O
CHORO DOÍDO
CAPÍTULO DOIS
Adele insistiu, queria saber o que
acontecera com Rafael, mas, ninguém se dispunha a lhe dizer a verdade. Diziam
apenas, que ele passara mal enquanto jogava basquetebol. Seguiram de automóvel
os poucos quarteirões que separavam o portão de entrada do clube e a casa de
Adele. Ela mal teve tempo de colocar as ideias no lugar, estava vivendo um
pesadelo.
Quando adentraram ao pátio lateral,
de onde dava para ver a quadra de basquete, Adele viu que lá havia uma
aglomeração. Então, colocou a mão na
boca para calar um grito inesperado; no fundo ela sabia que o caso era muito
grave. Em seguida, ao se aproximar ela viu um corpo coberto com um pano branco e
o grito espremido saiu dolorido; era seu marido que estava estendido sob aquele
tecido branco.
Adele correu em direção ao local,
porém não obteve êxito, foi contida por algumas pessoas ali presentes.
Sentaram-na em uma cadeira e trouxeram água com açúcar para ela se acalmar.
Durante este tempo as suas filhas chegaram para apoiar a mãe e todas gemeram em
alta voz. Rafael, marido e pai exemplar estava morto, caído na quadra de
basquetebol.
Enquanto aguardavam o
carro do Instituto Médico Legal (IML), a polícia montava guarda para que
ninguém se aproximasse do corpo inerte. A família, desesperada, queria ver o
seu ente querido e, depois de algum tempo a mulher e filhas puderam se
aproximar.
O choro tomou conta da maioria das pessoas que ali estavam. Até os
homens disfarçavam uma ou outra lágrima que teimava em cair. Adele era a desolação
em pessoa, trazia nos olhos a dor e a tristeza da perda. Ficou parada olhando o
rosto pálido e sem vida de Rafael. Aos poucos a aglomeração foi se dispersando
e ficaram alguns amigos e a família aguardando o IML.
As horas foram passando e o seu
marido permanecia caído no chão duro da quadra de basquete; então,
inesperadamente ela começou a gritar. Queria leva-lo para casa; não era justo
ele ficar ali sem assistência. A polícia argumentou que ele estava morto e
tinham que obedecer às leis; ninguém poderia mexer no corpo.
Amparada
pelas filhas ela se afastou e foi chorar em outro canto. E, quando ela viu o
carro do IML adentrar ao local ela se desesperou novamente. Três homens
vestidos de roupas brancas e luvas desceram do carro e pegando um cocho
abaulado colocaram o corpo dentro e, depois empurraram-no de qualquer jeito
para dentro do carro. Então, saíram em desabalada carreira deixando para trás
uma família desesperada e sem saber o que fazer.
No entanto, naquele momento nada poderia ser
feito, deveriam esperar a liberação do corpo. Adele e as filhas caminharam para
a casa em completa solidão, Rafael já não estava presente. O domingo se
despedia deixando o escuro da noite tomar conta de tudo.
Um texto de Eva Ibrahim
Continua na próxima semana.