DE
OLHOS NA LUA
CAPÍTULO
QUATRO
Maria Alcina e as outras meninas
adolescentes, também foram atingidas pela história do lobisomem. Quando a lua
aparecia grande e brilhante, elas ficavam com medo e temiam que aparecesse um
lobisomem, então, não saiam de suas casas. Fechavam as portas, janelas e mantinham
um terço pendurado na guarda de cada cama, para afastar o coisa ruim. E, debaixo
das cobertas rezavam ao anjo da guarda, pedindo proteção.
As histórias do jagunço Raimundo
correram as redondezas e mudou o hábito das pessoas simples do lugarejo. Era um
povo crédulo e temente a Deus, mas lá no fundo, eram muito supersticiosos.
Logo chegou a luz elétrica naquela região e,
em seguida a televisão em algumas casas. Assim, a solidariedade e a amizade
juntavam os vizinhos para assistir ao cinema em casa; aquela novidade encantava
a todos. Havia muito menos crianças nas ruas, ficavam mais tempo dentro das
casas.
Tempos de medos e muitos sonhos;
havia um romantismo herdado dos anos cinquenta, que eram tidos como anos
dourados. A década de sessenta foi de muitas mudanças políticas no país e na sociedade
brasileira. Com a tomada do poder pelos militares em 1964, houve repressão e a
censura a liberdade de expressão foi sentida por todos.
O medo estava no olhar das pessoas.
A resistência atuava na clandestinidade das grandes cidades e a repressão era
cruel. Os professores se mantinham em silêncio sobre questões políticas, pois
temiam represálias. As pessoas tidas como suspeitas eram retiradas de suas
casas, presas e muitas vezes desapareciam. Todos viviam calados, pensavam antes
de falar qualquer coisa; desconfiavam de qualquer pessoa conhecida ou não.
Decorria o ano de 1967 e foi nessa
época que apareceram as músicas de protesto. Surgiram os festivais de música
popular brasileira, MPB, que ficaram famosos por seu valor musical, com participantes de grandes talentos. A televisão já fazia parte do dia a dia das pessoas;
tornara-se indispensável.
O povo se reunia para assistir os grandes
eventos pela televisão nos bares e clubes. A censura estava presente nos meios
de comunicação, então, passava somente o que fora aprovado previamente, tais
como: Jogos de futebol, competições importantes, festivais e programas variados
na televisão.
As músicas, que foram vencedoras nos
festivais, tornaram-se famosas e são lembradas até hoje, por sua qualidade e
mensagens políticas veladas em suas letras. Fazem parte do acervo de
uma época de repressão e intensa produção de músicas populares no país, com
destaque para suas letras de impacto político. O sucesso se repetiu no ano seguinte,
mas decaiu no posterior.
E, para fechar a década, em 1969 todos
assistiram boquiabertos a descida do primeiro homem na lua. As meninas olhavam
atentas para ver se o astronauta americano se encontraria com São Jorge. Esperavam
ver o santo empunhando a lança montado em seu cavalo branco, aguardando o
dragão surgir para abatê-lo.
Elas temiam que o dragão avançasse
no astronauta e São Jorge ficasse indeciso diante daquela roupa estranha, que
para ele seria muito esquisita. Mas, quando viram o astronauta planando
suavemente na lua, elas tiveram uma grande decepção e a lua perdeu parte de seu
encanto. Assim, uma pergunta ficou no ar:
- Será que o santo e o dragão
ficaram com medo do astronauta, por isso não apareceram? Mas não importa, o
sonho não acabou, a lua continua lá, esplêndida como sempre. Disse Maria Alcina
em voz alta com tom de desabafo.
Nesse contexto repressivo,
precisava haver um meio de promover a alegria como válvula de escape. Era tempo
dos grandes bailes com orquestras ao vivo e dos bailinhos nas garagens e salas
das casas dos jovens adolescentes. Surgiu, nessa época, o movimento da Jovem
Guarda, que embalou a juventude daquele final de década.
Aconteceu em um bailinho na casa da
Sandra, foi onde a Maria Alcina conheceu o Frederico. Foi paixão à primeira vista; sentiram
uma atração instantânea. Trocaram olhares e promessas veladas, depois dançaram
de rosto colado durante uma tarde inteira. Em seguida, saíram cada um com um
amigo e foram para suas casas. Era muito cedo para se mostrarem em público.
Com a chegada do primeiro amor, Fred
se tornou o centro da vida da menina. Maria Alcina estava com dezesseis anos e
tinha muitos sonhos para realizar. Queria conhecer seu príncipe encantado e
viver um grande amor. Era tempo de sonhar de mãos dadas a luz do luar.
Desde pequena estava sendo preparada
para o casamento. As meninas aprendiam com suas mães como se comportar depois
de casadas, cuidar da casa e do marido.
Um
texto de Eva Ibrahim