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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

"NÃO DIGA NADA" - MÚSICA ROMÂNTICA - "DEIXA QUE EU SEJA ATÉ SEU SONHO. SUA REALIDADE, SUA FÉ, SUA CRENÇA, SUA VERDADE. DEIXA QUE EU LHE COMA COM OS MEUS OLHOS. COMO SE FOSSE, ENTÃO, A PAIXÃO QUE ENTRA E DEVORA UM CORAÇÃO." GILLIARD

        UMA PONTE PARA O AMOR 
                                   CAPÍTULO QUATRO
            O avião desapareceu, mas Serena não saiu do lugar; estava extática. Marta, a mãe de Vitor, aproximou-se e passou o braço sobre o ombro da futura nora, conduzindo-a para fora do local destinado ao público no embarque. Tentou puxar prosa, mas a moça não disse nenhuma palavra, apenas deixava sair um soluço doído, vez ou outra.

               - Calma Serena, logo ele estará de volta, o tempo voa, disse a mulher pesarosa com a situação.

              Saíram dali e voltaram ao Hotel, mais tarde voltariam para São Paulo. Serena mal se alimentou, nem prestou atenção na comida; era visível sua tristeza. Parecia que seu corpo ficara vazio, sua alma se fora com Vitor. Tinha a tez pálida, sem vivacidade; era apenas uma máscara sem emoção. Serena foi para a casa de seus pais e Marta ficou preocupada. Queria muito que Serena ficasse bem, sentia como se ela fosse sua filha também.

               Os dias foram passando, e nada mudava. Ela saia para trabalhar, chegava em casa e seguia direto para o quarto. Passava a maior parte do tempo deitada, pensativa. Vitor mandava mensagens pelo celular, mas pouco se falavam. Era difícil acessar um computador naquele local todo destruído, explicava o rapaz apreensivo.

              Um dia chegou uma carta de Vitor para ela, o que a deixou muito feliz. As cartas estão em desuso, mas ainda funcionam e são carregadas de sentimentos. Ele queria lhe contar algumas coisas que aconteciam no seu dia a dia e achou melhor escrever uma carta, poderia dar detalhes mais completos.

               Serena ficou dias lendo e relendo a carta, na verdade aquela carta foi um bálsamo para sua alma; o sorriso voltou ao seu rosto. A cor, a vivacidade, um pouco de alegria e até a resignação por ficar tanto tempo sem Vitor.  D. Marta tratou de dizer ao filho do sucesso da missiva e aconselhou que mandasse outras; Serena gostava.

            Os dias ficaram mais leves e outras cartas chegaram contando histórias de pessoas, que não tinham nada. Gente sem casa, sem alimento, sem rumo, que perderam seus familiares e andavam perambulando em meio aos destroços das construções. Era um cenário de desolação, havia lixo acumulado em toda a parte. Essas pessoas tinham algumas coisas em comum, o medo de seus patrícios, a fome e a falta de sentido para viver.

             A maioria tinha um olhar rude e desconfiado, estavam sempre na defesa. Entre aquelas pessoas havia muita disputa, por qualquer motivo o tempo fechava. Muitas vezes, os Boinas Azuis tinham que interferir para que não se matassem. Principalmente, quando distribuíam comida. A fome transforma as pessoas em animais, naquele local, podia-se constatar isso.

               Vítor conseguiu criar uma ponte entre ele e Serena. Contava histórias de pessoas que observava, algumas com quem ele tinha contato ou algum fato curioso do dia a dia. Aquela era uma ligação somente deles e ela ficava feliz. Toda semana chegava uma nova história para ela dormir agarrada, era seu amor que estava ali com ela. Então, ela sorria e adormecia pensando nele.

           Serena não sentia mais solidão, gostava de ficar sozinha com suas cartas de histórias, contadas pelo seu amor. Dois meses e sete cartas foi o saldo da distância entre eles, até aquele momento.

          Em uma noite, ela acordou passando mal, vomitou e não conseguiu dormir; seu estômago estava enjoado. Quando ela relatou o ocorrido à sua mãe, ela arregalou os olhos e perguntou pela menstruação.

           A moça ficou pensativa, não se lembrava, mas parecia que fazia tempo que sua menstruação não vinha. Estivera muito ocupada com suas cartas, que não pensou nisso. Sua mãe sorriu.

            – Vou ser avó, tenho quase certeza. Vamos ao médico.

Um texto de Eva Ibrahim.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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