O MANTO DA VIRGEM
CAPÍTULO
CINCO.
A cidade estava cheia de turistas, que se amontoavam nas lojas, hotéis, bares, restaurantes e feiras; havia muita gente comprando e consumindo, fazendo a alegria do comércio local. Parecia uma festa permanente, muitos sorrisos e manifestações de contentamento. Estar ali, era a realização de um sonho para muitas pessoas.
Uma festa religiosa que alimenta a
esperança de devotos e demonstra o agradecimento da massa popular, pelos
milagres e graças recebidas. A maioria tem algum pedido que foi atendido, para
contar aos amigos e parentes.
Edileusa estava ali porque era
devota da virgem e precisava ser agraciada pela cura da doença, que se
desenhava em seu corpo. Colocou a mão sobre o seio direito, na esperança do
caroço ter sumido. No entanto, ele continuava lá, e parecia ter aumentado de
tamanho. Uma ruga profunda vincou em sua testa:
- Será que está piorando? Fez
essa pergunta ao seu coração e imediatamente voltou seus olhos para o céu.
Então, suplicou por misericórdia:
- Não permita Mãe Santíssima,
que essa pedra permaneça em meu caminho. Imploro que me conceda a graça da
libertação dessa doença. E duas lágrimas rolaram pelo seu rosto.
A semana passou rápido e quando
chegou a quinta-feira, havia uma expectativa na maioria da população local e
nos turistas também. Helena explicou para sua filha e o namorado dela, que
durante a missa das dezoito horas, na Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, seria
apresentado o Manto da Virgem para o ano de dois mil e dezenove.
Confeccionado com fidelidade ao tema
do ano, estabelecido pela Diocese do lugar, o Manto era uma verdadeira joia,
que envolveria a imagem da Virgem nas procissões e atos religiosos.
Todos os anos, um novo Manto é
confeccionado para cobrir a imagem, nas celebrações das festas do Círio de
Nazaré. A peça é desenhada e confeccionada por profissionais especializados,
que doam seu tempo e seu trabalho para agraciar a virgem com todo esplendor,
que ela merece. É custeado por doações de fiéis, alguns, que já receberam um
milagre da Santa.
O Manto deve ter como
características, o simples e o belo. Os elementos de destaque do ano de dois
mil e dezenove são: as flores das sumaumeiras, a cruz e o broche.
A sumaumeira é considerada, entre os
povos da região amazônica, como a rainha das árvores, que representa a vida
entre nós. Á delicadeza da virgem é representada por pequenas flores da árvore,
distribuídas harmonicamente ao redor do manto. A cruz foi confeccionada na
parte de trás do Manto e trabalhada com pedrarias sobre uma base reluzente.
E fechando a frente do Manto, temos o broche dourado, que homenageia os
trezentos anos da Diocese de Belém.
Como o tema daquele ano foi: “Maria,
Mãe da Igreja”, havia toda uma celebração para expressar o valor da vida
cristã, ancorada no mistério da cruz e na defensora dos oprimidos, a mãe do
redentor.
Edileusa estava animada para ir à
missa na Basílica, queria ver a apresentação do Manto da Virgem. Caetano e
Helena iriam acompanhar a moça, todos estavam curiosos para ver a nova peça do
vestuário da Santa.
A certa altura da missa, as luzes
foram apagadas para a apresentação do Manto da Virgem Peregrina, que seria
usado na festa daquele ano. Em meio a escuridão podia-se ouvir o som da
floresta, pássaros com seus cânticos e animais noturnos com pios e sons diversos.
Mas, logo se fez silêncio, aguçando a percepção do público.
Nesse momento, apareceu a Virgem com
seu Manto reluzente de pedrarias e no fundo uma voz feminina cantando a “Ave
Maria”. Diante do silêncio da Basílica lotada de fiéis, cada um prestou sua
homenagem particular.
Muitos choraram de emoção, alguns permaneceram
mudos e outros se ajoelharam. Na verdade, todos se renderam àquele momento
mágico. Um Manto esplendoroso, com sua beleza majestosa, enfeitava a Mãe da
Igreja.
Nas mãos do religioso, ela pode ser
filmada e fotografada pelos profissionais que ali estavam e pelos fiéis, que se
acotovelavam para garantir um melhor ângulo. A imagem foi conduzida por entre
os bancos e colunas da Basílica e os fiéis aplaudiam, fervorosamente, sua
passagem.
Edileusa parecia estar em transe,
com seus olhos pregados na Santa, não se cansava de pedir sua misericórdia. Helena
nada percebeu em meio a todo aquele burburinho. Caetano se mantinha ao lado da
moça, queria protege-la a qualquer custo. No templo havia muitas esperanças e
energia de amor ao próximo; um momento de paz entre os seres humanos.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa
Pesquisas
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