A FÉ MAIOR
CAPÍTULO OITO
Alda
estava animada, parecia ter descoberto a saída para todos os seus problemas. A
igreja lhe dava forças para acreditar que Vitório voltaria a ser a mesma pessoa
de antes do acidente, ou talvez melhor que antes, já que era um homem violento
e grosseiro. No entanto, de qualquer maneira seria melhor que aquele que se
apresentava no momento.
A mulher depositava toda sua esperança nessa
fé que crescia em seu coração. O Deus dos milagres ouvia todas as preces
sinceras e atendia a quem tinha merecimento, dizia o Pastor da Igreja
Evangélica. E, ela presenciava os testemunhos dos fiéis, que se emocionavam ao
contar as graças recebidas.
Os
cultos eram elucidativos e tocantes; a música tocava a alma. Alda tinha
consciência de que era uma pecadora, mas pedia perdão a Deus todos os dias e
agradecia por tudo que recebia; então, esperava por um milagre em sua vida. No
entanto, ela não percebia que o milagre já estava acontecendo, pois, a alegria e
a esperança tomaram conta de seus dias.
O rapaz estava alegre e trouxera
boas notícias; dois homens que presenciaram o acidente depuseram a favor de
Vitório. Afirmaram, em depoimento, que o caminhoneiro não vira o menino, que
caiu da bicicleta atrás das rodas do veículo. Com esses esclarecimentos, o
Delegado dissera que melhorou muito a situação de Vitório e o juiz poderia
mandar arquivar o caso. Entretanto, ele poderia ser condenado a prestar
serviços à comunidade por estar bêbado.
Quando Vitório chegou o irmão
mal o reconheceu; estava sujo, barbudo e cabeludo. Abrindo os braços, Valmir
gritou:
- De cá um abraço, burro velho, trago
boas notícias. Duas testemunhas depuseram a seu favor; ânimo homem.
Os olhos de Vitório encheram-se
de lágrimas, realmente não vira o menino.
– Foi um acidente, não tive culpa.
- Depois vamos ao barbeiro para cuidar
dessa carcaça velha, quero que fique apresentável. Amanhã você tem uma
audiência com o Juiz. Enfatizou Valmir autoritário.
Finalmente o homem esboçou um
sorriso; em seguida agradeceu ao irmão, abraçando-o.
Alda também abraçou o marido,
que estava afastado do mundo desde o acidente. A velha mãe acariciou os cabelos
maltratados do filho, que se virou e recebeu um beijo carinhoso. As crianças se
aproximaram e abraçaram o pai com amor. Ana se afastou dizendo que o pai estava
fedido e todos caíram na risada.
- É a mais pura verdade, cheira a
lixo podre, deve tomar um banho urgente; disse a menina saindo da sala.
Ninguém
se importou com a grosseria da filha, estavam felizes com a possibilidade
daquela tortura acabar. Valmir saiu dizendo que iria ao mercado fazer umas
compras para o jantar. Foi acompanhado das crianças, que queriam comprar
guloseimas. Enquanto isso, Vitório tomava banho para tirar a sujeira, que juntara
nos dias escuros que vivera.
Alda
entrou em seu quarto, se ajoelhou ao lado da cama e agradeceu a Deus, que
estava atendendo suas súplicas. Sentia-se em estado de graça, pois, em seu
peito existia uma fé maior que tudo. Ela podia perceber a presença do Deus dos
milagres em sua vida.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima
semana