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sexta-feira, 12 de julho de 2013

"BONITO MESMO É ESSA COISA DE VIDA: UM DIA, QUANDO MENOS SE ESPERA, A GENTE SIMPLESMENTE SUPERA!"- CAIO F. ABREU --- QUE A VIDA SEJA SEMPRE INSPIRADORA. EVA IBRAHIM.

                                        IGUAL AO PAI
A menina queria um cachorro; chorou, teve febre à noite e não estava doente, segundo o pediatra. A sogra dizia que estava com quebrante e desejo de ter um animal de estimação, isto é: estava com “lombrigas”. Durante três dias, Edu, o pai, ouviu essa ladainha; ficou irritado e desabafou:
- Eu não quero nenhum animal, Mara minha mulher passa o dia todo fora trabalhando e não temos tempo para cuidar de bichos. Essas crendices populares já foram desmistificadas, chega de bobagens. A sogra calou-se, não era hora de insistir; depois voltaria ao ataque.

Edu foi aposentado por invalidez depois de muito sofrimento. O jovem foi atropelado quando estava trabalhando; um grave acidente que quase o matou. Fraturou o osso fêmur das duas pernas e levou cinco anos para poder andar. Após muitas cirurgias e fisioterapia conseguiu recuperar-se, casou-se com a namorada e tiveram uma filha, Rubia, que agora já fez cinco anos. A menina é a cara dele, conforme ele mesmo diz; pai “coruja” que se orgulha de sua família.

Doze anos se passaram depois do acidente e Edu está sossegado. Construiu uma casa bonita e sua esposa não quer bagunça e muito menos sujeira de animais em sua casa.
A menina melhorou e o assunto parecia esquecido quando receberam a visita de um casal de amigos para um churrasco. Conversa vai, conversa vem e o assunto do cachorro voltou à tona. O casal, entusiasmado, disse que tinham uma cachorra “Poodle” e ela havia dado cria a três cãezinhos. Uma beleza os filhotinhos, duas fêmeas e um macho e estavam doando as cadelas.

Rubia ouviu e imediatamente gritou que queria uma cadela; os pais disseram que não e a menina começou a chorar. Edu e Mara ficaram sem jeito diante dos amigos e prometeram que iriam adotar uma cadela Poodle. Na verdade a promessa foi só para acalmar a menina, esperavam poder dissuadi-la posteriormente.
Porém, a menina não se esquecia da promessa e cobrava diariamente. Sem saída, o casal foi buscar a cadela. Era uma bolinha de pelo crespo, da cor âmbar e recebeu o nome de Luma. Nos primeiros dias, Rubia carregava a Luma o tempo todo e ela ficava quietinha, mas, a noite não deixava ninguém dormir, chorava e grunhia sem parar.

Mara queria devolver a cachorrinha para seus antigos donos, porém, Edu não permitiu, assumiu os cuidados do bichinho chorão. O homem fez uma cama, providenciou uma caixa com areia, comprou um bichinho de pelúcia para ela não se sentir muito só à noite. Luma finalmente entendeu que aquele era seu novo lar e adotou Edu como seu pai. Quando ele estava em casa ela o seguia por toda parte e se deixassem dormia e saia de carro com ele; era sua sombra.

Homem sensível passou a chamá-la de “filhinha” e a pequena criatura correspondia com esfregaços e latidos efusivos. Rubia sentia ciúmes do pai e se afastou do pequeno animal, não a queria mais. Edu foi duro com a filha, dizendo que a Luma não era brinquedo e teriam que ficar com ela; a cadela fazia parte da família.
Certo dia, o homem estava trabalhando e Rubia derrubou a cadela no chão; era muito frágil e quebrou a perna esquerda. Mara pegou a cadela e levou ao veterinário, temia a reação do marido. Luma foi anestesiada e teve a perna engessada. O homem ficou bravo e mantinha a cachorra protegida de novas quedas, proibindo a filha de carregá-la.

A recuperação foi lenta e engraçada, a cadela pulava com a pata engessada e fazia um barulho característico no chão, provocando risos. Depois de vinte dias ela estava quase restabelecida e subiu no sofá pulando; a queda foi inevitável. Quebrou a outra perna, novamente engessada voltou para casa com restrições, teria que ficar deitada durante três semanas. Luma quebrara as duas pernas em menos de um mês.Após o tempo previsto foi retirado o gesso e uma das pernas ficou levemente torta.

Com a chegada do calor, o homem a levou para tosar os pelos e passou na casa da sogra com a cadela pelada nos braços.
Sua sogra, em tom de brincadeira, disse que sua cadela era feia, magricela e fraca, pois, já quebrara as duas pernas. Também precisava de vitaminas para engordar, porque ela parecia um frango despenado, afirmou a mulher com ironia.

Sorrindo, Edu, disse que ela era “igual ao pai” mostrando as cicatrizes nas duas pernas; em seguida entrou no carro para dar uma volta com sua “filhinha”. Edu e sua cadela Luma tiveram a mesma experiência: quebrar as duas pernas na altura do fêmur. São coincidências difíceis de encontrar, só em almas afins; o homem e sua cadela se completam.
Um texto de Eva Ibrahim.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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