SAUDADE,
MAL DE AMOR
Murilo estava enraivecido com aquela situação,
ele não esperava ouvir aquele desabafo de sua mulher. Ela parecia disposta a
tudo, quando afirmou que iria trabalhar fora, queria afrontá-lo, com certeza. Lívia
sabia que ele não queria, que ela deixasse os filhos na creche. Ele sempre
manteve a casa sozinho, para que ela cuidasse dos filhos e tinha orgulho disso.
O mecânico estava emburrado e
introspectivo e foi dormir antes de Raquel. Sentia-se culpado por toda aquela
situação triste, que foi criada com sua saída de casa. Estava arrependido por
ter tomado uma atitude intempestiva, deveria ter pensado melhor.
Sua esposa apresentara acusações
contra ele e o deixara com a cabeça quente, porque eram verdadeiras. Então,
quis mostrar para ela, quem mandava ali. Sua posição de macho provedor falou
mais alto.
Estava apaixonado por Raquel, mas Lívia era
sua esposa e não poderia abrir mão dela. Ele não queria admitir, mas sentia
ciúmes, ela era sua, fazia muito tempo. Havia um conflito dentro do seu peito,
que o deixava ansioso e raivoso ao mesmo tempo. Sentia saudades das crianças,
que não estavam em casa, pois tinham ido à escola. Aquele sentimento doía em
seu peito.
Raquel encostou nele a noite e
ele se afastou, não queria contato com ela, parecia que estava cometendo um
pecado. Deitado na cama com sua amante, ele percebia a gravidade do que fizera.
Sentiu saudades de sua casa, de sua cama e de sua família, começou a duvidar de
seu amor por Raquel.
Embora a amante fosse muito
bonita e atraente, não era sua mulher e estava perdendo espaço em seu coração.
Ela não tinha uma longa história de amor com ele, apenas sexo ocasional. Murilo
sabia pouca coisa da vida dela, fora seduzido sexualmente e agora caia em si.
Se Lívia não tivesse descoberto
tudo, provavelmente ele ainda estaria com sua família. Sentia que foi forçado a
tomar uma atitude, estava nervoso e não pensou direito. Na verdade, ele
procurava uma desculpa para seu ato impensado.
- O que vou fazer agora?
Não poderia simplesmente voltar e
dizer para Lívia, que estava arrependido, que ainda a amava e queria apagar
aquela história de sua vida. O caso fora muito grave e ele temia que ela nunca
o perdoasse.
Murilo passou a noite em claro,
não sabia o que fazer. Olhava para Raquel, que dormia ao seu lado e via que ela
não passava de uma estranha, que o enfeitiçara. Estava vivendo num inferno.
– Como vou sair dessa situação?
Era uma pergunta sem resposta.
Levantou-se bem cedo, e antes que
Raquel acordasse, ele foi para a oficina mecânica. Precisava pensar e tomar uma
decisão. Na hora do almoço foi para a casa de sua mãe, precisava se aconselhar
com ela. Ligou para Raquel e disse que iria visitar a mãe, que estava doente.
- Filho, quando Lívia souber que
você deixou Raquel e está morando comigo, abrandará seu coração. E, quem sabe,
crescerá um sentimento de perdão em seu coração, afinal vocês têm três filhos
para criar.
Uma nuvem desceu sobre o olhar
de Murilo, então ele disse:
- Eu sou um canalha, só faço
coisas erradas.
- Não é hora de se martirizar,
seja homem e fale as claras com Raquel. Pegue suas coisas e venha para cá.
Disse a velha senhora ao seu filho querido. Ela percebeu que ele estava
sofrendo de mal de amor, que tinha nome, saudades da família.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa