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sexta-feira, 16 de maio de 2014

"BUSCAMOS NO OUTRO, NÃO A SABEDORIA DO CONSELHO, MAS O SILÊNCIO DA ESCUTA. NÃO A SOLIDEZ DO MÚSCULO, MAS O COLO QUE A ACOLHEU." RUBEM ALVES-- O MELHOR LUGAR AINDA É DENTRO DE UM ABRAÇO AMIGO. EVA IBRAHIM


A LUZ DE SEUS OLHOS

UM ANJO ME AMPAROU

CAPIÍTULO UM 
       A mulher corria descalça, com os cabelos revoltos, no meio da Avenida. Os carros desviavam e tocavam as buzinas insistentemente. Porém, ela continuava sem rumo, parecia possuída por alguma coisa muito ruim. Nada via e certamente seria atropelada, era um fato iminente.

      Um motociclista foi desviar da mulher e acabou caindo no asfalto; o caos fora instalado. O transito parou para que o rapaz fosse socorrido e a doida continuava no meio dos veículos. Pegava nos automóveis e seguia apalpando como se fossem corrimões, perdera a noção do perigo. Muitos pedestres pararam para ver aquela cena, era de arrepiar, a mulher havia enlouquecido.

      Tinha uma aparência jovem, de cerca de trinta anos; em situação normal, deveria ser bonita. Entretanto, com os cabelos despenteados e o rosto desfigurado parecia ter escapado do manicômio. Não ouvia ninguém, queria fugir de alguma coisa muito grave; parecia impossível detê-la.
      Viera da antiga vila de italianos que existia naquela região, alguém comentou em meio ao burburinho. Outros diziam que ela saíra do Hospital gritando e chorando até chegar ali; não queria falar com ninguém.
      - Queria sumir e nunca mais voltar, foi o que conseguiram ouvir quando ela gritava, entre lágrimas.

       Com tanta gente aglomerada, ninguém percebeu que outra mulher apareceu e abraçou a desvairada, tirando-a da rua. Era uma mulher de cor negra, alta e forte, talvez seja por isso que Gilda se intimidou e concordou em sair dali. A mulher a conduzia como se conduz uma criança, sem largar a mão. Foi levada até uma padaria, onde lhe deram água com açúcar para se acalmar. A mulher, desfigurada, soluçava e não olhava para ninguém, apenas fitava o chão.

      Depois de algum tempo, ela contou que seu nome era Gilda e estava desesperada, porque pingara remédio errado nos olhos de seu filho e o médico dissera que ele estava cego.
A mulher negra, que a socorrera, permanecia em pé ao seu lado, queria protegê-la, foi o que todos pensaram; tinha um olhar firme e profundo.

      Gilda não sabia o que fazer, dizia soluçando com a cabeça entre as mãos; queria sumir e apagar aquela visão de sua mente. Estava em meio ao pior pesadelo que poderia ser imaginado por alguém. Foi um acidente, ela não teve culpa, jamais faria mal ao seu filho. Ela queria morrer, só ainda estava ali porque alguém teria que cuidar de Sandro e ela era a mãe dele.

       A mulher que a acompanhava nem sequer dissera seu nome, entretanto, transmitia uma paz à Gilda, como ela nunca sentira antes. As duas mulheres caminharam abraçadas e sentaram-se no banco da praça em frente ao Hospital onde o menino estava.  E, com a cabeça recostada no ombro amigo da estranha, Gilda começou a voltar á realidade; seu marido ficara lá dentro, depois de acusá-la de cegar o filho. Então, ela voltou a chorar e esconder o rosto com as mãos.

      - Nunca mais teria sossego, sua vida terminava ali; estava muito cansada. Gilda lamentava enquanto as lágrimas corriam pelo seu rosto. A mulher afagava seus cabelos como se fosse sua mãe. Gilda sentia-se amparada pelos braços fortes e a ternura que emanava daquele olhar.
       - Desabafe minha filha, pode chorar, estou aqui para ouvi-la, sussurrou a estranha.
       Então, ela sentiu muita vontade de abrir seu coração e começou a contar o que havia acontecido naquela madrugada.
Um texto de Eva Ibrahim,

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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