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terça-feira, 23 de março de 2021

" SE O PRIMEIRO E O ÚLTIMO PENSAMENTO DO SEU DIA FOR PARA ESSA PESSOA, SE A VONTADE DE FICAR JUNTOS CHEGA A APERTAR O CORAÇÃO, É O AMOR!" CARLOS DRUMOND DE ANDRADE


           RUMO AO DESERTO

              CAPÍTULO SETE
      Para piorar o quadro melancólico em que Tereza estava inserida, o tempo fechou. Caiu uma chuva forte, seguida de muitos ventos. Em consequência disso, podia-se constatar quedas de árvores e alagamentos por toda a cidade.
     
      Mãe e filha seguiram para o hospital, mais precisamente, para o Pronto Socorro, ali aconteceria a internação de Tereza, por indicação dos residentes da cardiologia. 

      Infelizmente, naquele local, puderam constatar a veracidade das reclamações que o povo, em geral, fazia contra o atendimento oferecido ao público.

      Um local rústico, com cadeiras insuficientes, que abrigava cerca de cinquenta pessoas. Todas aguardando uma triagem para definir o atendimento, depois de fazer a ficha. A espera era longa e indefinida. Essa situação ocorria  em uma entrada junto à  via de acesso.

     Naquele dia estava chovendo, de vez em quando a chuva apertava e molhava as cadeiras das primeiras filas, fazendo com que as pessoas se amontoassem no fundo. 

      O banheiro ficava distante uns cinquenta metros, dentro de um container pouco iluminado. Com chuva era de  difícil acesso, todos reclamavam.

      Naquele recinto, havia algumas pessoas em cadeiras de rodas, uma moça que andava de um lado para outro, com uma toalha suja de sangue enrolada no braço, apoiando com a outra mão enquanto chorava. Dos seus olhos escorriam lágrimas pelo rosto aflito. Parecia ter sofrido um acidente e  aguardava, ansiosamente, pelo atendimento. 

      Em destaque, notava-se uma menina de cerca de dez anos, muito magra, com náuseas,  que não parava de chorar e a mãe, nervosa, tentava acalma-la. Ali, havia, também, uma senhora idosa aguardando internação, que discutia com o filho, que parecia estressado.   
    
       A todo momento chegavam mais pessoas com ambulâncias de cidades vizinhas, outras com o serviço de atendimento móvel de urgência, SAMU, e algumas com o carro dos bombeiros. 

       Observaram, também, que muitos chegavam em veículos particulares. Os acidentados, com gravidade, vinham de helicóptero. Havia, também, uma porção de pessoas que chegavam a pé, usuários do transporte público. Todos passavam por ali, aquela era a única entrada para o PS.
   
       Na porta de acesso ao interior e aos guichês  ficavam dois guardas, sendo que um deles se postava sentado em uma cadeira e quando alguém se aproximava ele esticava a perna, travando qualquer investida ao interior, no qual ficava o guichê.

      Ali estava estabelecida uma situação caótica, na qual era impossível ter acesso a qualquer informação. A única coisa que diziam era: " Tem que aguardar" 

      Do lado de fora dava para ver, que no interior havia muita gente em macas e cadeiras, era uma lotação além do razoável. 

      Nesse contexto chegaram Tereza e sua filha, que ao dizer para a enfermeira, que estavam ali para uma internação de Cardiologia, foram recebidas com ironia.

      - "Que internação? Aqui não é lugar para internação eletiva". Disse com ar desafiador.

     - É urgência, foram os residentes da cardiologia que nos mandaram vir aqui. Argumentaram.

     Então, houve uma risada sarcástica, com a qual, a referida enfermeira concluiu: -"Eles dizem isso para todos, vão ter que aguardar."

      As duas mulheres chegaram as quatorze horas naquele local e durante o restante da tarde insistiram varias vezes para saber o motivo da demora e a resposta era a seguinte:   "Estão vendo seu  caso."
       
      Ficaram durante sete horas esperando serem chamadas para um atendimento. Já passava das vinte e  três horas, quando o guarda da noite deixou Tereza entrar, para falar com a enfermeira. 

      Essa profissional era bem receptiva, uma estrela na escuridão. Com simpatia disse que iria tomar providências. Realmente, fez contato com a Unidade Coronariana e pediu para o enfermeiro  receber a mulher, que estava cansada e passando mal. 

      A paciente foi conduzida  
 de cadeira de rodas para a UTI, já era quase meia noite. Precisava descansar depois de uma longa espera e sua filha, então, pode voltar para casa. 

