COM
OLHOS DE AMOR
CAPÍTULO
DOIS
O rapaz não pregou o olho a noite
toda, estava ansioso; precisava saber mais a respeito da moça, que o instigava
tanto. Muitas vezes, foi até a janela para ver se conseguia alguma pista, mas
era impossível; o prédio tinha dez andares e todos, em algum momento, estavam
acesos.
No dia seguinte, Otávio foi conversar
com o porteiro do prédio em frente ao seu. Cordialmente, usou algumas desculpas
e sem grande esforço, conseguiu que o homem falasse da moça e das crianças.
Disse que ela se chamava Milena, morava com os filhos no segundo andar, Clara a
menina adolescente e Rafael, o irmão mais novo. E, que a mãe trabalhava em uma
universidade.
Otávio
estava satisfeito, era o que ele precisava saber; saiu cheio de esperanças. Nos
seus mais remotos sonhos nunca pensou em se apaixonar novamente, mas, sentia-se
queimar por dentro, quando pensava em Milena.
Ele
passara a vigiar o prédio em frente, para saber os horários que a moça saia e
voltava do trabalho. Descobriu que ela saia muito cedo e deixava as crianças
prontas, esperando a perua para a escola. Ele podia vê-las da janela, todos os
dias.
Do
apartamento dele, no terceiro andar, ele via quando ela acendia a luz, as
quatro e trinta horas da manhã. Às vezes, ele cochilava e acordava assustado,
quando percebia que ela já havia saído para o trabalho. Otávio descobrira que
ela saia as seis e trinta horas e retornava à sua casa, quase sempre, por
volta das quatorze horas.
Ele fez tudo para adequar seu
trabalho aos horários de Milena. Chegava a sua casa a tempo de vê-la chegar do
trabalho. E o dia em que ela demorava, ele ficava angustiado e de olho na
janela. Sossegava quando ouvia o automóvel entrar na garagem, então, ia
descansar um pouco.
A janela tornou-se a parte mais
importante da casa, o local onde ele passava grande parte do tempo. Ele
conseguia ver a sala de Milena e quando a janela estava aberta, ele podia ver a
moça assistindo televisão. Então, mantinha as luzes apagadas para não ser
descoberto. Ficava embevecido olhando para ela, estava apaixonado.
A cada dia ele ficava mais tempo
olhando Milena chegar e sair, sentia ciúmes quando percebia que estava arrumada
para alguma festa. Ficava nervoso, tinha insônia e só ia se deitar quando ela
chegava. Sentia-se traído e ficava imaginando quem seria o objeto da traição;
queria mata-lo com muitos socos e pontapés.
Algumas vezes, ela percebeu que ele
estava olhando para ela, no entanto, olhou como se ele estivesse sempre ali.
Nem se tocou que ele estava ali para vê-la. Otávio debruçado na janela fazia
parte do cotidiano, logo, Milena desviava o olhar e seguia em frente.
Aquela
história já se alongava por três meses e o rapaz queria uma definição. O dia
dos namorados se aproximava e ele queria fazer uma surpresa para Milena, mas
temia ser rejeitado. Pensou em como chegar e falar com ela, sem parecer
grosseiro ou intrometido. Passava o tempo todo imaginando como iria se
aproximar dela.
Certa manhã, ele foi até a
padaria para comprar pães e ouviu um rapaz pedir um bolo de chocolate
confeitado e com morangos em cima. Completou dizendo, que era para comemorar o
aniversário de sua namorada. Depois, disse sorrindo:
- Esse é o melhor jeito de agradá-la,
um bolo de chocolate e um ramalhete de rosas vermelhas, não tem como errar.
Todas as mulheres do mundo se comovem com essa atitude.
Então, Otávio pensou nas crianças e decidiu,
que levaria bolo para Milena, no dia dos namorados.
– Vou agradar à mãe e os filhos de uma só vez,
perfeito.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa