FELIZ NATAL AMOR
CAPÍTULO CINCO
O
domingo amanheceu ensolarado e pegou o novo casal dormindo. Os dois estavam cansados
pela grande carga emocional sofrida, no dia anterior. Laura foi quem acordou
primeiro e viu que Luís Carlos dormira com a roupa do casamento, então lembrou-se
do ocorrido. Passara a noite de núpcias com seu marido e continuava virgem.
Levantou-se e foi ao banheiro, enquanto lavava o rosto pensou:
-Que
ironia! Esperei tanto por esse dia e nada aconteceu. Não direi nada a ninguém,
ou vou virar chacota das comadres.
A
moça fez sua higiene pessoal e foi fazer café, queria acordar o marido com o
café pronto. Estava desolada, não sabia como conduzir aquela situação.
Voltou
ao quarto com o café na xícara apoiada no pires e tocou o ombro de Luís Carlos.
Ele resmungou e se virou para o outro lado, então ela deu um grito:
- Acorda que o Sol já apareceu. Toma esse café
e vai tomar banho, para acordar.
O
rapaz abriu os olhos e perguntou onde estava. Laura, nada amistosa disse:
-
Na nossa casa, no nosso quarto!
O rapaz olhou para suas roupas e perguntou se
havia dormido daquele jeito.
– Sim, você dormiu e eu não consegui tirar
suas roupas, depois dormi também, que estava cansada.
Ele
tratou de se levantar, tomou um gole do café e se fechou no banheiro. Demorou
uns quarenta minutos, estava refletindo na mancada que dera. Não poderia contar
a ninguém, ou seria motivo de deboche por parte de seus amigos. Passaria a ser
conhecido como o noivo que dormiu na noite de núpcias; uma vergonha total.
Laura
foi ver os presentes, que estavam no quarto de visitas; havia muitas coisas
para serem abertas. Esperaria por Luís Carlos para abrirem juntos. Estava
magoada, decepcionada, nunca imaginara uma situação como aquela.
Nesse
momento, ele adentrou o quarto e foi logo agarrando sua mulher. A toalha caiu e
ele pegou Laura no colo, levando-a para a cama do casal. Ali, com o Sol iluminando
tudo, foi concretizado o enlace matrimonial.
A
mulher sorriu, foi um momento inesquecível em sua vida. Ainda se lembrava da
emoção sentida naquele instante. Tornou-se mulher nos braços de seu amor. Uma
felicidade plena, que apagava todo o ocorrido, ficava o segredo entre eles, a
mancada da noite de núpcias.
Ficaram
ali deitados se entreolhando e felizes por serem apaixonados um pelo outro. O
dia passou entre abraços e beijos, não viajaram porque queriam passar o Natal
com seus familiares. Viajariam somente em janeiro, uma semana na praia, era
tudo o que teriam como lua de mel.
Na
segunda-feira, Luís Carlos voltou ao trabalho e ela começou sua vida de dona de
casa. Encarou o fogão e as coisas não deram muito certo, o arroz ficou salgado
e o bife duro. Mas, em nome do amor, ambos comeram sem reclamar.
Passaram três dias curtindo o amor e se
conhecendo melhor, então chegou a véspera do Natal e eles passaram a noite com
seus familiares. Laura estava muito bonita com seu vestido vermelho e o marido
a acompanhava satisfeito.
Foi
uma noite memorável, a primeira noite de Natal do novo casal, que se repetiu
durante trinta e cinco anos. Tiveram dois filhos, Artur e Selma, que lhes deram
cinco netos, todos criados e encaminhados.
Quando a vida parecia sorrir para eles, que
passeavam sempre juntos, conhecendo novos lugares, aconteceu o pior. Luís
Carlos amanheceu morto na cama, ao lado de Laura, um enfarte fulminante.
Ela não percebeu nada e levou o maior susto
quando tentou acordá-lo, o corpo estava frio e enrijecido. O médico disse que
fazia algumas horas que ele falecera. Ali ela também morreu um pouco.
Não quis ficar na casa e foi morar com sua
filha. Descobriu todas as dores do mundo, curtiu uma depressão durante anos
seguidos. Pensou muitas vezes em tirar a própria vida, só não o fez porque era
temente a Deus.
Entretanto,
um milagre aconteceu, ela conseguiu lembrar-se de todos os anos felizes, que
vivera em companhia do marido e sentia-se leve. Aquele lugar, embaixo daquela
árvore, lhe devolvera a vida, então, levantou-se e foi para sua casa preparar a
ceia de Natal.
À
noite, na hora do brinde ela foi até a varanda e olhando para o céu, ergueu o
cálice e brindou:
- Feliz Natal amor, o compromisso continua; é
só uma questão de tempo.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa