SEM
SAÍDA
CAPÍTULO
CINCO
O sábado foi um dia de muitos
questionamentos, parecia que a cabeça de Olívia iria estourar. Era um mundo de
contradições, ora pensava que deveria ficar em seu lugar de dona de casa e se
esquecer do amor, ora pensava em se jogar nos braços de João Paulo e ser feliz.
O mais sensato seria viver a sua rotina diária. Entretanto, alguma coisa lhe
dizia que deveria viver plenamente todos aqueles sentimentos que haviam brotado
em seu coração. A vida é uma só e deve ser vivida intensamente, enquanto ainda
há tempo, pensava a mulher, que já estava entrando na menopausa.
Trair, enganar e dissimular nunca fez
parte de sua vida, porém, se ela fosse viver aquele amor, teria que mudar de
princípios; o que já caracterizava que iria fazer alguma coisa condenável pela
sociedade. Como ela poderia encarar o marido e os filhos? Seria descoberta ou
deveria abrir o jogo. Eram pensamentos inquietantes, que não lhe davam folga.
Olívia saiu de casa para fazer compras,
queria tirar o pensamento fixo que tinha em João Paulo. Sabia que ele pensava
nela e ficava feliz com isso, sentia-se uma adolescente, mas sabia que poderia
perder tudo que havia conquistado até aquele momento. Antônio não perdoaria um
deslize naquela altura da vida, o amor entre eles já perdera o encanto, fazia
tempo. Viviam juntos e fingiam que estava tudo bem, cada um cumpria seu papel e
deixavam a vida correr.
Porém,
agora havia aquele sentimento novo vivenciado por Olívia, que parecia querer
sufoca-la. Ela estava viva e gostava de sentir que ainda conseguia amar com
intensidade. De uma coisa ela tinha
certeza, não procuraria João Paulo, porque sabia que iria cair em seus braços.
Deixaria o tempo se encarregar de resolver aquela situação.
O
dia correu normalmente e quando o Sol se punha lá no horizonte, Olívia ouviu um
barulho seguido de um longo gemido.
–O
que estaria acontecendo?
E,
ouviu outro gemido e saiu correndo para ver se D. Estela estava passando bem.
Quando entrou na cozinha viu a mulher caída no chão. Rapidamente lhe deu as
mãos para que pudesse se levantar. A vizinha havia machucado o joelho, mal
conseguia afirmar aquela perna. Olívia sentou a mulher no sofá e olhando o
joelho viu que havia crescido uma bola ao lado da articulação. Teria que chamar
a ambulância para leva-la ao Pronto Socorro e precisava acompanha-la também,
pois era idosa e mãe de seu amor.
Chegaram
do Hospital passava da meia noite e D. Estela teria que ficar em repouso
absoluto, se quisesse melhorar, enfatizara o médico. A mulher, chorosa, dizia à
Olívia que precisava ir visitar o filho e levar algumas coisas que havia
comprado a pedido dele. Olívia estremeceu, sabia que se fosse lá sozinha não
sairia ilesa. Temia a proximidade daquele homem, sentia-se vulnerável.
-
O que fazer? Seria a vida lhe dizendo qual o caminho a seguir?
Ela iria visitar João Paulo,
não poderia deixar a vizinha na mão, era caso de doença. Sua sorte estava
lançada, tentaria resistir.
No
dia seguinte ela se arrumou e levando as encomendas do rapaz se dirigiu para a
Penitenciária do Estado. Foi um longo caminho de pensamentos contraditórios.
Enquanto esperava sua vez para adentrar ao recinto, seu coração parecia querer
sair pela boca. Lá no fundo ela dizia
para si mesma:
- Calma mulher, você está aqui para fazer um
favor à sua vizinha, nada mais.
Um
texto de Eva Ibrahim
Continua na próxima semana.