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sexta-feira, 25 de outubro de 2013

"AINDA BEM QUE SEMPRE EXISTE OUTRO DIA, E OUTROS SONHOS. E OUTROS RISOS. E OUTRAS PESSOAS... E OUTRAS COISAS..." CLARICE LISPECTOR. -- AMOR SE CURA COM AMOR PRÓPRIO. EVA IBRAHIM

                                  A VELHA SENHORA.
                                   CAPÍTULO 10
       Os dois sentaram-se em frente ao Hospital e Antonio para distrair o menino começou a contar histórias e olhar o céu, cravejado de estrelas. O homem sentiu nostalgia de seu passado; um sentimento de perda, uma frustração. Mas, lá no fundo ele sabia que ainda tinha muito amor para dar.
       A convivência com Bernardo fizera dele um paizão, sabia tratar uma criança; o menino recostou em seu corpo e dormiu, estava cansado. Flora apareceu para procurá-los e viu a cena comovente, o homem mal respirava para não acordar o menino. Com carinho ela pegou o filho no colo e pediu para Antonio levá-los para casa, nada poderia fazer por sua mãe, teria que aguardar a evolução do quadro; o médico foi categórico.
       Antonio entrou na casa da moça para ajudá-la com a criança e depois ficaram sentados na sala conversando. Ela contou sobre seu relacionamento anterior e o motivo de sua separação. Finalizando a conversa, a moça enfatizou, seu maior tesouro era Vinicius, seu filho querido. O pai dele desapareceu e nunca mais deu notícias, ela e a mãe cuidavam do menino, sozinhas. 
        Pela primeira vez Antonio falou de Verônica e sua dor, mas nada disse sobre o boneco, era seu segredo e ninguém poderia saber. Ali estava outra mulher compartilhando de sua vida, parecia estar traindo sua esposa e o Bernardo também. Sentiu repulsa de si mesmo, porém, ele estava vivo e queria uma nova chance. Flora estava disponível e ostensivamente se oferecia a ele, que também a queria; era um homem e uma mulher atraídos pelo desejo.
        Ele afastou seus pensamentos, aquele não era o momento para satisfações amorosas e saiu caminhando pensativo. Os acontecimentos precipitaram seu caso com a moça e ele sentia-se conduzido pela situação. Lembrou-se da pedra amarela e sentiu um arrepio percorrendo seu corpo; fez o sinal da cruz, o velho medo estava presente.
       O homem foi para casa pensando em Flora e seu pequeno filho. O menino parecia ter gostado muito dele, que pela primeira vez sentiu a doçura de uma criança.
       -Se a avó falecesse quem cuidaria do menino para a moça trabalhar? Estava gostando dela e queria ajudá-la, ficou deitado com Bernardo ao lado contando a ele tudo que estava acontecendo. Ele continuava seu filho do coração, mas, não poderia deixar de gostar de Vinicius; ainda mais agora que a avó estava doente. Sentia medo de se apaixonar e não dar certo, mas havia a possibilidade de refazer sua vida. Aquele pensamento aquecia seu coração.
       No dia seguinte ele foi trabalhar e Flora não; Antonio ficou preocupado e ligou para o Hospital, queria notícias. A moça chorando disse que o filho estava na creche e sua mãe morrendo. Antonio prometeu que sairia dali para o Hospital para ajudá-la e até levaria o Vinicius para sua casa se fosse preciso. Depois pensariam em outras soluções para ela e o filho.
      Antes de sair para o trabalho, ele trancou o Bernardo na mala e colocou no guarda roupas, talvez trouxesse o menino para sua casa. Estava atento à situação, era um ato de solidariedade e ele sabia muito bem como era triste passar por uma situação daquelas e, estar sozinho. Saiu mais cedo do trabalho, passou no Hospital e foi buscar a criança, levando-a para sua casa.
O menino era falante e estava faminto, brincou com o Lobo e sentou-se em frente á TV, onde acabou dormindo. O homem cobriu o pequeno, do mesmo jeito que cobria o Bernardo e depois foi pegar o boneco no colo, acariciando-o.                                                                         
        Flora ligou para saber da criança e pedir para que Vinicius dormisse na casa de Antonio, pois ela teria que passar á noite ao lado da mãe. Ás cinco horas da manhã o telefone tocou e a moça, chorosa, disse a Antonio que sua mãe falecera. O homem que já sofrera com a morte da esposa sabia que precisava ajudar sua namorada. Antonio prontificou-se a tomar as providencias para o sepultamento e a convidou para ir até sua casa ficar com o garoto.
        Ali estava uma mulher em uma situação desesperadora e ele teria que lhe dar toda assistência. Gostava da moça e a criança lhe inspirava carinho, seu coração estava cheio de amor para dar.
    Flora e Antonio seguiram abraçados, o menino segurava a mão de sua mãe e saíram do cemitério, calados. À volta para casa seria difícil, Antonio sabia e se propôs a levar o menino para a casa dele e depois a mulher iria passar a noite com eles.
       Foi uma longa noite para o homem que pensava em tudo que lhe acontecera e agora estava naquela situação de difícil solução. Se acolhesse a namorada teria que dar fim ao Bernardo e ele amava o boneco; nunca o abandonaria. Flora dormiu logo, pois tomou um sedativo, estava exausta.
      Amanheceu e Antonio levou a moça para sua antiga casa e foi trabalhar, depois pensaria em alguma coisa para se desculpar com Flora; não queria que ela ficasse em sua casa.
      Porém, foi difícil se esquivar daquela situação, a moça dizia ter medo em ficar sozinha na antiga casa e foi ficando na casa de Antonio.
      O Bernardo permaneceu escondido dentro do armário de roupas, pois Flora mudou-se para lá. O homem, nervoso, disse para a namorada que lá no guarda roupas estavam as coisas de Verônica e não queria que ninguém mexesse; a moça aceitou conformada.
      Então, Antonio tinha uma mulher em sua cama, mas não tinha privacidade. Durante um mês ele só via o Bernardo quando a mulher saia com a criança. A novidade acabou e ele queria voltar à sua vida com o boneco e o Lobo.
      Um texto de Eva Ibrahim.
      Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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