UMA
PONTE PARA O AMOR
CAPÍTULO QUATRO
O avião desapareceu, mas Serena não
saiu do lugar; estava extática. Marta, a mãe de Vitor, aproximou-se e passou o
braço sobre o ombro da futura nora, conduzindo-a para fora do local destinado
ao público no embarque. Tentou puxar prosa, mas a moça não disse nenhuma
palavra, apenas deixava sair um soluço doído, vez ou outra.
- Calma Serena, logo ele estará
de volta, o tempo voa, disse a mulher pesarosa com a situação.
Saíram dali e voltaram ao Hotel, mais
tarde voltariam para São Paulo. Serena mal se alimentou, nem prestou atenção na
comida; era visível sua tristeza. Parecia que seu corpo ficara vazio, sua alma
se fora com Vitor. Tinha a tez pálida, sem vivacidade; era apenas uma máscara
sem emoção. Serena foi para a casa de seus pais e Marta ficou preocupada. Queria
muito que Serena ficasse bem, sentia como se ela fosse sua filha também.
Os dias foram passando, e nada mudava. Ela saia
para trabalhar, chegava em casa e seguia direto para o quarto. Passava a maior
parte do tempo deitada, pensativa. Vitor mandava mensagens pelo celular, mas
pouco se falavam. Era difícil acessar um computador naquele local todo
destruído, explicava o rapaz apreensivo.
Um dia chegou uma carta de Vitor
para ela, o que a deixou muito feliz. As cartas estão em desuso, mas ainda
funcionam e são carregadas de sentimentos. Ele queria lhe contar algumas coisas
que aconteciam no seu dia a dia e achou melhor escrever uma carta, poderia dar
detalhes mais completos.
Serena ficou dias lendo e relendo
a carta, na verdade aquela carta foi um bálsamo para sua alma; o sorriso voltou
ao seu rosto. A cor, a vivacidade, um pouco de alegria e até a resignação por
ficar tanto tempo sem Vitor. D. Marta
tratou de dizer ao filho do sucesso da missiva e aconselhou que mandasse
outras; Serena gostava.
Os dias ficaram mais leves e outras
cartas chegaram contando histórias de pessoas, que não tinham nada. Gente sem
casa, sem alimento, sem rumo, que perderam seus familiares e andavam
perambulando em meio aos destroços das construções. Era um cenário de desolação, havia lixo acumulado em toda
a parte. Essas pessoas tinham algumas coisas em comum, o medo de seus patrícios,
a fome e a falta de sentido para viver.
A maioria tinha um olhar rude e
desconfiado, estavam sempre na defesa. Entre aquelas pessoas havia muita
disputa, por qualquer motivo o tempo fechava. Muitas vezes, os Boinas Azuis
tinham que interferir para que não se matassem. Principalmente, quando
distribuíam comida. A fome transforma as pessoas em animais, naquele local,
podia-se constatar isso.
Vítor conseguiu criar uma ponte
entre ele e Serena. Contava histórias de pessoas que observava, algumas com
quem ele tinha contato ou algum fato curioso do dia a dia. Aquela era uma
ligação somente deles e ela ficava feliz. Toda semana chegava uma nova história
para ela dormir agarrada, era seu amor que estava ali com ela. Então, ela
sorria e adormecia pensando nele.
Serena não sentia mais solidão,
gostava de ficar sozinha com suas cartas de histórias, contadas pelo seu amor.
Dois meses e sete cartas foi o saldo da distância entre eles, até aquele momento.
Em uma noite, ela acordou passando
mal, vomitou e não conseguiu dormir; seu estômago estava enjoado. Quando ela
relatou o ocorrido à sua mãe, ela arregalou os olhos e perguntou pela
menstruação.
A moça ficou pensativa, não se
lembrava, mas parecia que fazia tempo que sua menstruação não vinha. Estivera muito
ocupada com suas cartas, que não pensou nisso. Sua mãe sorriu.
– Vou ser avó, tenho quase certeza.
Vamos ao médico.
Um
texto de Eva Ibrahim.