BATE
CORAÇÃO
CAPÍTULO
CINCO
Os dias se sucediam e os enjoos e
vômitos se multiplicavam. Daniela já perdera alguns quilos nos dois primeiros
meses da gestação e até precisou ficar internada, para controlar a hiperemese
gravídica. Mas não reclamava, fazia tudo que o médico mandava. Deitada,
apalpava a pequena barriga, que despontava em seu ventre, queria muito sentir a
presença do bebê.
O casal chegou à conclusão de que
não poderiam esperar mais, ou todos iriam perceber a gravidez prematura da
jovem. Mateus tinha apenas um irmão, que morava em outra cidade com sua esposa
e dois filhos. Então, marcaram o enlace para a pequena cidade do interior de
Minas Gerais, onde morava a família de Daniela.
O enlace aconteceu no domingo,
antes do Natal. A noiva entrou na igreja pelos braços de seu pai, estava muito
bonita em seu vestido branco. Ninguém percebeu nada, pois estava mais magra do
que o costume. Essa condição era devida aos constantes enjoos e vômitos no
início da gestação.
Na hora de receber os
cumprimentos na porta da igreja, Daniela ficou pálida, sentiu a visão turva e
teve que ser amparada para não desmaiar. Algumas convidadas cochicharam.
– Será que a noiva está gravida? E outras afirmaram:
- Não, ela não teria coragem de
fazer isso com seus pais, que são conservadores ao extremo.
No entanto, agora estava casada e
seus pecados seriam perdoados, era assim que sempre acontecia por aquelas
bandas. O pai poderia ficar algum tempo sem falar com ela, mas quando visse a
carinha do bebê, seu coração perdoaria tudo e Daniela sabia disso. Acreditava
que seus pais a amavam e não a abandonariam por seu deslize, por isso estava
tranquila.
A cada dia que passava ela temia
que, mais uma vez, sua gestação não desse certo. A gravidez corria cheia de
apreensões, pois a moça não ganhava peso e continuava com vômitos frequentes.
Mateus se desdobrava para atender a todos os seus pedidos. A futura mamãe
carregava a frustração da primeira gravidez e o peso das incertezas da segunda
gestação.
Ela estava ansiosa para saber o sexo da criança, pois com o primeiro
filho ficou uma grande interrogação, o bebê nem sequer tinha nome. A moça
pensava nele como sendo um anjo, apenas isso.
Finalmente chegaram ao terceiro mês e os enjoos diminuíram, ao ponto de
ela ganhar alguns quilos. Daniela estava melhorando e já começara a comprar
roupinhas para o recém-nascido. Mateus a acompanhava às compras e as consultas
médicas, estavam esperançosos.
Logo foi marcado o primeiro
ultrassom, poderiam ver o sexo do bebê. O casal estava empolgado e foi emocionante
ouvir o coraçãozinho, batendo dentro de sua barriga. A gestante não conseguiu
conter as lágrimas, enquanto isso o marido segurava suas mãos. Em dado momento
o médico, sorriu e perguntou:
-Querem saber o sexo do bebê?
- Por favor doutor, estamos ansiosos.
Respondeu Mateus.
– É uma menina e está tudo bem com
ela, afirmou o médico.
Daniela não conseguiu segurar as
lágrimas, estava muito feliz. Faria tudo para que sua filha nascesse com saúde,
já a amava intensamente.
E, assim foram passando os dias,
alguns piores e outros melhores. Daniela precisou ficar internada mais duas
vezes, por vômitos persistentes. A gestante já estava no sexto mês e mal
aparentava sua gestação, tinha um pequeno volume aumentado na região do abdômen.
Fazia quatro meses que se casara e somente agora, seus pais ficaram sabendo que
seriam avós.
Na última visita, o médico disse
estar preocupado, pois o desenvolvimento do bebê estava aquém do esperado.
Passou vitaminas para Daniela tomar e incentivou uma alimentação mais
frequente, depois marcou retorno em quinze dias, para um novo ultrassom.
A gestação completara vinte e oito
semanas e o bebê apresentava baixo peso, deixando todos apreensivos. O médico
demonstrara sua preocupação e o casal saiu dali, bastante abatido. Mais cinco
semanas se passaram e quando a gestante entrou na trigésima semana, surgiu uma
dor na região lombar.
Dois, três dias e as dores
tornaram-se constantes. A moça foi
internada para analgesia e observação. Mais uma semana se passou e ela teve
alta hospitalar. Foi afastada do trabalho e em casa passava a maior parte do
tempo em repouso.
Assim, a moça conseguiu levar a
gestação mais um pouco. Com trinta e uma semanas, ela amanheceu com cólicas e
um pequeno sangramento. Daniela estava aflita, não poderiam perder a filha,
precisavam de ajuda.
Mateus a levou para o hospital,
onde ficou internada, com início de trabalho de parto prematuro.
O médico disse que a criança era
muito pequena e teria que ficar na incubadora, mas tinha possibilidades de
ficar bem. Enquanto cuidavam de sua esposa, ele sentou-se na sala de espera e
começou a rezar, precisava do olhar bondoso do pai celestial. Clamava baixinho
por misericórdia, precisavam daquela criança para continuar a vida, pois
Daniela não aguentaria outro golpe.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa