PAI HERÓI.
CAPÍTULO OITO.
Agenor estava sentado
na varanda descansando e ouvindo o seu canário do reino cantar, enquanto
esperava Dora preparar o almoço; vez ou outra se levantava para mudar a gaiola
de lugar. O homem gostava de ouvir seu passarinho cantar; ficava com o coração
mais leve, dizia aos amigos.
Letícia com André no
colo abriu o portão e entrou; quando viu o pai parou, estava com muitas saudades
dele, queria lhe dar um beijo. Os dois sempre foram muito ligados; tinham
afinidades e gostavam das mesmas coisas. Letícia vivia grudada no pai quando
ele estava em casa ou saia para passear de automóvel. Agenor dizia,
carinhosamente:
- Vamos minha “bambina”. E, a menina entrava
no veículo toda prosa e saltitante.
Não guardava rancor
dele; queria abraça-lo e pedir perdão; entendia que a surpresa o deixou
desnorteado.
O pai quando viu a
filha ficou paralisado, muitas vezes sonhara com aquela situação, porém, agora
era realidade. O homem não conseguia tirar os olhos do neto; parecia encantado.
Em seguida seu irmão entrou com a mulher, estavam com Letícia; queriam
ajuda-los promovendo a reconciliação entre pai e filha.
Letícia se aproximou e
com os olhos cheios de lágrimas disse:
- Eu errei e o enganei, perdoa-me pai, eu
preciso de você.
A filha ali parada com
o bebê no colo e seu irmão olhando para ele o emocionou; precisava respirar,
seu coração estava disparado. Como negar perdão à sua menina, que agora era mãe
e lhe pedia guarida com o seu neto no colo. Pensava o homem sem ação.
Que monstro ele seria
se não a perdoasse, também era um pecador. Então, Agenor estendeu os braços e
pegou o bebê no colo. Ele sempre gostara de crianças e aquele era um menino
especial. Dos seus olhos escorriam lágrimas e seu coração só se acalmou quando
Letícia o abraçou e beijou; aquele era seu pai.
Dora ouviu o barulho e
foi ver quem havia chegado. Quando presenciou a cena entre pai e filha, a
mulher parou e agradeceu a Deus por ter ouvido suas preces; estava feliz com
sua família reunida novamente.
Agenor sentia-se
constrangido diante da filha, porém, tentou parecer o mais natural possível.
Quando seu irmão e cunhada saíssem ele queria saber quem era o pai de André.
Perdoava a filha, mas tinha o direito de saber quem se aproveitara dela.
Letícia sabia que o pai
iria lhe perguntar do pai de seu filho, era inevitável a explicação final. E,
ela não poderia mentir se quisesse voltar à casa de seus pais.
O almoço de domingo
transcorreu normalmente e André dormiu na antiga cama de Letícia, que
continuava intacta, a espera dela. A família estava alegre com a presença de
mãe e filho naquela casa. Teriam que ficar morando ali, pediram os irmãos de
Letícia ao pai.
Agenor chamou a filha
para conversar. Ela poderia voltar para casa, mas teria que dizer quem era o
responsável por tudo aquilo.
Letícia abaixou a
cabeça e disse ao seu pai que não iria mentir mais. Ela fora culpada,
juntamente com Clésio, se apaixonara pelo homem que a cortejava e nunca perguntou
se era casado ou solteiro. Entregou-se a ele sem pensar nas consequências, era
imatura e inexperiente. Somente quando ficou grávida ela ficou sabendo que ele
era um homem casado, por isso se calou. Não queria provocar um aborto como
Clésio sugerira, não mataria o próprio filho; preferia morrer. Então, duas
lágrimas desceram pelo rosto da menina.
O pai se comoveu com a
sinceridade da filha e prometeu não fazer nenhuma besteira.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.