      E quando o residente apareceu para o primeiro contato, disse que fora informado de que a paciente, que ele estava aguardando,  tinha ido embora. 

      Essa foi a mais cruel mentira proferida por pessoas insensíveis, para prejudicar alguém debilitada, que estava  precisando de ajuda.

      Naquele local foram encontradas pessoas alheias  ao sofrimento humano. 

     O desgaste foi grande e a realidade chocante. Com certeza, aquele foi um dia para ser esquecido para sempre.

      Na unidade Coronariana, Tereza foi bem recebida por um enfermeiro e um técnico de enfermagem.  

      Pela primeira vez na vida, a mulher estava internada em uma unidade de terapia intensiva. Sentia-se amarrada com tantos fios conectados ao seu peito. 

      Recebeu uma punção venosa na mão esquerda com uma torneirinha, que enroscava nos lençóis e cada vez que isso ocorria, a mulher gemia. 

      O enfermeiro chegou e disse para a paciente, que ela estava em repouso absoluto. Essa palavra fez a mulher tremer.

      - Como assim? Xixi na comadre? Cocô na comadre?

 Não vou suportar. Disse Tereza assustada. Parecia um pesadelo a que ela estava sendo submetida. 

      O restante da noite foi de pequenos pedaços de sonos cheios de pesadelos. O dia amanheceu e  começou  a jornada de Tereza rumo ao seu deserto. 

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa 

quarta-feira, 17 de março de 2021

"O MUNDO É UM ESPELHO QUE DEVOLVE A CADA PESSOA O REFLEXO DE SEUS PRÓPRIOS PENSAMENTOS. A MANEIRA COMO VOCÊ ENCARA A VIDA É QUE FAZ TODA A DIFERENÇA." LUÍS FERNANDO VERISSIMO

              
                 A MÁSCARA
 
  

  
            CAPÍTULO SEIS
  
      Os dias perderam o brilho, apesar do Sol intenso, pareciam escuros. Tereza andava como se tivesse uma espada sobre sua cabeça,  pronta a decepa-la. 
  

      Mantinha todos os seus medos confinados no lugar mais profundo do seu coração. Para o mundo, havia criado uma personagem cheia de vida e força, disposta a enfrentar tudo o que viesse pela frente. Uma máscara protetora.
   

     A mulher permaneceu em sua casa, aguardando o dia marcado para a consulta em seu setor de apoio à saúde. Sentia que havia muitas dúvidas, que precisavam ser esclarecidas. Sabia que somente a cardiologista tinha condições de esmiuçar o seu caso.
      

      O dia marcado chegou e Tereza se dirigiu ao local indicado. Aguardou na sala de espera e quando foi chamada, subiu dois lances de escadas. Chegou ao 
Consultório ofegante e  mal conseguia falar.
 Demonstrou o seu pior lado para a cardiologista,  que a tratou com carinho.
  
  
     Depois de verificar  os exames e cumprir o protocolo de uma consulta cardíaca,  a conversa foi dura e  incisiva. A médica, preocupada, disse:
  
 
     -Você é a paciente ideal para fazer duas pontes de safena e uma mamária, assim poderá viver mais trinta anos.
  
  
     Tereza riu e  completou: 
 

     - Bastam mais dez, quero ver meus netos  casarem.
   
 
     A paciente saiu dali com uma porção de exames agendados: exames de sangue, urina, ecografia da carotida, além de um encaminhamento para o hospital de referência da região, seu local de trabalho.  
   
 
      Foram tantas informações se confirmando, que ficou desenhado um quadro típico de doença coronariana e  pouco restou para questionar.

      A mulher voltou para casa, com uma sensação de caminhar para um poço sem fundo, sem alternativas para evitar a queda. 
    
  
      Descansou no final de semana e na terça-feira foi, juntamente com sua filha, entregar o encaminhamento no ambulatório de Cardiologia do referido hospital. 


       A atendente mandou voltar na sexta-feira de manhã, pois ali aconteceria a reunião da Cardiologia, na qual decidiriam se aceitavam o caso ou não. 
     

       Mais alguns dias se passaram e novamente estavam ali, mãe e filha.

       O encaminhamento foi levado para a reunião e logo veio a notícia  para ir a outro local e fazer os procedimentos de praxe, para a admissão no sistema  informatizado.  
  
 
      A mulher,  que era funcionária do local, já  tinha registro anterior e ficou para ser atendida em outra consulta. 
   
 
       A consulta foi realizada por um residente e logo veio outro e mais outra, desta vez uma residente cheia de pose. Todos foram incisivos:
     

 - O professor  mandou internar a paciente imediatamente, pois, corre risco de morte iminente.  
 

     Tereza ficou pálida e  resmungou: 
   

      - Não,  eu não  posso ficar agora, preciso ir até  minha casa e pegar minhas coisas. 
 

     - De jeito nenhum,  a senhora  pode morrer no caminho. Assim houve uma discussão acalorada. A paciente passou mal e começou a tremer. 
   

      - Vocês estão me assustando e pressionando, vou até minha casa e no final da tarde estarei de volta para internar.
    

     A residente mais eloquente a ameaçava com a perda da vaga, dizia que teria que entrar pelo  Pronto  Socorro, se não internasse naquela hora e tudo seria mais difícil. 
  
  
      Mesmo assim, Tereza foi até  sua casa para retornar mais tarde.
     

      A tristeza tomou conta de seus sentimentos, estava apavorada e com a sensação que iria morrer. Não sentiu os trinta e cinco quilômetros percorridos e quando adentrou à sua casa, queria se esconder e desaparecer.
     

     Entrou em seu quarto e  quedou-se no vaso sanitário, ali abriu o compartimento mais profundo do seu coração. No qual, depositou mais uma carga de temores e frustrações.    
 
     Depois, desabou em lágrimas por um longo tempo. Somente voltou à realidade quando sua filha bateu na porta. A moça, aflita, perguntou se estava tudo bem. 
  
   
      A mulher lavou o rosto, passou um batom vermelho, colocou seus óculos escuros, pegou sua máscara de mulher  forte, que estava depositada sobre a cômoda e colocou de volta no rosto sofrido. 

      Em seguida, abrindo a porta disse:

       - Estou pronta, vamos.

      Assim, saíram rumo ao seu deserto.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa 


quarta-feira, 10 de março de 2021

"NÃO, MEU CORAÇÃO NÃO É MAIOR QUE O MUNDO. É MUITO MENOR. NELE NÃO CABEM NEM AS MINHAS DORES. " CARLOS DRUMOND DE ANDRADE



O ESPELHO DA VIDA

 CAPÍTULO CINCO 
    
      A mulher trazia no peito uma angústia, que a oprimia e deixava tudo escuro ao seu redor. Não quis jantar, não sentia fome, estava com muito medo de tudo aquilo. O jeito era dormir e esquecer os últimos acontecimentos, no entanto, a noite foi cheia de pesadelos.

 As palavras do médico calaram fundo em seu íntimo e a deixaram inquieta. Por tudo que havia pesquisado, ela sabia que seu caso era grave. Pressentia que estava prestes a viver dias terríveis. Enfrentar a verdade que durante tanto tempo tentou camuflar,  a deixava triste e desolada.
 
        O dia amanheceu e  Tereza foi de encontro ao temido exame de esteira. Foi colocada  no aparelho e o teste de esforço foi iniciado.  A medida que o exame se desenvolvia a mulher sentia as pernas pesadas, pareciam ter cinquenta quilos cada uma; chegou a pedir para parar, tamanho foi o esforço dispendido.

      A cardiologista que fez o exame ficou assustada e disse à paciente que seria necessário repouso, enquanto aguardava a ecografia, que estava marcada para o dia seguinte. A mulher saiu dali sentindo que o cerco se fechava ao seu redor.

      No dia seguinte, ela voltou  à clínica para fazer o exame de ecografia e o diagnóstico foi: insuficiência Mitral leve. 

      De volta ao consultório, o médico disse que havia indicação de fazer o exame de cateterismo, para fechar diagnóstico. Disse também, que ela estava certa em seu diagnóstico precoce, era, verdadeiramente, um quadro de Angina estável.

      O cateterismo foi realizado no Hospital do Coração e o diagnóstico foi o seguinte: três artérias coronárias entupidas, sendo que o tronco estava comprometido também, deixando o caso mais grave, pois sua função é mandar sangue para todos os outros órgãos. 

      O médico responsável pelo exame fez o diagnóstico e indicou cirurgia,  mais precisamente duas pontes de Safena e uma mamária. 
      Tereza ficou pálida, teria que se submeter a uma cirurgia de peito aberto e isso era mais que um pesadelo,  era uma situação indesejável, que a deixava prostrada.

