DE
MÃOS DADAS
CAPÍTULO
DOIS
Instintivamente, Marcelo estendeu a mão para Angel e, esta retribuiu o gesto
segurando na mão do rapaz, que começou a rezar uma Ave Maria, para a Santa de
sua devoção. Foi acompanhado pela jovem em sua oração e depois, juntos
agradeceram pelo livramento recebido. Em seguida, ele explicou que todo peão de
boiadeiro tem devoção à Nossa Senhora Aparecida, que é a protetora de todos
eles. E, pelo menos uma vez na vida, devem visitar a Basílica, no Santuário de
Aparecida do Norte, no Estado de São Paulo.
Logo em seguida, outro médico adentrou
ao recinto se apresentando e dizendo que os deixaria novos em folha. Olhou os
ferimentos e fez uma avaliação preliminar, então deu o veredito. Primeiro a
moça, cujo ferimento era menor e mais superficial, enquanto o rapaz teria que
ter uma atenção maior, pela gravidade da ferida.
Trinta minutos e Angel estava
liberada e com a receita na mão.
Levantou-se meio zonza e desejou boa sorte ao rapaz, que segundo o
médico, ficaria internado no hospital para observação e medicações necessárias.
O ferimento de Angel foi suturado
com dez pontos, pois foi decorrente do atrito com a quina do muro de cimento. Olga
amparou a filha e foram conversando até o táxi.
– Mãe, o Marcelo levou um coice do
seu próprio cavalo e poderia ter morrido. Ele disse que foi a Santa que o
salvou, Nossa Senhora Aparecida. Contou a menina, comovida.
- Sim, dizem que os peões fazem uma
oração para a Santa antes de entrarem na arena, em dias de rodeios. Afirmou sua
mãe.
Angel tinha muitas dores nas
escoriações sofridas ao cair. Sua cabeça latejava, pois, a anestesia havia
passado e parecia ter um coração na testa. Olga deu um analgésico para a filha e
apagou a luz do quarto, queria que ela dormisse um pouco.
Embalada pelo sono provocado pelo remédio
forte, dormiu e sonhou com um rodeio, no qual o Marcelo estava no lombo de um
touro bravo, que corcoveava sem parar. Em dado momento, ele foi atirado ao chão
e o seu chapéu voou longe. Ela correu e o apanhou do chão, então, viu a
medalha de nossa senhora pregada no chapéu de Marcelo. Enquanto a plateia
aplaudia, o peão era socorrido pelos ajudantes de arena.
Foi levado à enfermaria do posto
médico, ele tinha caído de mal jeito e Angel ficou tremendo de medo que ele tivesse
se machucado. A menina acordou assustada, aquilo tudo parecia ser muito real;
precisava ver o rapaz.
Logo pela manhã, ela ligou no
hospital para saber se ele estava bem e quando teria alta.
- Ele ainda está internado e o
restante somente o médico poderá lhe responder. O horário de visitas se dará a
partir das catorze horas e terá duração de uma hora. Em seguida, a atendente
desligou.
A menina ficou pensativa. Mal
conhecia o rapaz e já se importava com ele a ponto de ficar trêmula e
preocupada com sua situação. Iria visita-lo para saber se estava bem, ou não
poderia relaxar enquanto se recuperava. Não parava de pensar nas mãos quentes
do rapaz e na sua devoção à Nossa Senhora Aparecida.
Angel precisava vê-lo novamente,
disso ela tinha certeza.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa