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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

"NA VIDA E NO AMOR NÃO TEMOS GARANTIAS. PORTANTO, NÃO PROCURE POR ELAS... VIVA O QUE TEM QUE SER VIVIDO... SEM MEDOS... O MEDO É UM DOS PIORES INIMIGOS DO AMOR E DA FELICIDADE". ARNALDO JABOR


ENTRE OS LÍRIOS

 A CHUVA FINA

CAPÍTULO UM
           A chuva castigava a região fazia uma semana, os transtornos estavam por toda parte. Quedas de barreiras, rios acima do nível causando inundações e as ruas da cidade cheias de lama, que desceram pelas encostas dos morros. Assim se apresentava o domingo naquela cidade do interior de Minas Gerais.

           As ruas escorregadias provocaram diversos acidentes e entre eles, estava a derrapagem de um motoqueiro. Fernando, o dono da pizzaria daquela região, sofrera um grave acidente ao entardecer daquele dia.

             Ele saíra para fazer uma entrega, pois seu ajudante faltara ao trabalho. Era um domingo e a pizzaria estava cheia, o que o deixava satisfeito, a féria do dia seria boa. Ele precisava saldar dívidas acumuladas há algum tempo.

               Saiu apressado, tinha muito serviço e poucos funcionários. Com a recessão instalada no país sobraram dois funcionários, para ajudar no seu comércio, o restante precisou ser dispensado. Marília, a esposa, ficou encarregada do caixa e Fernando passou a atender o balcão, juntamente com o rapaz que fazia as entregas. Na cozinha ficaram o pizzaiolo e o filho do casal, Lorenzo de 16 anos, que ajudava no preparo das pizzas.

            Durante a semana, o movimento era tranquilo, mas aos domingos o trabalho apertava. Havia indicadores de recuperação do comércio alimentício, deixando Fernando animado. E, naquele dia frio e chuvoso, muita gente apareceu para jantar pizza e, também recebeu outros tantos pedidos, para serem entregues em suas casas. Fernando se desdobrava, mas com a falta do rapaz, que estava doente, ele teve que sair para fazer as entregas. Lorenzo ficou atendendo o balcão.

            O motoqueiro seguia distraído com tantos pensamentos aflitivos, queria dar conta da freguesia, mas estava difícil. Acelerou e derrapou na curva, batendo a cabeça na traseira de um ônibus. A moto entrou para debaixo do veículo e ele ficou estatelado no chão. No primeiro momento, ele tentou se erguer, mas sua cabeça doía muito e corria sangue pelo rosto até sua boca. Um gosto salgado o fez cuspir enojado, era sangue quente, que descia da cabeça.


            Deitou e percebeu que havia muita gente ao seu redor. Tentou se erguer novamente e foi contido por um homem, que tentava estancar o sangue com um pano e acalmá-lo. Então, relaxou e sentiu dores lancinantes em sua perna, que não obedecia ao seu comando. Lágrimas correram pelo seu rosto, misturando-se ao sangue e para piorar começou a chover.

             A demora na chegada do socorro e a chuva fria o estavam enregelando. Ele ficara estendido sobre uma pasta de sangue e lama misturados. A dor era tanta que ele pressentiu que iria desmaiar, então, ouviu a sirene do corpo de bombeiros se aproximar. Em seguida, mergulhou em uma escuridão total, estava inconsciente.

             A conclusão a que chegou, posteriormente, é que se tivesse morrido, não teria sentido nada, pois não se lembrava de nada além da sirene do carro dos bombeiros. O médico explicou que ele sofrera um choque hipovolêmico, pela perda excessiva de sangue e em consequência perdeu a consciência.

            Poderia ter morrido se não fosse atendido prontamente com a reposição de volume no corpo. Na sala de cirurgia ele foi sedado e intubado para proteger seu cérebro. Além do corte profundo no couro cabeludo, havia inchaço no cérebro, o trauma fora violento. Explicou o médico para a esposa de Fernando, que aguardava ansiosa por notícias do marido. 

               Depois de vários dias ele foi extubado para recobrar a consciência. Marília estava ao seu lado quando ele acordou. Fernando abriu os olhos e assustado perguntou:

                - Onde estou, o que aconteceu? Parecia não se lembrar de nada.

                 - Está no hospital, você sofreu um acidente com a moto no domingo. Respondeu sua esposa aflita.

                 A perna direita estava imobilizada com muitas ataduras, em seguida, ele levou a mão à cabeça, que doía em pontadas, e encontrou mais ataduras. Olhou para suas mãos e estas estavam cheias de arranhões. Duas lágrimas correram de seus olhos, então ele indagou:
               – Que dia é hoje?

               – Sexta-feira, hoje faz cinco dias que você está aqui no hospital. Os médicos fizeram uma cirurgia em sua perna, que estava quebrada e suturaram sua cabeça com quinze pontos. Agora está tudo bem, fica sossegado. Concluiu sua esposa, tentando acalmá-lo.

         Fernando tentou se levantar e caiu para trás com dores lancinantes na cabeça. Estava sentindo um enorme vazio, um corpo pesado e não se lembrava de quase nada, apenas da chuva fina molhando seu corpo ferido e uma sensação de morte iminente.

            Com muita dor na cabeça ele forçou a mente e disse que ficou um tempo sentado em meio a uma plantação de lírios brancos. Lá havia muita luz e paz. Em seguida, cobriu os olhos com os braços, começou a gemer e depois passou a gritar de dor.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa.

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