      Essa reviravolta na vida da mulher aconteceu em apenas uma semana e quando retornou ao consultório médico, viu desenhado seus próximos passos.

      A paciente saiu dali com vários papéis nas mãos. Atestado para permanecer em repouso, receitas e  encaminhamento para o serviço de apoio do seu trabalho e muito medo no coração. 

      Entrou em seu automóvel como se fosse um robô,  parecia flutuar dentro de uma nuvem negra pesada.
Tudo o que mais temia estava projetado em seu futuro próximo.

      Como um automato entrou em seu quarto, fechou a porta com a chave e foi até o espelho. Olhando a figura ali projetada, sentiu pena de si mesma.

     - Onde estaria a guerreira, que enfrentava um leão por dia? 
Naquele momento mais parecia uma fera domada e acuada pelos próprios medos.

      A mulher, pálida, desfigurada, levou a mão ao coração, que batia desesperadamente, parecia pedir socorro, antes de sua falência.  Seus lábios apertados mantinham os dentes em riste, demonstrando uma situação limite.

      O espelho refletia uma figura tomada pela raiva de tudo aquilo. O seu lado frágil estava aflorado, então, as lágrimas caíram inundando seu rosto e salgando sua boca.

      Tereza sentou -se no vaso sanitário e colocando a toalha no rosto permitiu que o mundo desabasse sobre ela.

      Ficou ali por um longo tempo,  estava sozinha em sua casa. Depois, seu instinto de preservação falou mais alto e ela entrou debaixo do chuveiro com roupa e tudo.

      A água quente lavou suas lágrimas e acordou a mulher indomável que existia naquele corpo. 

     Quando saiu do quarto, deu de cara com a filha, que acabara de chegar. A moça, preocupada, foi logo perguntando se estava tudo bem. 

      Tereza, então respondeu:

       - Sim, está tudo bem, apenas preciso fazer uma cirurgia de ponte de Safena.

A filha arregalou os olhos e a mãe completou:

       - Não se preocupe, é coisa simples. 

Um texto de Eva Ibrahim Sousa 

      



 

quarta-feira, 3 de março de 2021

"SE SEU CORPO PRECISA DO MEU, MEU CORAÇÃO PRECISA DO SEU. O NOME DISSO É SAUDADE! VOLTA LOGO QUE SEM VOCÊ, SOU SÓ UMA METADE. O QUE FALTA PARA MIM É VOCÊ!" VINÍCIUS LOBO

                NA BERLINDA

            CAPÍTULO QUATRO
      
       O Natal chegou com todo o seu esplendor, apesar da pandemia, o seu significado permaneceu intacto. Para Tereza a reunião familiar era o ponto alto do feriado natalino. E nesse ano atípico, a reunião aconteceu, com menos pessoas é  verdade, mas todos ficaram felizes. 

      As férias de Tereza se foram com o Natal e o feriado de ano Novo estava despontando no horizonte, era hora de retornar.  

       Assim, a mulher voltou ao trabalho, estava feliz, no entanto, havia toda uma expectativa de mudança de local de trabalho. As férias não conseguiram mudar a sua condição de saúde e ela sabia que estava no limite.  

       Suas dores e ardores continuavam em franca ascensão. A semana passou rápido e, em meio a muitas correrias, as festas de final de ano chegaram ao fim. 

      Tereza olhava o calendário e percebia que tinha um ano inteiro para escrever uma nova história. Esta teria a prioridade de cuidar de sua saúde. A mulher, fragilizada, tinha uma estranha sensação de poder gerenciar novos passos, ou pelo menos, alguns deles.

      Depois de tempos disfarçando os sinais e sintomas que seu corpo dava, resolveu revelar ao seu grupo de trabalho, as  dificuldades físicas, que a atormentavam.

      As colegas de equipe foram compreensivas com a exposição de suas queixas e prontificaram-se a colaborar no que fosse necessário. 

       A mulher, aparentemente saudável, trazia no peito um coração machucado,  literalmente ferido. Uma bomba com suas correias danificadas a ponto de estourar, porém, antes disso iria marcar consulta com o cardiologista. 

      No dia marcado, ela se dirigiu a clínica médica. Com a sensibilidade desenvolvida e a  intuição aguçada, Tereza sabia que havia chegado a hora da verdade. Seu peito ardia em chamas, era necessário uma atitude para acalmar seu chacra cardíaco.

