MOMENTOS DIFÍCEIS
CAPÍTULO DOIS
A ambulância adentrou ao pátio do
Hospital com a sirene ligada e logo apareceram os enfermeiros para levar a
mulher para dentro. Ela foi conduzida à sala de emergência e teve um
atendimento rápido, pois, seu caso inspirava cuidados. Estava em trabalho de
parto prematuro com fortes contrações e níveis pressóricos elevados.
Apresentava um quadro de pré-eclâmpsia; um caso crítico que exigia atitudes
médicas emergenciais.
Olívia foi conduzida parra o Centro
Obstétrico, onde ficaria em rigorosa vigilância, aguardando os medicamentos
agirem. O médico foi categórico ao explicar à paciente, que seu filho poderia
nascer prematuro e ficar na incubadora por tempo indeterminado. Tentariam
inibir o trabalho de parto, porém, se o quadro se agravasse o parto teria que
acontecer, para o bem de mãe e filho.
A gestante sentiu medo, não poderia
perder aquele filho, que já era muito amado. Pediu à presença da assistente
social, precisava avisar a avó do bebê, que posteriormente avisaria o pai da
criança. Algumas horas depois, D. Estela, chegou ao Hospital, estava esbaforida.
A velha senhora precisava ter notícias da mulher de seu filho e do neto também.
A mulher idosa estava nervosa e ficou
pior ainda quando soube que Olívia estava na sala de cirurgia; o bebê estava
nascendo. Ela procurou a capela do Hospital, precisava conversar com Deus;
somente ele poderia ajuda-la. Olívia se envolvera com seu filho por intermédio
dela e ela sentia-se culpada pelo desenrolar da situação.
Finalmente, o pequeno bebê veio ao
mundo e foi levado para a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Era prematuro
e de baixo peso; inspirava cuidados. Olívia foi conduzida à Unidade de Terapia
Intensiva de adultos, também necessitava de cuidados especializados. D. Estela
viu o neto, por um instante, quando foi levado para a incubadora. Depois, a
mulher foi caminhando cabisbaixa para sua casa. Havia uma nuvem parada no ar,
tamanha era sua preocupação. Aquele bebê era muito pequeno, talvez não
vingasse, pensou a mulher com o semblante fechado.
Enquanto Olívia se recuperava da
cesariana, alguém se preocupava com a falta de notícias. João Paulo sentia que
alguma coisa estava errada, Olívia não fora visita-lo no domingo e sua mãe
dissera que a mulher não estava passando bem. Durante a noite ele tivera um
sonho ruim, por isso estava apreensivo.
De dentro da Penitenciária ele não
poderia se comunicar com ninguém, teria que pedir à assistente social que
entrasse em contato com sua mãe. O detento aguardou ansiosamente notícias de sua
família. E, quando a notícia chegou, ele suspirou fundo, sabia que alguma coisa
ruim estava acontecendo.
Não
era um homem de fé, pelo contrário, andara por caminhos tortuosos, por isso
estava ali cumprindo pena. Porém, agora que encontrara o amor, não poderia
perdê-lo, então, a única coisa que poderia fazer era pedir a Deus que os
guardasse, a mãe e o filho, que ele queria conhecer.
Alguns dias se passaram até que Olívia
foi para o quarto, estava fora de perigo. Durante os dias que passara na UTI, somente D. Estela a visitara, agora a visita fora liberada. A Cida, a dona da
loja, queria ver a mulher e continuar a conversa que fora interrompida. A
comerciante gostava de uma fofoca e essa parecia ser das boas, iria visitar a
cliente.
Olívia parecia bem disposta, depois de
tudo que passara e ficou feliz com a presença de Cida, precisava conversar com
alguém para desabafar. Sentia saudades de Renato e de Raquel, mas eles não
queriam saber dela; isso a magoava muito. Entretanto, agora ela tinha o Pedro,
seu pequeno menino, que logo o levaria para casa, assim esperava; disse a
mulher esperançosa.
Logo que D. Estela saiu, Cida
sentou-se ao lado da cama, queria ouvir aquela história; estava pronta, disse
sorrindo para Olívia. Então, a mulher começou a contar sua história. Estava
casada fazia vinte e cinco anos, ela e o marido saíram para comemorar as bodas
de prata; estava feliz. Antônio, o marido, era caminhoneiro e estava sempre viajando.
Os filhos trabalhavam durante o dia e à noite frequentavam a faculdade.
Ela ficava muito tempo só, até gostava; saia
quando queria. Vivia tranquila, não lhe faltava nada, disse Olívia com um
sorriso maroto e certa malícia no olhar.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.