MOSTRAR VISUALIZAÇÕES DE PÁGINAS

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

"AMAR" "QUE PODE UMA CRIATURA SENÃO, ENTRE CRIATURAS, AMAR? AMAR E ESQUECER, AMAR E MALAMAR, AMAR, DESAMAR E AMAR? SEMPRE, E ATÉ DE OLHOS VIDRADOS, AMAR?" CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

A POMBINHA

CAPÍTULO QUATRO
            No dia da mudança, a família de Alceu não teve tempo de ir ao hospital; havia muito trabalho a ser feito. E, no dia seguinte souberam que ele tivera um agravo à sua saúde. Começou com febre alta durante a noite e teve, no decorrer do dia, uma parada cardíaca, que muito preocupou os médicos. Conseguiram reverter o quadro e o paciente voltou à vida, mas ainda corria riscos, pois, desenvolvera um foco infeccioso.

           Seguiram-se dias preocupantes, cheios de medos e incertezas. O paciente parecia debilitado e aumentava o temor de que ele nunca mais voltasse à lucidez. Estava preso em uma cama e ligado ao oxigênio por uma traqueostomia; ficaria em um estado vegetativo por tempo indeterminado. Este pensamento estava preso em cada pessoa da família e do hospital, mas ninguém se atrevia a falar.

           Mais uma semana se passou sem novidades, fazia um mês que ele tivera contato com o agrotóxico. Os médicos diziam que Alceu estava melhor, já não tinha febre, mas não sabiam porque ele ainda não acordara. As drogas foram suspensas fazia três dias e ele continuava inconsciente. Estavam aguardando algum sinal ou reação de retorno à consciência.

               No domingo à tarde, a mãe estava ao lado da cama do filho, quando ela percebeu um movimento nas pálpebras do rapaz. Em seguida, ele mexeu as mãos e quando ela apertou a mão dele, recebeu um aperto de volta. A mulher, então o chamou pelo nome:

             - Alceu? Filho, estou aqui, abra seus olhos, por favor.

             E, para sua surpresa, ele abriu os olhos. A mãe ficou tão feliz que o beijou na face deixando cair lágrimas em seu rosto.

               - Mãe? A pombinha ainda está lá no abrigo?

                - Onde? Como?

               - Na garagem da casa nova.

               - Como você sabe da casa nova?

               - Eu vi vocês mudando e lá na casa nova tinha um ninho em meio as telhas do abrigo. Era uma pombinha cinza, pequena, aquelas do mato, chocando dois ovinhos.

               A mulher não entendeu nada, espantada se perguntou:

             - Como é possível ele saber disso, se estava em coma no hospital?
Mas ela estava feliz por ver que o filho estava bem e disse calmamente:

           - Não sei, mas vou verificar e depois trago notícias.

Quirino recebeu a notícia da recuperação de Alceu com alegria e curioso, foi ver se realmente existia um ninho no telhado da garagem.

              André e o pai subiram no telhado e quando levantaram a telha ficaram em estado de choque. Lá estavam os dois filhotinhos, recém-saídos das cascas dos ovos, de boca aberta esperando comida. Trataram de cobrir o vão novamente e descer do telhado, para esperar a mãe dos pombinhos.

             Sentaram-se nas cadeiras da área da frente e ficaram aguardando a chegada da mãe. Logo surgiu uma pombinha caipira com uma minhoca no bico; fez uma parada no vaso de samambaia e depois pulou para o vão do telhado. Estava confirmada a visão de Alceu, mas como explicar isso? Havia espanto, incertezas e dúvidas nos olhares do pai, da mãe e do irmão André; estavam sem rumo.

              A mãe foi a Igreja, conversou com o padre expondo suas dúvidas e incertezas. Este ouviu calado e depois disse:

           - Senhora, existem coisas que são inexplicáveis, me parece que seu filho teve uma experiência de quase morte, isto é uma EQM. Trate isso com leveza e agradeça a Deus pela recuperação do rapaz, depois, se quiser pode pesquisar sobre isso. Existem muitos relatos sobre este assunto e trabalhos sérios de pesquisas científicas.

           A mulher voltou para casa com uma sensação estranha, o seu filho tinha visões. Ela não sabia se aquilo era do bem ou do mal, tinha medo do desconhecido. 
            - Será que Alceu está ficando louco? Pensou e uma ruga de preocupação fincou em sua testa.

 Quirino também não entendia nada daquilo e abraçando sua mulher disse:

        - Estou com medo de tudo isso, Deus que nos proteja.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa

MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.