      Trazia no peito um coração sofrido, amargurado, que agora emitia sinais de sofrimento fisico em sua bomba mantenedora da vida. A mulher tinha uma história familiar de mortes por colapso na bomba, em linhagem ascendente próximas. Portanto, era necessário olhar com cuidado para os sinais que recebia.

      O médico era jovem, na faixa dos trinta anos, o que deixou Tereza apreensiva, esperava uma pessoa mais velha. No entanto, ele se dispôs a ouvir suas queixas de maneira respeitosa, com um olhar profundo e atento.

      A paciente começou a falar, disparou com sinais e sintomas cheios de detalhes, aquilo tudo estava preso em sua garganta. Finalmente, Tereza terminou dando seu diagnóstico, encontrado em suas pesquisas.

      0 médico, de nome Pedro, sorriu e se ajeitou na cadeira. Então, demonstrou todo o seu conhecimento, esclarecendo as dúvidas e explicando a necessidade de exames, para confirmar ou não o diagnóstico precoce, encontrado pela profissional de saúde, que era: Angina estável.

      A paciente, então, perguntou:

      - Se nada disso for confirmado,  serei encaminhada ao psiquiatra?

      - Provavelmente, foi a resposta recebida, acompanhada de um sorriso misterioso.

      Depois de um exame físico rotineiro, a paciente ouviu do médico a gravidade de todos aqueles sintomas relatados e saiu dali com três pedidos de exames nas mãos. Esteira para fazer no dia seguinte,  ecografia para dois dias após e o Holter em seguida. 

      A mulher deixou o consultório e caminhou  com a sensação de estar correndo um perigo iminente. Sabia que tudo o que foi dito naquele naquele local, era a mais pura verdade e que estava na berlinda da vida.
 Um texto de Eva Ibrahim Sousa 


 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

"DA OBSERVAÇÃO" "NÃO TE IRRITES, POR MAIS QUE TE FIZEREM. ESTUDA A FRIO, O CORAÇÃO ALHEIO. FARÁS, ASSIM, DO MAL QUE ELES TE QUEREM, TEU MAIS AMÁVEL E SUTIL RECREIO." MÁRIO QUINTANA


           DORES E ARDORES 

             CAPÍTULO TRÊS

      As férias de Tereza, tão sonhadas, chegaram em meio a uma frente fria intensa. Setembro amanheceu gelado e chuvoso, com cara de final de inverno, que só aconteceria na terceira década do mês.

       O tempo fechado pedia aconchego e era tudo o que ela queria, curtir suas férias em casa. Levantar-se cedo, fazer café e degusta-lo em frente à televisão, assistindo o jornal da manhã. Este era um desejo que ela acalentava nos dias de sufoco no trabalho. Estar em casa sem compromisso para sair, já era motivo de satisfação para Tereza. 

      Ela tinha em mente cuidar de sua  casa limpando, organizando e descartando coisas desnecessárias. 
Esses afazeres cotidianos faziam parte de desejos antigos e  fonte de prazer para a mulher trabalhadora, que se queixava de não ter tempo para cuidar de seu lar.

        As vezes, quando fazia um esforço a mais, ela sentia -se cansada com uma sensação ruim dentro do peito. Um ardor sufocante, que pressionava a área cardíaca, deixando o braço esquerdo enfraquecido, a ponto de não poder segurar uma sacolinha com um lanche dentro. 

        Quando isso acontecia, ela precisava parar, sentar-se e esperar melhorar, o que ocorria em alguns minutos. 
Vivendo esse sufoco, a mulher procurou na internet respostas para o que estava sentindo. 

       No YouTube ela encontrou muitos vídeos descrevendo todas aquelas sensações, pressões e ardores dentro do seu peito. Os médicos cardiologistas diziam que era um quadro de Angina estável. Essa condição requer  acompanhamento médico especializado, pois ocorre em um pré infarto. 

       Tereza, então, procurou um cardiologista, que fez um eletrocardiograma e disse, que o resultado do exame estava dentro de padrões normais. 
 Assim, o médico receitou um calmante dizendo que poderia ser cansaço e nervosismo. Em seguida, com um sorriso, orientou observação e retorno se necessário. 

      A mulher voltou ao trabalho, estava relativamente bem, vez ou outra sentia aqueles ardores pressionando seu peito. Tinha a intenção de voltar ao  cardiologista, entretanto, na correria do dia a dia tentava marcar consulta no serviço de apoio de sua empresa e nada conseguia.
       Entre muitas correrias, o tempo foi passando e a vida seguindo seu curso.

