O ARCO ÍRIS
CAPÍTULO NOVE
Em parte, a noite foi tranquila, pois os fantasmas de Marília se afastaram ou deram um
tempo. Ela sentia-se muito feliz por saber que Fernando estava consciente; ele
voltara à vida. Dormiu, mas, na madrugada teve um sono tribulado, acordou sobressaltada e sentou-se na cama. Respirou fundo, ainda bem que estava em sua
casa, tivera um pesadelo com Fernando.
O
dia passou rápido e a esposa esperançosa se enfeitou para ver o marido
novamente. Queria que ele percebesse quanta falta fizera durante todo aquele
tempo, em que estivera ausente. Esperava encontra-lo bem ou, quem sabe, já na
enfermaria.
Estava
ansiosa para entrar na UTI, mas se deteve ao ver aquele senhor que visitava a
esposa todos os dias. Ela tivera um Acidente Vascular Cerebral e estava,
também, na UTI. O marido estava chorando
com as mãos cobrindo o rosto. Parecia um pássaro ferido, sentado no canto da
sala.
Marília ficou condoída com a
situação e aproximou-se:
- O que houve? Por que o senhor está
chorando?
O homem olhou para ela com os
olhos cheios de lágrimas e disse:
- A minha velha me deixou. Ela
faleceu, estou sozinho nesta vida.
A
mulher precisava fazer alguma coisa para amenizar a situação. Então, foi até o
bebedouro, que estava na sala de espera e, trouxe um copo de água para o
companheiro de desgraças. O viúvo agradeceu constrangido. Depois, sorveu a água
e saiu para a rua, precisava de ar puro para diluir tamanha tristeza.
Por um momento, Marília ficou triste ao ver
o sofrimento daquele homem, que estava quebrantado pela dor da perda. No
entanto, pensou em Fernando e sentiu-se abençoada e alegre, pois, o seu marido
estava de volta. Em seguida, tratou de adentrar ao recinto, precisava ver seu
esposo.
Fernando
estava recostado na cama, aguardando a chegada dela. Quando os seus olhares se
encontraram, ambos abriram largos sorrisos acolhedores. Depois de beijá-lo,
Marília sentou-se na cadeira ao lado da cama. Então, ele disse:
-
O médico me avisou que amanhã serei transferido para o quarto na enfermaria.
Estou melhorando e logo estarei caminhando pelo corredor.
–
Que bom meu amor, não sei viver sem você. Ela afirmou sorridente.
-
Marília, que dia é hoje? Quanto tempo faz que estou aqui? Retrucou o paciente.
- Faz trinta e cinco dias que
ocorreu o acidente, você não se lembra de nada?
-
Lembro-me de um grande arco íris no horizonte. Eu ficava sentado embaixo de uma
árvore descansando e olhando todas aquelas cores mergulhando nas águas do rio.
Depois, eu me levantava e andava por entre uma plantação de lírios brancos. Todos
os dias eu caminhava por aqueles campos, era lindo e, dele emanava um perfume
de flores.
Fernando deu um longo suspiro, parecia buscar
mais informações no seu subconsciente, depois prosseguiu:
- Era
um lugar cheio de luz e sons indescritíveis. Eu sabia que havia gente por ali,
mas eu nunca vi ninguém, apenas sentia que nunca estava só.
- Aquele era um local onde as pessoas ficam,
até que seu destino seja decidido ou, talvez seja a entrada do paraíso,
finalizou o paciente.
A mulher sentiu um forte arrepio e seus olhos se arregalaram, estampando
no rosto muitas surpresas com aquelas afirmações. Precisava conhecer mais
detalhes daquela história.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa