A LUZ DE SEUS OLHOS
UM ANJO ME AMPAROU
CAPIÍTULO UM
A mulher corria descalça, com os cabelos
revoltos, no meio da Avenida. Os carros desviavam e tocavam as buzinas
insistentemente. Porém, ela continuava sem rumo, parecia possuída por alguma coisa
muito ruim. Nada via e certamente seria atropelada, era um fato iminente.
Um
motociclista foi desviar da mulher e acabou caindo no asfalto; o caos fora
instalado. O transito parou para que o rapaz fosse socorrido e a doida
continuava no meio dos veículos. Pegava nos automóveis e seguia apalpando como
se fossem corrimões, perdera a noção do perigo. Muitos pedestres pararam para
ver aquela cena, era de arrepiar, a mulher havia enlouquecido.
Tinha uma aparência jovem, de cerca de
trinta anos; em situação normal, deveria ser bonita. Entretanto, com os cabelos
despenteados e o rosto desfigurado parecia ter escapado do manicômio. Não ouvia
ninguém, queria fugir de alguma coisa muito grave; parecia impossível detê-la.
Viera da antiga vila de italianos que existia naquela região,
alguém comentou em meio ao burburinho. Outros diziam que ela saíra do Hospital
gritando e chorando até chegar ali; não queria falar com ninguém.
- Queria
sumir e nunca mais voltar, foi o que conseguiram ouvir quando ela gritava, entre
lágrimas.
Com tanta gente aglomerada, ninguém
percebeu que outra mulher apareceu e abraçou a desvairada, tirando-a da rua. Era
uma mulher de cor negra, alta e forte, talvez seja por isso que Gilda se
intimidou e concordou em sair dali. A mulher a conduzia como se conduz uma
criança, sem largar a mão. Foi levada até uma padaria, onde lhe deram água com açúcar
para se acalmar. A mulher, desfigurada, soluçava e não olhava para ninguém,
apenas fitava o chão.
Depois de algum tempo, ela contou que seu nome era Gilda e estava desesperada, porque pingara remédio errado nos olhos de seu filho e o médico dissera que ele estava cego.
Depois de algum tempo, ela contou que seu nome era Gilda e estava desesperada, porque pingara remédio errado nos olhos de seu filho e o médico dissera que ele estava cego.
A
mulher negra, que a socorrera, permanecia em pé ao seu lado, queria protegê-la,
foi o que todos pensaram; tinha um olhar firme e profundo.
Gilda não sabia o que fazer, dizia
soluçando com a cabeça entre as mãos; queria sumir e apagar aquela visão de sua
mente. Estava em meio ao pior pesadelo que poderia ser imaginado por alguém.
Foi um acidente, ela não teve culpa, jamais faria mal ao seu filho. Ela queria
morrer, só ainda estava ali porque alguém teria que cuidar de Sandro e ela era
a mãe dele.
A mulher que a acompanhava nem sequer
dissera seu nome, entretanto, transmitia uma paz à Gilda, como ela nunca
sentira antes. As duas mulheres caminharam abraçadas e sentaram-se no banco da
praça em frente ao Hospital onde o menino estava. E, com a cabeça recostada no ombro amigo da
estranha, Gilda começou a voltar á realidade; seu marido ficara lá dentro,
depois de acusá-la de cegar o filho. Então, ela voltou a chorar e esconder o
rosto com as mãos.
- Nunca mais teria sossego, sua vida
terminava ali; estava muito cansada. Gilda lamentava enquanto as lágrimas
corriam pelo seu rosto. A mulher afagava seus cabelos como se fosse sua mãe.
Gilda sentia-se amparada pelos braços fortes e a ternura que emanava daquele
olhar.
- Desabafe minha filha, pode chorar,
estou aqui para ouvi-la, sussurrou a estranha.
Então, ela sentiu muita vontade de abrir
seu coração e começou a contar o que havia acontecido naquela madrugada.
Um
texto de Eva Ibrahim,
Continua
na próxima semana.