mas quando o padre chegou para encomendar o corpo, ela se colocou
na cabeceira do marido.
Sentia-se entorpecida, parecia que
nada daquilo lhe dizia respeito. E, quando o cortejo seguiu até a vala, ela acompanhou abraçada com as suas filhas, seguiu o caixão até a beira da cova. Cercado de
parentes e amigos, o caixão desceu depositando o corpo de Rafael em sua última
morada. Adele jogou algumas flores, que alguém colocou em suas mãos, sobre o
caixão do marido. Então, com os olhos marejados de lágrimas, ela foi conduzida
para fora do cemitério.
Um
texto de Eva Ibrahim
Continua
na próxima semana.