FRENTE A FRENTE.
CAPÍTULO TRÊS.
Clara precisava de
uma pessoa para acompanha-la ao Shopping e ajuda-la a carregar as sacolas.
Pensou e não conseguiu imaginar uma pessoa que fosse boa ouvinte, quieta e
pudesse dar palpites sinceros se fosse necessário. Entrou na cozinha e viu sua ajudante; uma
moça que deveria ter uns quarenta anos, bonita, porém, bastante judiada pela
vida dura. Estava na casa fazia uns dez anos, desde que a sua filha Renata era
apenas um bebê. As crianças cresceram ao lado de Sara, que sempre demonstrou
ter muita competência e afeto pelos seus filhos.
. Chamou a moça e lhe
propôs um serviço extra, em troca ganharia vestido e sapatos novos, além de uma
gratificação em dinheiro. A moça adorou a ideia e aceitou a oferta. Clara pediu
que se arrumasse, dando-lhe um de seus vestidos e comprasse sapatos novos,
iriam ao Shopping no dia seguinte.
Sara chegou toda produzida e sua aparência agradou até ao
João e a Renata, os filhos de Clara. Depois de deixar as crianças no colégio,
as duas mulheres foram às compras; Clara estava decidida, agora Marcos iria ver
o estrago que aquela “Jeca” faria em seu cartão de crédito.
A mulher era bonita, uma morena vistosa; formada em
administração de empresas e tinha um gosto refinado, mas, ultimamente andava
tão desgostosa com sua vida de casada que relaxara um pouco. Clara e sua
secretária iriam procurar roupas, sapatos e acessórios para ela se arrumar para
o jantar do Clube, onde estariam os amigos e a amante de seu marido.
Sara colaborou com tudo que a patroa
queria fazer e dormiria no serviço, no dia do jantar, para cuidar das crianças.
Na sexta-feira, Clara se deu de presente, “um dia de princesa”; cuidou do
corpo, das unhas e dos cabelos e a noite vestiu sua roupa nova. Quando Marcos a
viu descer as escadas, parou para admirá-la. Sua esposa estava linda em seu
traje de noite; um vestido vermelho justo, com babados e decotado, deixando seu
colo à mostra. Clara tinha o cabelo preso no alto da cabeça e um mistério no
olhar. Ela usava brincos e gargantilha de pedras pretas incrustradas em ouro
branco, combinando com a bolsa e os sapatos. Estava chique e deslumbrante,
arrancando suspiro de seu marido, que não disse nada, mas lhe deu o braço, em
silêncio; parecia chocado. Durante o trajeto ele apenas perguntou das crianças
e depois ficou calado, mas de vez em quando dava uma olhada para ver sua
mulher.
Quando
adentraram ao salão em direção à mesa, a mulher avistou a secretária de Marcos
sentada ao redor da mesa. Ela estava com outro casal de amigos de seu marido.
Clara fez questão de se sentar em frente a Selma, sua rival. Uma loura bonita e
vulgar, concluiu a mulher traída. Houve os cumprimentos de praxe enquanto
chegavam mais dois casais que se juntaram aos demais. E, finalmente chegou o
advogado de Marcos que fez par com sua secretária. A mesa do jantar estava
completa, poderiam fazer o pedido.
Os homens ora comiam, ora falavam de negócios, enquanto as
mulheres se entreolhavam e falavam umas com as outras sobre banalidades. Selma
foi irônica ao dizer que Clara estava bonita; ela agradeceu com um sorriso
desafiador. Iria colocar aquela víbora em seu lugar.
Quando o jantar terminou, Clara disse ao marido que queria
dançar e o puxou para a pista de danças, onde já havia outros casais dançando.
A amante ficou na mesa olhando o casal e Marcos colou seu rosto ao de sua
mulher. Selma olhava com ódio para Clara, que fazia questão de ostentar uma
felicidade que há muito não acontecia.
Selma não acreditava que Marcos a estava ignorando e
dançando com a mulher que dizia não amar mais.
–Será que ele não a queria mais?
Pesou na alma da moça
a condição de amante e o desapontamento estava estampado em seu rosto. A guerra
fora declarada, havia lampejos de raiva quando cruzavam olhares. Clara
conseguiu manter o marido ao seu lado até o final do baile e saíram abraçados.
Marcos já estava um tanto embriagado e ela sentou-se na direção do automóvel;
estava feliz, demonstrara força à sua rival. Porém, lá no fundo ela sabia que
fora apenas uma pequena luta vencida em uma guerra cruel.
Marcos cochilava e ela pensava nas mulheres que choram por
um amor sem futuro. Muitas, como ela, que são fiéis e submissas a um homem que
faz questão de ignorá-las. Aquelas para quem não falta dinheiro, mas falta
amor, carinho, companheirismo e atenção. Clara sentia-se enganada, assustada,
traída diante de um homem que ela amava e que não a queria mais. Aquele dia ele
percebera que ela estava presente e ela aguardava ansiosa por carinho; Seu
maior desejo era terminar a noite nos braços de seu amor.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.