UM
FIO DE ESPERANÇA
CAPÍTULO
QUATRO
O marido estava exausto, as
notícias eram péssimas e seu coração estava escuro. Deprimido, ele deitou e
dormiu um sono agitado, teve uma porção de pesadelos, estava ansioso demais
para relaxar. Em meio a madrugada, ele se levantou, a cama parecia conter
espinhos. Então, Saulo precisava de uma bebida quente e foi fazer um café, era
a única coisa que dominava na cozinha.
Levou o café amargo a boca e sentiu
seu gosto ruim, na realidade ele não sabia fazer café, mais parecia um remédio.
Sorveu aquele líquido, como se fosse uma xícara de fel e, entre caretas trocou
suas roupas para sair. Precisava ir ao hospital para saber de Alana, não davam
informação por telefone.
Chegou cedo e ficou andando de um
lado para outro, depois juntou-se a outras pessoas. Era um grupo que tinha parentes
internados no hospital e também aguardava notícias. As pessoas se apresentavam
nervosas e apreensivas, com medo das informações que iriam receber.
Passado
algum tempo, que parecia uma eternidade, o médico apareceu acompanhado por dois
colegas. Todos com semblante de preocupação e cansaço. Aproximaram-se do grupo
e começaram a falar da situação calamitosa, que estavam vivendo.
Muitos
pacientes graves e poucos respiradores, tornavam o trabalho deles penoso e
pouco eficiente. Pareciam cansados da luta incessante contra um inimigo
desconhecido e letal. Depois do desabafo, atenderam uma pessoa de cada vez,
para dar notícias dos enfermos.
Um
dos médicos se aproximou de Saulo, que aguardava ansioso para saber de Alana.
Ele olhou com ternura para o homem, cuja mulher estava em uma situação muito
ruim. Então ele disse:
-
Alana foi colocada em um respirador, que vagou hoje, não dava para ela esperar
mais. Agora está sedada e o aparelho a mantém viva.
Saulo
queria perguntar mais sobre o estado de sua esposa, mas sua voz não saia, tinha
um nó na garganta. O médico percebeu a emoção do rapaz e falou:
- Tenha calma, sua esposa é jovem e poderá se
recuperar, assim que a febre ceder e os remédios começarem a fazer efeito. Vá
para sua casa e peça auxílio para Deus. Amanhã daremos novas notícias, estamos
cuidando dela para você.
Em seguida se afastou, carregava as esperanças
de um homem aflito, em meio a enorme carga de responsabilidades, que acumulava
naquele momento difícil. Fazia dias que ele não voltava para sua casa, tinha
muito trabalho pela frente.
O
marido saiu dali e foi respirar ar puro lá fora, parecia que iria sufocar.
Precisava passar no escritório e avisar que não tinha condições para trabalhar.
Parecia perdido, não conseguia se concentrar em nada. Ligou para sua irmã e
perguntou das filhas, que estavam bem, para seu alívio.
No
escritório, ele chorou, não pode se conter a tamanha carga de emoções, estava
aniquilado. Recebeu o apoio dos colegas, que se preparavam para trabalhar em casa,
pois deveriam fazer o isolamento social. Quanto a ele, se pudesse também
poderia trabalhar em casa, assim que Alana melhorasse.
Saulo
sentia-se perdido e entrou em uma igreja, precisava conversar com Deus.
Ajoelhado diante do altar, expôs todo o seu temor de perder a mulher e pediu
clemência. Apresentava-se com a alma desnudada, pedindo a cura de sua esposa.
De seus olhos corriam lágrimas de dor, que iam morrer em sua boca, deixando um
gosto salgado em seus lábios.
Depois,
ele saiu dali e foi para casa, precisava tomar banho, sentia-se sujo. Levava no
peito um fio de esperança, acreditava na ciência e sobretudo na oração feita
com sinceridade.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa