A VELHA SENHORA.
CAPÍTULO 10
Os dois sentaram-se em frente ao
Hospital e Antonio para distrair o menino começou a contar histórias e olhar o
céu, cravejado de estrelas. O homem sentiu nostalgia de seu passado; um
sentimento de perda, uma frustração. Mas, lá no fundo ele sabia que ainda tinha
muito amor para dar.
A convivência com Bernardo fizera dele
um paizão, sabia tratar uma criança; o menino recostou em seu corpo e dormiu,
estava cansado. Flora apareceu para procurá-los e viu a cena comovente, o homem
mal respirava para não acordar o menino. Com carinho ela pegou o filho no colo
e pediu para Antonio levá-los para casa, nada poderia fazer por sua mãe, teria
que aguardar a evolução do quadro; o médico foi categórico.
Antonio entrou na casa da moça para
ajudá-la com a criança e depois ficaram sentados na sala conversando. Ela
contou sobre seu relacionamento anterior e o motivo de sua separação. Finalizando
a conversa, a moça enfatizou, seu maior tesouro era Vinicius, seu filho
querido. O pai dele desapareceu e nunca mais deu notícias, ela e a mãe cuidavam
do menino, sozinhas.
Pela primeira vez Antonio falou de
Verônica e sua dor, mas nada disse sobre o boneco, era seu segredo e ninguém
poderia saber. Ali estava outra mulher compartilhando de sua vida, parecia
estar traindo sua esposa e o Bernardo também. Sentiu repulsa de si mesmo,
porém, ele estava vivo e queria uma nova chance. Flora estava disponível e
ostensivamente se oferecia a ele, que também a queria; era um homem e uma
mulher atraídos pelo desejo.
Ele afastou seus pensamentos, aquele
não era o momento para satisfações amorosas e saiu caminhando pensativo. Os
acontecimentos precipitaram seu caso com a moça e ele sentia-se conduzido pela
situação. Lembrou-se da pedra amarela e sentiu um arrepio percorrendo seu
corpo; fez o sinal da cruz, o velho medo estava presente.
O homem foi para casa pensando em Flora
e seu pequeno filho. O menino parecia ter gostado muito dele, que pela primeira
vez sentiu a doçura de uma criança.
-Se
a avó falecesse quem cuidaria do menino para a moça trabalhar? Estava gostando
dela e queria ajudá-la, ficou deitado com Bernardo ao lado contando a ele tudo
que estava acontecendo. Ele continuava seu filho do coração, mas, não poderia
deixar de gostar de Vinicius; ainda mais agora que a avó estava doente. Sentia
medo de se apaixonar e não dar certo, mas havia a possibilidade de refazer sua
vida. Aquele pensamento aquecia seu coração.
No dia seguinte ele foi trabalhar e
Flora não; Antonio ficou preocupado e ligou para o Hospital, queria notícias. A
moça chorando disse que o filho estava na creche e sua mãe morrendo. Antonio
prometeu que sairia dali para o Hospital para ajudá-la e até levaria o Vinicius
para sua casa se fosse preciso. Depois pensariam em outras soluções para ela e
o filho.
Antes de sair para o trabalho, ele trancou o Bernardo na
mala e colocou no guarda roupas, talvez trouxesse o menino para sua casa. Estava atento à situação, era
um ato de solidariedade e ele sabia muito bem como era triste passar por uma situação
daquelas e, estar sozinho. Saiu mais cedo do trabalho, passou no Hospital e foi
buscar a criança, levando-a para sua casa.
O
menino era falante e estava faminto, brincou com o Lobo e sentou-se em frente á
TV, onde acabou dormindo. O homem cobriu o pequeno, do mesmo jeito que cobria o
Bernardo e depois foi pegar o boneco no colo, acariciando-o.
Flora ligou para saber da criança e
pedir para que Vinicius dormisse na casa de Antonio, pois ela teria que passar
á noite ao lado da mãe. Ás cinco horas da manhã o telefone tocou e a moça,
chorosa, disse a Antonio que sua mãe falecera. O homem que já sofrera com a
morte da esposa sabia que precisava ajudar sua namorada. Antonio prontificou-se
a tomar as providencias para o sepultamento e a convidou para ir até sua casa
ficar com o garoto.
Ali estava uma mulher em uma situação
desesperadora e ele teria que lhe dar toda assistência. Gostava da moça e a
criança lhe inspirava carinho, seu coração estava cheio de amor para dar.
Flora e Antonio seguiram abraçados, o
menino segurava a mão de sua mãe e saíram do cemitério, calados. À volta para
casa seria difícil, Antonio sabia e se propôs a levar o menino para a casa dele
e depois a mulher iria passar a noite com eles.
Foi uma longa noite para o homem que
pensava em tudo que lhe acontecera e agora estava naquela situação de difícil
solução. Se acolhesse a namorada teria que dar fim ao Bernardo e ele amava o
boneco; nunca o abandonaria. Flora dormiu logo, pois tomou um sedativo, estava
exausta.
Amanheceu e Antonio levou a moça para
sua antiga casa e foi trabalhar, depois pensaria em alguma coisa para se
desculpar com Flora; não queria que ela ficasse em sua casa.
Porém, foi difícil se esquivar daquela
situação, a moça dizia ter medo em ficar sozinha na antiga casa e foi ficando
na casa de Antonio.
O Bernardo permaneceu escondido dentro
do armário de roupas, pois Flora mudou-se para lá. O homem, nervoso, disse para
a namorada que lá no guarda roupas estavam as coisas de Verônica e não queria
que ninguém mexesse; a moça aceitou conformada.
Então, Antonio tinha uma mulher em sua
cama, mas não tinha privacidade. Durante um mês ele só via o Bernardo quando a
mulher saia com a criança. A novidade acabou e ele queria voltar à sua vida com
o boneco e o Lobo.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.