A DURAS PENAS
CAPÍTULO DOZE
A primeira cirurgia aconteceu em uma manhã de
segunda feira, com todo o suporte cirúrgico adequado e com o acompanhamento da
mãe, que não arredou pé da sala de espera. Só Deus sabe quantas orações foram
feitas por aquela mãe, que cansada de sofrer colocou tudo nas mãos de Deus e se
calou a espera do término da cirurgia.
Passava do meio dia quando o médico
apareceu para dizer que a cirurgia havia terminado e estava tudo bem. Então,
Clara saiu para comer alguma coisa e voltar em seguida para ver a filha.
Demorou quarenta e cinco dias para
Valentina andar ereta depois da cirurgia; até então, andava segurando a barriga com as mãos
e o corpo mantinha encurvado. Não houve intercorrências e a cicatrização foi
boa, mas, houveram muitas queixas e lamúrias. Várias visitas ao médico e
finalmente fora marcada a próxima cirurgia contra a vontade de Valentina, que
nos piores momentos dizia:
- Não vou fazer mais nada, pois
tenho muitas dores e vou morrer solteira, quero ficar feia para sempre. E, saia
de cara feia batendo portas.
Clara chorava em silêncio, pois
sabia que a filha já havia sofrido muito e ainda não terminara; havia muita
coisa a ser feita. Então, se ajoelhava no chão e pedia a ajuda de Deus; era
tudo o que poderia fazer.
Com seis meses da primeira cirurgia
era hora de fazer as mamas. Valentina estava bem e concordou em colocar
silicone, sua barriga estava ótima. Feita a correção mamária e observada todas
as orientações médicas parecia que, finalmente, o complexo de inferioridade a
deixara em paz; ela já não fugia do espelho.
Tornara-se uma moça bonita e tomara
gosto pelo espelho. Valentina começara um namoro com o Ferrugem, que era
apaixonado por ela. Dali para o resto das correções foi fácil, havia total
colaboração da paciente.
Em dois anos, todas as correções
foram feitas e apareceu uma nova mulher, que queria se casar e ser feliz, como
toda jovem. Clara sorria, quando ouvia elogios à sua menina, que um dia tentara
o suicídio por ser gorda e se achar feia. Finalmente, a duras penas, se
revelara uma beleza pura, todos diziam.
Um
texto de Eva Ibrahim.