CAPÍTULO
SEIS
Na manhã de sexta-feira, começa o
translado da imagem da Virgem Peregrina. Bem cedo é rezada a missa na Basílica
da Virgem de Nazaré e as oito horas da manhã, acontece a procissão do Círio,
que é o translado até a cidade de Ananindeua.
A saída ocorre em frente a Basílica e percorre
cerca de cinquenta quilômetros, até chegar à Igreja de Nossa senhora das Graças, na cidade vizinha. A caminhada dura dez horas, chegando ao destino as dezoito
horas. Durante o trajeto, essa procissão deve envolver mais de um milhão de
pessoas.
Edileusa e Caetano estavam
prontos, para acompanhar a imagem da Santa até Ananindeua. Ela queria cumprir
sua promessa, que consistia em rezar um rosário inteiro, durante a romaria. Com
muita fé no coração, os dois seguiam a multidão, da qual emanava muita energia
positiva. Milhares de pessoas em oração são agradáveis aos olhos dos céus e ali, não
havia nenhuma nuvem no horizonte de Belém do Pará, era um dia perfeito.
O religioso que celebrou a missa pela manhã,
seria o mesmo que celebraria a missa vespertina, antes de iniciar a vigília
noturna. Durante toda a noite, milhares de devotos permaneceram em frente à
igreja de Nossa Senhora das Graças. Assim, aconteceu o translado da imagem da
Virgem Peregrina.
No sábado de manhã, a romaria rodoviária saiu em direção a cidade de Icoaraci. Durante o trajeto, a imagem da
Santa recebeu homenagens dos devotos em bares, restaurantes, postos de
combustíveis, condomínios e vilas a beira da estrada. Por onde passou, em carro
aberto, foi aplaudida e reverenciada.
Caetano e Edileusa pegaram carona em
uma caminhonete de conhecidos e fervorosamente acompanhavam a procissão de
milhares de veículos. A moça tinha o pensamento fixo no rosário, que trazia nas
mãos. Ela procurou em diversas lojas de produtos religiosos, para encontrar um
rosário. Diferente do terço, o rosário tem vinte dezenas e duzentas Ave-Marias,
que correspondem a quatro terços.
“Segundo a tradição católica, o nome
de Rosário foi dado, pois a cada Ave-Maria que rezamos é como se entregássemos
uma rosa à Nossa Senhora. No final de duzentas rezas, entregamos um lindo buquê
de rosas à Virgem Santíssima”.
Edileusa continuava suas orações
em voz baixa e concentrada, era a sua promessa para a Virgem de Nazaré. Sentada
no fundo da carroceria do veículo, nada a dispersava. Caetano se mantinha
próximo para protege-la de solavancos, que poderiam machucá-la.
Chegando a Icoaraci iniciou-se o
posicionamento da comitiva da imagem da Santa, para começar a romaria do Círio
fluvial. A imagem seguiu de barco pela baia de Guajará de Icoaraci, até o porto
de Belém. Formou-se uma procissão de barcos pesqueiros, jet Skis, canoas, iates
enfeitados e outros, para homenagear a santa.
O casal continuava firme no
propósito de acompanhar a imagem, até sua chegada à Basílica. Edileusa
continuava com o Rosário nas mãos, em uma súplica contínua. Quando o barco em
que o casal se encontrava passou pela embarcação, em que a Santa estava, a moça
jogou uma rosa, com seu pedido de socorro.
Ela não percebeu, mas a rosa ficou
enroscada no barco entre outras flores. A romaria seguiu em frente até o porto
de Belém e a partir da Estação das Docas iniciou-se a moto-romaria. Era
composta de muitas motocicletas enfeitadas, que partiram buzinando
freneticamente em homenagem a Virgem, até o Colégio Gentil Bitencourt. Por todo
o trajeto anunciavam a passagem da Imagem da Santa.
Então, na noite do sábado ocorreu a
transladação, que é realizada a pé. A
Imagem peregrina é colocada em uma berlinda, que é atrelada a uma corda de 400
metros e puxada pelos devotos até a Catedral da Sé. A corda é feita de sisal e
é disputada pelos fiéis, que querem segurá-la para ficar bem perto da berlinda,
onde está a imagem, formando assim, um cordão humano ao longo da corda.
Além dos carros de promessas,
onde pode-se observar velas do tamanho das pessoas, existem os membros humanos
em cera, esculturas de partes do corpo, casas, barcos e outros bens em
miniaturas, oferecidos pelos devotos, em agradecimento aos milagres recebidos. Vale
tudo para demonstrar agradecimentos, os fiéis vão descalços, com crucifixos, com imagens da santa e outros objetos relacionados aos milagres recebidos. Pode-se observar crianças vestidas de anjos, para cumprir promessas de seus pais, que vão
acompanhando a romaria.
A procissão do Círio reúne cerca de
dois milhões de pessoas e é o ponto alto da festa, que sai da Catedral da Sé
até a Basílica de Nazaré.
Edileusa e Caetano, também,
estavam segurando na corda, que tinha quatrocentos metros e pesava setecentos
quilos. E, ao chegar ao destino, a romaria se concentrou em frente à Basílica e
os devotos atacaram a corda, cortando-a, para cada um levar um pedaço para casa,
pois acreditam dar sorte.
A moça saiu com um palmo da corda,
que o seu namorado conseguiu cortar com um canivete. Ambos estavam orgulhosos
pelo feito, a corda lhes passava a certeza da promessa cumprida.
O rosário foi dependurado na parede
da sala de sua mãe, com a recomendação de deixa-lo ali para sempre. Edileusa
estava serena, entregara o buquê de rosas prometido à Virgem de Nazaré e tinha
consigo o pedaço da corda, que para ela era uma relíquia.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa
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