SEM RUMO
CAPÍTULO CINCO
Valmir tratou de arrumar um
advogado para tirar o irmão da cadeia, porém, quando chegaram a delegacia
constataram que Vitório não estava mais lá. Fora transferido emergencialmente,
pois a população se preparava para invadir o local; queriam mata-lo a qualquer
preço.
Ao redor da delegacia a cena era de
um campo de guerra, havia uma quebradeira geral. Os vidros das portas e
vidraças foram todos quebrados com pedras e paus. A rua estava interditada,
tudo nas imediações fora saqueado. Atos de puro vandalismo, que deveriam ser
apurados posteriormente.
Aquela parecia a revolta de uma
população descontente, que acaba se envolvendo em uma desgraça para demonstrar
sua insatisfação à sociedade. O fato ocorrido era uma situação estabelecida,
uma vez que o menino já estava morto. Portanto, nada mais poderia ser feito,
então, todos os presentes tomaram as dores da família e começaram a
quebradeira.
Valmir ficou paralisado com a
situação, ainda mais que o delegado o aconselhou a sumir por uns dias, poderiam
querer pegá-lo também. Vitório ficaria na delegacia da cidade vizinha para sua
própria segurança. Depois dos primeiros depoimentos, sua prisão seria relaxada e ele responderia ao
processo em liberdade.
O advogado e Valmir iriam ao encontro de Vitório, mas, antes passariam na casa dele para pegar
algumas roupas e objetos de uso pessoal. Entretanto, ao avistar a casa
perceberam que ali também houvera um ataque. A residência da família estava
toda pichada e com os vidros quebrados. No muro podia-se ler: “Assassino”,
“Monstro” e outros nomes equivalentes.
Os dois homens adentraram a casa
com receio de serem surpreendidos e atacados. No entanto, não havia ninguém ali
e assim que pegaram documentos e objetos de uso pessoal do Vitório saíram e,
foram até a cidade vizinha.
O encarcerado estava desesperado,
não aceitou comida e nem queria conversar com ninguém; queria morrer. Era
evidente que houvera um acidente e que aquele homem era inocente. Apesar de
estar cheirando a bebida, era um trabalhador e pai de família. O delegado disse
que iria interroga-lo e ouvir as testemunhas e depois ele poderia aguardar o
inquérito em liberdade.
Diante da gravidade da situação,
o advogado orientou Valmir a retirar os móveis da casa do irmão e entregar a
propriedade ao dono. Aquele lugar não poderia mais abrigar aquela família, que
estava marcada pelos últimos acontecimentos. Seria melhor que a esposa e filhos
de Vitório não voltassem mais ali, ou poderiam receber represálias dos parentes
da vítima.
Depois de alguns dias, Valmir retirou toda a mobília da casa de
Vitório debaixo de xingamentos dos vizinhos, que sabiam que ele nada tinha a
ver com o ocorrido. No entanto, não se conformavam com o acidente e queriam
acabar com o "assassino", que fora se juntar à família na casa de sua mãe.
O homem estava em estado
lastimável, nunca mais fizera a barba ou cortara o cabelo. Andava sujo e não
queria conversa com ninguém. Se entregara à bebida, nada mais lhe importava,
nem mesmo os filhos. Deixara de implicar com a Ana e nunca mais brigou com Alda.
- Estava com depressão; precisava
se tratar ou acabaria fazendo alguma besteira, dissera o médico.
Em apenas duas semanas, Alda
e a sogra não sabiam mais o que fazer, Vitório não queria trabalhar e vivia
caído nas sarjetas; tornara-se um mendigo.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.