DOR DA ALMA
CAPÍTULO TRÊS
As horas passaram rápido e Saulo
sentiu fome, passava do meio dia, precisava voltar para sua casa. Olhou para o
enorme prédio do hospital, parecia frio em sua aparência cinzenta e sentiu uma
dor na alma. Havia muitas janelas em toda a extensão do segundo e terceiro andares e, ele ficava imaginando onde estaria sua mulher.
Queria dar apoio a Alana, pegar em
suas mãos, afagar seus cabelos e dizer que estava ali, para o que der e vier.
Ela fora tirada do seu lado abruptamente; ele não tivera tempo de se despedir.
O médico disse:
- Suspeita de Covid 19 e rapidamente
foi levada para o interior do prédio.
Saulo não pudera acompanhar sua
esposa no momento da internação, não permitiram por causa da pandemia
estabelecida. Alana estava lá dentro em estado grave, ele precisava tentar,
mais uma vez, entrar no hospital para vê-la.
Foi até o balcão conversar com
a recepcionista, tentou argumentar, mas encontrou uma barreira. A moça foi
taxativa:
- Ninguém entra no hospital,
estamos em quarentena.
E para reforçar a resposta da moça,
havia dois guardas na porta de acesso, com caras de poucos amigos. Saulo estava
tão debilitado física e mentalmente, que não teria forças para enfrentar um
gato, quanto mais dois leões de chácara.
Desanimado, o homem saiu
daquele lugar, apanhou seu veículo e ficou rodando pelas redondezas. Dos seus
olhos corriam lágrimas de preocupação, seu mundo estava desmoronando. Voltou
para casa e foi tomar banho, sentia-se sujo e contaminado, precisava se livrar
daquela sensação ruim.
Depois do banho foi até a
cozinha e comeu o resto do jantar do dia anterior. Em seguida se jogou na cama
e adormeceu, queria esquecer os últimos acontecimentos. Aquilo tudo era um
pesadelo e ele desejava ardentemente, acordar e retomar sua vida normalmente.
Mas, o pesadelo era a sua realidade.
Despertou com o celular tocando, eram seus
amigos querendo notícias de Alana. No entanto, ele não queria falar a respeito
e desligou o aparelho. Queria se esconder do mundo, estava muito triste, com um
nó na garganta e não atenderia ninguém. Em seguida, ele chorou todas as
lágrimas contidas, desde a noite anterior, queria sua família de volta.
A
noite chegou e ele continuava deitado no sofá, no escuro. Queria saber de
Alana, ela era forte e teria que resistir ao ataque do novo vírus.
-
Mas, quem poderia garantir que ela iria resistir?
Tentou, novamente, obter notícias, ligou para
o hospital, outra recepcionista atendeu e disse:
- Amanhã, as dez horas o médico irá dar um
boletim sobre os pacientes com Coronavírus, é só o que podemos dizer. Em
seguida desligou.
Saulo
largou o telefone e respirou fundo, nada poderia fazer a não ser esperar. Em
seguida caiu de joelhos, sua esperança estava em Deus. Orou, chorou, clamou,
ficou ali por um longo tempo, depois seu coração se acalmou.
O homem precisava saber o que estava
acontecendo lá fora. Assim, ligou a televisão e as notícias eram sobre o novo
vírus, que viera da China e estava assolando o mundo. Enquanto isso no hospital
a situação era caótica.
Não
havia suporte respiratório suficiente, para todos que estavam com falta de ar.
Os médicos procuravam manter os pacientes em máscaras de oxigênio, com a
esperança que melhorassem, sem a necessidade de depender da máquina, para se
manter vivo.
Alana
estava entre eles, mantinha um quadro grave de pneumonia, que não respondia aos
medicamentos. A única esperança era de que seu corpo reagisse e ela melhorasse
sem precisar ficar entubada.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa