IGUAL
AO PAI
A menina queria um cachorro;
chorou, teve febre à noite e não estava doente, segundo o pediatra. A sogra
dizia que estava com quebrante e desejo de ter um animal de estimação, isto é:
estava com “lombrigas”. Durante três dias, Edu, o pai, ouviu essa ladainha;
ficou irritado e desabafou:
- Eu não quero nenhum animal, Mara minha mulher passa o dia todo fora trabalhando e não temos tempo para cuidar de bichos. Essas crendices
populares já foram desmistificadas, chega de bobagens. A sogra calou-se, não
era hora de insistir; depois voltaria ao ataque.
Edu foi aposentado por invalidez
depois de muito sofrimento. O jovem foi atropelado quando estava trabalhando;
um grave acidente que quase o matou. Fraturou o osso fêmur das duas pernas e
levou cinco anos para poder andar. Após muitas cirurgias e fisioterapia
conseguiu recuperar-se, casou-se com a namorada e tiveram uma filha, Rubia, que
agora já fez cinco anos. A menina é a cara dele, conforme ele mesmo diz; pai
“coruja” que se orgulha de sua família.
Doze anos se passaram depois do
acidente e Edu está sossegado. Construiu uma casa bonita e sua esposa não quer
bagunça e muito menos sujeira de animais em sua casa.
A menina melhorou e o assunto parecia esquecido quando receberam a visita de um casal de amigos para um churrasco. Conversa vai, conversa vem e o assunto do cachorro voltou à tona. O casal, entusiasmado, disse que tinham uma cachorra “Poodle” e ela havia dado cria a três cãezinhos. Uma beleza os filhotinhos, duas fêmeas e um macho e estavam doando as cadelas.
A menina melhorou e o assunto parecia esquecido quando receberam a visita de um casal de amigos para um churrasco. Conversa vai, conversa vem e o assunto do cachorro voltou à tona. O casal, entusiasmado, disse que tinham uma cachorra “Poodle” e ela havia dado cria a três cãezinhos. Uma beleza os filhotinhos, duas fêmeas e um macho e estavam doando as cadelas.
Rubia ouviu e imediatamente
gritou que queria uma cadela; os pais disseram que não e a menina começou a
chorar. Edu e Mara ficaram sem jeito diante dos amigos e prometeram que iriam
adotar uma cadela Poodle. Na verdade a promessa foi só para acalmar a menina,
esperavam poder dissuadi-la posteriormente.
Porém, a menina não se esquecia
da promessa e cobrava diariamente. Sem saída, o casal foi buscar a cadela. Era
uma bolinha de pelo crespo, da cor âmbar e recebeu o nome de Luma. Nos
primeiros dias, Rubia carregava a Luma o tempo todo e ela ficava quietinha, mas,
a noite não deixava ninguém dormir, chorava e grunhia sem parar.
Mara queria devolver a
cachorrinha para seus antigos donos, porém, Edu não permitiu, assumiu os cuidados
do bichinho chorão. O homem fez uma cama, providenciou uma caixa com areia,
comprou um bichinho de pelúcia para ela não se sentir muito só à noite. Luma
finalmente entendeu que aquele era seu novo lar e adotou Edu como seu pai.
Quando ele estava em casa ela o seguia por toda parte e se deixassem dormia e
saia de carro com ele; era sua sombra.
Homem sensível passou a chamá-la
de “filhinha” e a pequena criatura correspondia com esfregaços e latidos efusivos.
Rubia sentia ciúmes do pai e se afastou do pequeno animal, não a queria mais.
Edu foi duro com a filha, dizendo que a Luma não era brinquedo e teriam que
ficar com ela; a cadela fazia parte da família.
Certo dia, o homem estava
trabalhando e Rubia derrubou a cadela no chão; era muito frágil e quebrou a
perna esquerda. Mara pegou a cadela e levou ao veterinário, temia a reação do
marido. Luma foi anestesiada e teve a perna engessada. O homem ficou bravo e
mantinha a cachorra protegida de novas quedas, proibindo a filha de carregá-la.
A recuperação foi lenta e
engraçada, a cadela pulava com a pata engessada e fazia um barulho
característico no chão, provocando risos. Depois de vinte dias ela estava quase
restabelecida e subiu no sofá pulando; a queda foi inevitável. Quebrou a outra
perna, novamente engessada voltou para casa com restrições, teria que ficar
deitada durante três semanas. Luma quebrara as duas pernas em menos de um mês.Após o tempo previsto foi
retirado o gesso e uma das pernas ficou levemente torta.
Com a chegada do calor, o homem a levou para tosar os pelos e passou na casa da sogra com a cadela pelada nos braços.
Com a chegada do calor, o homem a levou para tosar os pelos e passou na casa da sogra com a cadela pelada nos braços.
Sua sogra, em tom de brincadeira,
disse que sua cadela era feia, magricela e fraca, pois, já quebrara as duas
pernas. Também precisava de vitaminas para engordar, porque ela parecia um
frango despenado, afirmou a mulher com ironia.
Sorrindo, Edu, disse que ela era “igual
ao pai” mostrando as cicatrizes nas duas pernas; em seguida entrou no carro
para dar uma volta com sua “filhinha”. Edu e sua cadela Luma tiveram a mesma
experiência: quebrar as duas pernas na altura do fêmur. São coincidências
difíceis de encontrar, só em almas afins; o homem e sua cadela se completam.
Um texto de Eva Ibrahim.
Um texto de Eva Ibrahim.