TEMPOS ESCUROS
CAPÍTULO TRÊS
O Sol forte com sua luz brilhante deixava a
situação menos sinistra, mas o nervosismo do pai era evidente. Havia muitas
perguntas no ar e uma delas era:
- Será que aquele posto médico, daria conta de curar um
ferimento tão profundo na coxa do filho? Em sua simplicidade, o homem, ainda assim, conseguia ter essa dúvida.
Mais uma hora se passou, então, o médico apareceu
na porta em busca de Dirceu. Prontamente ele atendeu e entrou no consultório
para conversar com o doutor. Este estava abatido e preocupado com a situação do
paciente. Foi logo dizendo ao pai aflito:
- Fizemos uma limpeza no ferimento e
estabilizamos a perna fraturada, no entanto, não temos recursos suficientes
para mantê-lo aqui. Ele precisa de uma cirurgia na perna e somente um
ortopedista pode fazer esse tipo de procedimento.
Vou telefonar para a Santa Casa de Misericórdia
da capital e ver se consigo uma vaga, para manda-lo a um hospital maior. No
momento, ele está clinicamente estabilizado e poderá ser transferido em
ambulância.
Dirceu gaguejou e não conseguiu
protestar, o médico fora direto e definitivo. Ele já temia isso. Em seguida, foi levado ao
quarto e ficou ao lado do filho, enquanto o amigo se prontificou a buscar a mãe para ver o
menino.
E finalmente, no final da tarde a ambulância partiu
levando Benjamim, acompanhado do pai e de um enfermeiro. O destino era a Santa
Casa da cidade grande, uma esperança de recuperação.
Tereza ficou olhando o veículo
partir, junto do filho seguia o seu coração. Ela teria que cuidar da casa e da
família, não poderia deixar os outros dois filhos e o marido sozinhos. A vida
teria que continuar, ela sabia disso. No entanto, uma tristeza infinita tomou
conta daquela mãe.
Havia um nó na garganta e este cresceu tanto, que
ela deixou seu desespero correr pelo rosto em forma de lágrimas de dor. Então, quedou-se
na escada do posto médico, cobriu o rosto com as mãos e por meia hora
ouviram-se soluços dolorosos.
O amigo que a trouxera se aproximou
dizendo que era tarde, precisavam retornar. A mulher concordou e voltou para
sua casa, estava abalada, porém resignada, nada poderia fazer naquele momento.
Depois de três horas de estrada
chegaram à Santa Casa da cidade grande e lá ficou instalado o novo paciente.
Dirceu voltou para sua rotina, mas seu pensamento ficara com Benjamim. De vez
em quando, ele parava com seu trabalho na terra e ficava olhando o infinito,
rezando pelo menino.
Havia apenas um posto telefônico na cidade
mais próxima e era a telefonista quem realizava as ligações. A população de
toda a região procurava o local somente em casos urgentes. O telefone ainda era
um aparelho novo, rústico e poucos tinham acesso a ele.
Tereza não comia e chorava todas as
noites desde o acidente de Benjamim. Dirceu estava preocupado com sua esposa e
com o menino também, precisava de notícias urgentes. Ele temia que sua mulher adoecesse,
a tristeza era demais; nunca mais ela sorriu.
No sábado, depois de dez dias, o homem tomou a decisão de
telefonar para obter notícias do filho. O casal subiu na carroça e, decididos
foram até o posto telefônico. Aqueles eram tempos escuros e de recolhimento
espiritual para aquela família.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa