A POMBINHA
CAPÍTULO
QUATRO
No dia da mudança, a família de
Alceu não teve tempo de ir ao hospital; havia muito trabalho a ser feito. E, no
dia seguinte souberam que ele tivera um agravo à sua saúde. Começou com febre
alta durante a noite e teve, no decorrer do dia, uma parada cardíaca, que muito
preocupou os médicos. Conseguiram reverter o quadro e o paciente voltou à vida,
mas ainda corria riscos, pois, desenvolvera um foco infeccioso.
Seguiram-se dias preocupantes,
cheios de medos e incertezas. O paciente parecia debilitado e aumentava o temor
de que ele nunca mais voltasse à lucidez. Estava preso em uma cama e ligado ao
oxigênio por uma traqueostomia; ficaria em um estado vegetativo por tempo indeterminado.
Este pensamento estava preso em cada pessoa da família e do hospital, mas
ninguém se atrevia a falar.
Mais uma semana se passou sem
novidades, fazia um mês que ele tivera contato com o agrotóxico. Os médicos diziam
que Alceu estava melhor, já não tinha febre, mas não sabiam porque ele ainda
não acordara. As drogas foram suspensas fazia três dias e ele continuava
inconsciente. Estavam aguardando algum sinal ou reação de retorno à consciência.
No domingo à tarde, a mãe estava
ao lado da cama do filho, quando ela percebeu um movimento nas pálpebras do
rapaz. Em seguida, ele mexeu as mãos e quando ela apertou a mão dele, recebeu
um aperto de volta. A mulher, então o chamou pelo nome:
- Alceu? Filho, estou aqui, abra
seus olhos, por favor.
E, para sua surpresa, ele abriu os olhos.
A mãe ficou tão feliz que o beijou na face deixando cair lágrimas em seu rosto.
- Mãe? A pombinha ainda está lá
no abrigo?
- Onde? Como?
- Na garagem da casa nova.
- Como você sabe da casa nova?
- Eu vi vocês mudando e lá na
casa nova tinha um ninho em meio as telhas do abrigo. Era uma pombinha cinza,
pequena, aquelas do mato, chocando dois ovinhos.
A mulher não entendeu nada,
espantada se perguntou:
- Como é possível ele saber disso,
se estava em coma no hospital?
Mas
ela estava feliz por ver que o filho estava bem e disse calmamente:
- Não sei, mas vou verificar e
depois trago notícias.
Quirino
recebeu a notícia da recuperação de Alceu com alegria e curioso, foi ver se
realmente existia um ninho no telhado da garagem.
André e o pai subiram no telhado e
quando levantaram a telha ficaram em estado de choque. Lá estavam os dois
filhotinhos, recém-saídos das cascas dos ovos, de boca aberta esperando comida.
Trataram de cobrir o vão novamente e descer do telhado, para esperar a mãe dos
pombinhos.
Sentaram-se nas cadeiras da área
da frente e ficaram aguardando a chegada da mãe. Logo surgiu uma pombinha caipira
com uma minhoca no bico; fez uma parada no vaso de samambaia e depois pulou
para o vão do telhado. Estava confirmada a visão de Alceu, mas como explicar
isso? Havia espanto, incertezas e dúvidas nos olhares do pai, da mãe e do irmão
André; estavam sem rumo.
A mãe foi a Igreja, conversou com
o padre expondo suas dúvidas e incertezas. Este ouviu calado e depois disse:
- Senhora, existem coisas que são
inexplicáveis, me parece que seu filho teve uma experiência de quase morte,
isto é uma EQM. Trate isso com
leveza e agradeça a Deus pela recuperação do rapaz, depois, se quiser pode
pesquisar sobre isso. Existem muitos relatos sobre este assunto e trabalhos
sérios de pesquisas científicas.
A mulher voltou para casa com uma
sensação estranha, o seu filho tinha visões. Ela não sabia se aquilo era do bem
ou do mal, tinha medo do desconhecido.
- Será que Alceu está ficando louco? Pensou e uma ruga de preocupação fincou em sua testa.
Quirino também não entendia nada daquilo e
abraçando sua mulher disse:
- Estou com medo de tudo isso, Deus que
nos proteja.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa