ESPELHO ENCANTADO
A VIAGEM
CAPÍTULO UM
Rodolfo levantou-se cedo e correu
para o banheiro, estava atrasado. A noite fora cheia de insônias, pequenos
cochilos e sobressaltos contínuos. Ele estava ansioso e não conseguia relaxar.
Tomou um gole de suco, que estava na geladeira, apanhou um pedaço de pão de
forma e desceu as escadarias do prédio correndo, pois o Uber já o estava
aguardando. Entrou no automóvel comendo o pão, enquanto o motorista guardava
sua bagagem no porta malas.
O rapaz morava em Juiz de Fora e
o aeroporto da Zona da Mata distava dali uma hora ou mais, temia perder o seu
voo para Manaus. Esta viagem era um sonho antigo, de viajar de barco nas águas
do Amazonas. Estava de férias e havia comprado uma passagem de Manaus a
Parintins. Seu sonho ia mais além, queria assistir ao duelo dos bumbás,
Garantido e Caprichoso, no Festival Folclórico de Parintins.
Para isso, Rodolfo iria se
encontrar com uma amiga do tempo da faculdade, que iria fazer a viagem em sua
companhia. Celina estudara na Universidade Federal de Juiz de Fora e
tornaram-se amigos, pois estavam sempre envolvidos com trabalhos do mesmo
grupo. Depois da formatura, os dois advogados tomaram rumos diferentes; ele
abriu um escritório com outro colega ali mesmo e ela retornou à sua cidade
natal, Manaus.
Depois de mais de sete horas de
viagem, o comandante anunciou a descida em terras manauenses. Lá estava a amiga
aguardando sua chegada; foi um longo abraço, estavam felizes pelo reencontro.
Depois seguiram para a casa dela, a viagem aconteceria no dia seguinte bem
cedo. Estava chovendo muito e Celina disse para Rodolfo:
- Aqui chove muito, mas não se
preocupe, logo passa. Rodolfo sorriu:
- Sim, eu sempre li sobre as chuvas
torrenciais no norte do país, que acontecem a tarde e logo desaparecem. Quero
conhecer a cidade, que me pareceu muito bonita lá do alto.
– A noite vou leva-lo para dar
umas voltas pelo centro noturno. Concluiu a moça.
Ele sorriu, estava feliz por estar com uma
pessoa que gostava muito, era uma boa amiga. Ela morava em um casarão antigo,
era filha de família tradicional de Manaus. O pai era um advogado conhecido e
bem resolvido profissionalmente. A mãe era professora de literatura, pessoas
agradáveis e cordiais. Celina tinha um irmão casado, que morava em Parintins,
por isso o interesse em acompanhar Rodolfo nessa aventura. Ficariam alguns dias
na casa do irmão dela, para acompanhar as apresentações dos bois bumbás.
Rodolfo teve o resto da tarde
para se refazer da viagem e a noite estava pronto para sair e conhecer Manaus.
Celina o levou a vários lugares de encontro de
jovens e depois foram parar em uma boate muito badalada. Quando chegaram, a
moça encontrou uma amiga, que ficou encantada ao conhecer Rodolfo. E, até o
final da noite, a amiga já tinha se oferecido para acompanha-los na viagem.
Lorena era uma bela mestiça,
estudante de letras e também estava de férias. O pai era filho de portugueses e
a mãe filha de índios. Dessa mistura saiu uma morena exuberante. Tinha cabelos
e olhos negros em um corpo escultural, era impossível não se encantar com seu
jeito alegre e brincalhão. Os três passaram algumas horas conversando e rindo,
depois foram descansar para seguir viagem no dia seguinte.
O dia amanheceu e Lorena já
estava à espera de Rodolfo e Celina no cais do porto de Manaus. Ficaram
aguardando o embarque, enquanto o rapaz admirava os barcos atracados naquele
local. Rodolfo estava eufórico, queria viver aquela aventura, sentia que seria
cheia de surpresas e emoções.
Havia muita gente circulando por ali e entre
os passageiros estavam os carregadores do porto. Trabalho duro, carregando nas
costas sacos de mantimentos ou em pequenas carrocinhas empurradas manualmente.
Um jeito rústico de trabalhar, mas que dá emprego a muita gente.
Já passava das oito horas da
manhã, quando os três conseguiram adentrar o barco de três andares, eles
ficariam na parte de cima, ou seja, nos camarotes. Os pais de Celina insistiram para que ficassem
bem acomodados, tinham medo que ficassem desconfortáveis, dormindo nas redes.
Na parte de baixo, as redes eram arrumadas lado a lado e as malas colocadas
debaixo da rede de cada ocupante. Havia muita gente ali e parecia um amontoado
de pessoas disputando um pedacinho de chão.
Os três viajantes entraram
rapidamente e subiram as escadas. O compartimento do meio parecia o mais
seguro; abrigava menos pessoas e estava protegido das chuvas. Os amigos ficaram
em dois camarotes, um para o rapaz e o outro para as duas moças. As cabines
eram razoavelmente confortáveis, tinha ar condicionado, um beliche com duas
camas, um banheiro e televisão, no entanto, quando chovia forte entrava água
pelas vidraças. Quando avisaram que entrava água da chuva, eles riram, nada tiraria a alegria da viagem.
Tudo parecia muito bom para os
três, que estavam felizes viajando nas águas do rio Amazonas. Era o início de
uma grande aventura.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa