PRECISO
DE VOCÊ
CAPÍTULO
CINCO
Quando Cirilo Artur voltou ao quarto,
Olívia não havia chegado, demorou um pouco para voltar da radioterapia. Então, ele sentou-se na
poltrona enquanto aguardava. O quarto estava na penumbra e Cirilo Artur ficou imaginando o que
poderia fazer para animar sua esposa. Olívia estava triste e parecia definhar a
cada dia. Aquela situação estava deixando-o arrasado.
A moça chegou cansada, trazia as
marcas em tinta azul na região da clavícula, parecia um mapa mal traçado.
Cirilo Artur olhou e perguntou se estava doendo, mas, diante da negativa ele se
absteve de comentários. Aproximou-se e fez carinho em seus cabelos longos,
depois beijou sua mulher; ela era seu maior tesouro.
Em
seguida, vencido pelo cansaço, recostou-se no sofá e acabou por adormecer,
também estava exausto. Dormiu um sono agitado e sonhou com aquele rapaz
careca, Jonas, que não saia de sua cabeça. Acordou quando o carrinho de comida
entrou no quarto e fez barulho.
No sonho, teve uma sensação muito boa e
lembrou-se de sua infância. Sua mãe sempre dizia, que Deus fala com os seus
filhos através de outras pessoas, por isso deveriam prestar atenção quando
alguém falava com eles. Tinha convicção nisso.
-
O Jonas seria um mensageiro de Deus? Pensou Cirilo Artur.
Depois
do encontro, ele estava com algumas ideias que poderiam ajudar sua amada; teria
que pensar e dar corpo à sua imaginação. Pediria à sua mãe para fazer companhia
a Olívia e, depois do trabalho iria ao centro da cidade, para investigar a
possibilidade de concretizar sua ideia.
Retornou alegre, porque o seu desejo
era de fácil conclusão. Só teria que convencer sua mulher, a cortar seus
cabelos na altura do pescoço. Quando estavam sentados jogando conversa fora,
ele resolveu falar. Aproximou-se e pegando em suas mãos foi dizendo:
-
Olívia, hoje eu fui ao cabeleireiro que fabrica perucas e expus o seu caso. Ele
disse que pode fazer uma peruca do seu próprio cabelo, que ninguém vai
desconfiar que não está implantado no seu couro cabeludo. Precisamos cortar o
cabelo bem curto e levar para ele
tratar, que até os seus cabelos caírem, a peruca já estará pronta.
-
Não quero cortar meus cabelos, ela respondeu, enquanto as lágrimas escorriam
pelo seu rosto.
- Não tenho lembrança da última vez que cortei
os cabelos, deveria ser muito pequena; soluçou a moça.
A
mãe do rapaz fez sinal para ele dar um tempo para Olívia pensar.
-
Foi só uma ideia, se você não quiser, nada faremos, fique calma meu amor, e a
abraçou com carinho.
No
dia seguinte foram iniciadas as sessões de radioterapia e em seguida viriam as
quimioterapias, que levariam à queda dos cabelos de Olívia. Ela teria algum
tempo para decidir o que faria, pensou Cirilo Artur.
O
primeiro dia da quimioterapia seria na sexta-feira e ele faria uma surpresa
para seu amor. A mãe de Olívia passou a quinta-feira com ela e no final da tarde, o
marido iria busca-la para Cirilo Artur passar a noite ali. Então, entraram no
quarto, o seu pai, o irmão e Cirilo Artur, todos de cabeça raspada.
A
surpresa foi tão grande que ela gritou.
– Que loucura! Por que fizeram isso?
- Em solidariedade a você, porque a amamos e
não queremos que sofra.
Olívia não conteve as lágrimas e
agradeceu a todos; seriam quatro carecas e não apenas ela.
Os dias passaram e ela já ostentava
queimaduras na pele por causa da radioterapia. Sentia-se enfraquecida e com
náuseas. E, a tendência era piorar com o início da quimioterapia, todos sabiam
disso.
Um texto de Eva Ibrahim