EM BUSCA DE LUZ
CAPÍTULO CINCO
Danilo sempre fora um bom marido e pai
amoroso até o dia do acidente, depois se tornou um homem amargo e arredio.
Gilda mal podia falar de futuro ou de planos para Sandro, que ele fechava a
cara e saia de casa; ia ao bar beber até altas horas. Quando chegava a sua casa
estava cambaleando e fedendo a álcool.
Gilda começou a ir à Igreja em busca de
apoio de Deus e do padre Guima. O velho pároco estava sempre disposto a ouvi-la
e compreender a situação da família. A mulher encontrara ali seu refúgio, onde
expunha seus anseios e problemas conjugais.
Foi lá que Gilda começou a perceber a sua
realidade e entender o marido. O padre Guima lhe explicou que Danilo sentia-se
esmagado pelo enorme desgosto de ver o filho cego. Pode ter sido devido ao fato
de nunca ter conhecido uma pessoa cega. Com certeza ele tinha uma ideia errada
de pessoas cegas, lembrando-se apenas dos cegos que vira na rua andando apoiados
em outras pessoas, dando-lhe a impressão de total dependência. Ele carregava um
preconceito que o fazia acreditar que Sandro sentiria a cegueira do mesmo jeito
que ele.
Traumatizado pelo desapontamento, o pai
demorou a perceber que o filho é apenas uma criança, e ser cego é somente um
aspecto de sua vida. A cegueira não o faz diferente das outras crianças, por
isso o pai deve aprender a lidar com o filho e ajuda-lo a superar a mudança,
ensinando lhe o caminho a ser trilhado.
O padre Guima prometeu à Gilda que iria
acompanha-la a uma escola para cegos, onde ela poderia ver que ali havia um
mundo especial, cheio de outras crianças iguais ao Sandro. Gilda precisava
convencer o marido a acompanha-los, pois, alguns pais sentem-se apoiados se
conversarem com outros pais na mesma situação. Aqueles que já ultrapassaram a
angustia dos primeiros meses servem de alento aos que ainda não se conformaram
com a nova realidade.
À medida que o tempo passa a criança
começa a se desenvolver e a criar independência, isto é, a andar pela casa sem
derrubar as coisas e a se localizar dentro de cada ambiente. Aprende a comer
sozinha, tomar banho, vestir-se e a cuidar de si mesma, tornando-se
independente.
Gilda pediu ao marido que a acompanhasse
e ao filho à escola que o padre Guima indicava. Ela queria conhecer o local e
saber da possibilidade de colocar o menino para se socializar com as outras
crianças. Danilo concordou em acompanha-los até a Instituição para crianças
cegas, faria tudo pelo filho; o amava ainda mais.
Sandro ficou alegre ao saber que iriam
passear de automóvel, todos juntos, até a Sofia iria acompanha-los. Chegando a
escola, foram recebidos pela Diretora que os levou para conhecer a Instituição.
Havia muitas crianças cegas naquele local, cada uma com uma história diferente;
as que já nasceram cegas e as que ficaram cegas depois de conhecer a luz. Todas
viviam na escuridão, entretanto, não eram infelizes; brincavam e riam como
todas as crianças daquela idade.
O segredo, explicou a Diretora, para
aquelas crianças estarem tão bem dispostas, chama-se amor, carinho e atenção;
elas têm que se sentirem amadas, estimuladas a pegar nos objetos e a reconhecer
as pessoas pela voz. Assim a curiosidade despertada as leva ao aprendizado. Elas
gostam de ouvir conversas e que falem com elas, porque a audição de uma criança
cega é muito aguçada; conseguem perceber sentimentos na voz de cada pessoa.
O passeio foi bom e produtivo, haviam
encontrado um lugar apropriado para o menino interagir com outras crianças e
não viver tão só. Gilda estava mais leve, chegava a sentir-se alegre. Sentia
que o padre Guima fazia o papel de seu anjo, ou seja, Dora a mulher negra
continuava ao seu lado, agora em uma versão diferente. Gilda percebia uma
energia boa e uma confiança muito grande no padre Guima, um sentimento que
nunca sentira antes por ninguém.
Danilo,
com Sandro seguro pela mão, parecia resignado. Sofia fazia parte daquela
família por opção e os acompanhava tristonha; trazia muitas recordações em seu
íntimo.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.