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quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

"PORTANTO, NÃO SE PREOCUPEM COM O AMANHÃ, POIS O AMANHÃ SE PREOCUPARÁ CONSIGO MESMO. BASTA A CADA DIA O SEU PRÓPRIO MAL". MATEUS 6:34

                     NA BERLINDA

CAPÍTULO ONZE
            A mulher mantinha-se na cama quieta e com os olhos fechados; o sono demorou a voltar. Dava para ouvir os barulhos da roça, um latido de cães ao longe, que era respondido em diversos lugares e distâncias diferentes. Uma melodia canina fazendo eco na madrugada, com pequenos intervalos de silêncio.

           Na árvore, perto da janela do quarto do casal, havia corujas piando, uma, duas, três, eram várias e deixavam os sentidos de Teresa aguçados. Não gostava da presença de corujas, traziam mensagens de mau agouro, segundo o consenso popular.

          Havia muitas perguntas no ar e não havia respostas possíveis, naquela noite de Natal. O dia amanheceu e quando Teresa acordou de um breve cochilo, Dirceu não estava mais na cama. Levantara-se muito cedo e saíra para ver a destruição do incêndio diante da luz do dia. Os estragos no rancho foram pequenos, os maiores estavam dentro do peito de Dirceu.

            Ele estava nervoso e muito bravo com tudo aquilo. Preferia ficar calado até a raiva abrandar ou acabaria por ofender sua mulher no dia de Natal. Ela não merecia, Teresa era uma boa mulher e também uma mãe amorosa.

Quanto ao Benjamim, este lhe dava muitas preocupações, temia pelo seu futuro. Ainda não vira as queimaduras nas mãos do filho, teria que enfrentar mais essa situação. Seu coração estava escuro, triste por ver o menino sofrendo física e emocionalmente.

Dirceu sentia saudades de quando via o filho montado a cavalo, correndo pelos pastos sem camisa. Parecia forte e imbatível, no entanto, agora Benjamim ficava contido em uma cama. Não estava fácil para ninguém, havia nuvens de desconfortos no ar.

 O pai entendia o que o menino fizera e também não encontrava culpados para aquela atitude intempestiva. Antonio, seu cunhado, nem sabia do acidente e trouxera a bicicleta para alegrar os sobrinhos, não seria justo culpa-lo pela frustração do afilhado.

            O Sol brilhava forte e aquele seria um Natal diferente, todos cansados e com mágoas uns dos outros. Mas, ele não estragaria o que restava do dia tão esperado. Pensou no nascimento do menino Jesus, era um dia de alegria para todos os cristãos. Iria tomar algumas atitudes para pacificar os ânimos.

           Voltou para casa e encontrou Teresa fazendo café. Aproximou-se dela e beijou seu pescoço, ela deu um passo atrás, então, Dirceu a abraçou e disse:
            - Feliz Natal mulher, eu te amo. Não vamos estragar o Natal dos meninos reunidos. Em seguida a beijou.

            - Obrigada homem, também te amo, vamos fazer de conta que não aconteceu nada nesta noite. Vou fazer um almoço especial de Natal.

            Em seguida, foram ver Benjamim, que gemia baixinho enquanto cochilava. Dirceu disse a Teresa que iria buscar Bibiana para fazer curativo nas mãos do filho.

            A curandeira ficou preocupada com as queimaduras nas mãos do menino e disse ao casal:

              - É melhor leva-lo ao médico, isso pode infectar e piorar a situação de Benjamim. Em alguns pontos a queimadura foi profunda.

             O homem, então, disse que faria isso no dia seguinte.

            – Vou leva-lo até o posto médico da vila, para conseguir um remédio para aliviar as dores das queimaduras. 

          A curandeira concordou com a cabeça e seguiu de volta para sua casa, ficara realmente preocupada. As queimaduras não eram apenas superficiais, careciam de cuidados médicos e teriam um longo processo de recuperação. Em sua sabedoria popular ela tinha esse entendimento.

                  Benjamim sentia muitas dores, mas evitava reclamar, pois tinha quatro olhos de censura, o tempo todo, pregados nele. Rui e Marília não o perdoavam por ter estragado a bicicleta. Ela ficara encarregada de levar e oferecer os alimentos para o irmão. Rui, o irmão mais velho, deveria ajudar em sua locomoção para o banheiro e arrumar suas calças, pois Benjamim tinha as mãos queimadas.

          Os dois sentiam raiva de Benjamim e ainda tinham que passar por criados dele, isso era terrível; estavam revoltados. Ficavam calados para não aborrecer a mãe, mas olhavam com olhos que fuzilavam o irmão. O menino estava na berlinda e precisava da ajuda de todos, até para suas necessidades íntimas.

           Com Benjamim acuado e os irmãos irados, foi assim, que transcorreu o dia de Natal da família.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa.

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