      Por ser idosa do grupo de risco para o Covid dezenove, ficava  em alguns plantões no ambulatório, onde o trabalho não exigia grandes esforços físicos. 

      No entanto, nos finais de semana e feriados continuava atuando na porta de entrada, sofrendo com deveres, que não eram compatíveis com sua idade e situação de saúde. 

      Ela tentou argumentar, que por ser idosa não poderia ficar em área exposta ao Covid, inclusive fez um pedido, por escrito, de transferência de setor. Não obteve resposta, nem positiva, nem negativa. Ao questionar diziam que precisava ter laudo médico, para ter alguma mudança em seu trabalho.

      Não houve, em nenhum momento, a sensibilidade de perceber a situação ali estalecida, por algum integrante da equipe de saúde.

      Havia sofrimento em toda aquela situação e ao invés de tomarem alguma providência, resolveram dar o restante das férias da funcionária. 

      Dessa maneira parecia que o problema estaria resolvido. Só que não, a história estava apenas começando. 

Um texto de Eva Ibrahim Sousa 

 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

"SEM TEMER A PRÓXIMA PORTA OU JANELA QUE IRÁ SE ABRIR, SIGO COM UMA ÚNICA EXPECTATIVA: QUE SEJA BOM O QUE VIER." DIEGO VINÍCIUS

 
                   SEM RUMO 

              CAPÍTULO DOIS
        Aquela situação inusitada deixou a mulher apreensiva, precisava procurar um cardiologista com urgência. As palavras do médico ginecologista ficaram bailando em sua cabeça. "Essa arritmia tem que ser investigada, pode ser alguma coisa séria." 

       Durante vários dias, ela tentou marcar consulta com o médico do serviço de apoio ao funcionário daquela instituição. Depois de muitas tentativas, conseguiu uma data para dali a quarenta dias. Sentia-se bem e resolveu esperar até o dia marcado. 

      O mês de março surgiu, como sempre, quente e chuvoso, fazendo a despedida do verão e das águas trazidas por ele. Um mês poético, as vezes quente demais, as vezes friorento, abrindo caminho para o outono.

       Entretanto, o mundo vivia momentos difíceis, com muitos rumores assustadores sobre um vírus descoberto na China. As notícias diziam que o vírus era portador de uma doença de grande letalidade, que naqueles dias assolavam a Itália. O país estava em choque, com grande número de mortos e doentes graves. 

       Havia uma apreensão geral pelo temor que a doença se espalhasse pelo mundo. O Brasil também estava alerta pela possível chegada do tão repugnante vírus   matador.

        As mídias estavam alertas e quando se teve notícia do primeiro caso no Brasil, foi uma explosão  de reportagens ruins, que geraram muito medo na população. As notícias tomavam conta dos meios de comunicação e eram péssimas. O vírus pipocava, de maneira assustadora, em todos os continentes.

       Com esse cenário destruidor,  aconteceu o que ninguém poderia imaginar, por mais pessimista que fosse. A Organização mundial de saúde decretou um estado de pandemia
 mundial, deixando o mundo de boca aberta.

       Cada país tratou de se organizar para enfrentar a doença letal e desconhecida, trazida pelo vírus.

       No Brasil não foi diferente e diante de uma população estarrecida, resolveram parar tudo, mandando as pessoas ficarem em casa.

       Somente os serviços essenciais poderiam permanecer abertos. A humanidade estava em cheque. Dessa maneira, todas as consultas foram canceladas e Tereza perdeu a oportunidade de se cuidar adequadamente. 

       A mulher continuou seu trabalho, que era essencial, apesar de pertencer ao grupo de risco, não foi dispensada
. Procurou um médico na emergência é este lhe receitou um remédio que mantinha sua frequência cardíaca controlada.

        Os meses foram se sucedendo e as pessoas se adaptando a nova realidade. Nesse cenário ameaçador o  acessório que mudou a paisagem mundial foi a máscara, de uso obrigatório surgiu de todos os tipos e cores nos rostos de toda a população.

       O prejuízo foi geral, todos foram prejudicados de alguma maneira, principalmente na área financeira.

       Mas o tempo não parou e quando Setembro chegou, a pandemia parecia estar sendo controlada. Daí a vida que segue e Tereza tirou férias.

       Durante as férias ela começou a perceber certas limitações, que sentia ao caminhar em terrenos de aclives ou quando fazia algum esforço físico.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa 

MEU MUNDO REINVENTADO.

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