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quarta-feira, 29 de maio de 2019

"NOSSA SENHORA" (...) "MESMO FERIDO DE ESPINHOS ME AJUDE A PASSAR. SE FICARAM MÁGOAS EM MIM, MÃE TIRA DO MEU CORAÇÃO. E AQUELES QUE EU FIZ SOFRER, PEÇO PERDÃO. SE EU CURVAR MEU CORPO NA DOR, ME ALIVIA O PESO DA CRUZ, INTERCEDA POR MIM MINHA MÃE, JUNTO A JESUS." (...) ERASMO CARLOS E ROBERTO CARLOS.

A QUEIMA DO ALHO

CAPÍTULO SETE
             Marcelo e Angel obtiveram a aprovação dos pais da menina, para irem com a família dele, na festa do peão de Barretos. Uma cidade do interior de São Paulo com cerca de cento e vinte mil habitantes, que chega a receber milhares de pessoas durante a festa do peão de boiadeiro.

            O rapaz queria que sua namorada conhecesse um pouco daquele evento grandioso. Começou dizendo que a festa acontece por dez dias, durante o mês de agosto e no domingo, que antecede a grande final do rodeio, é festejada a queima do alho. O evento ocorre com um grande concurso entre as comitivas.

             Faltavam três meses para o maior evento sertanejo e regional da festa do peão de boiadeiro de Barretos e, as comitivas já se organizavam para participar. Os apetrechos e mantimentos são preparados com bastante antecedência, pois, as comitivas são compostas de, mais ou menos, trinta pessoas. Quinze homens são diretamente envolvidos com os concursos e apresentações, dez são apoiadores, além de familiares do responsável pela comitiva.

             Marcelo continuou contando, estava empolgado, sobre o famoso rodeio no interior de São Paulo.

            - A festa se inicia na quinta-feira e se estende até o domingo da outra semana. São dez dias de eventos na arena do rodeio e logo após o término dos trabalhos com os animais, acontecem os shows de cantores sertanejos famosos, que avançam madrugada a dentro.

              Durante as festas de rodeio, no decorrer do ano, que são realizadas por todo o país, são classificadas vinte comitivas para participar da queima do alho, na festa de Barretos.

            - Marcelo, o que é a queima do alho, para que serve? Angel disse olhando fixamente para ele; estava curiosa.

              - Segundo alguns peões mais antigos, essa tradição vem do século passado. Os tropeiros saiam no lombo de cavalos, levando boiadas, tropas de cavalos ou burros e ficavam dias nas estradas, até chegarem ao destino. Era assim que acontecia o comércio de animais, no início do século passado. Esses homens enfrentavam as chuvas, o frio, muitas dificuldades e precisavam de alimentos fortes, para aguentar as intempéries.

             - Nem sempre tinham lugar para comer e descansar, então, os tropeiros que sabiam cozinhar, preparavam um fogão feito no chão de terra e colocavam os alimentos no fogo, que carregavam nos lombos dos cavalos. O jantar era composto de feijão gordo com carne seca, arroz de carreteiro feito, também, com carne seca, bacon, muito tempero e paçoca de carne, além de churrasco na chapa.

             E, para avisar os demais que estavam cuidando da tropa, de que o jantar estava pronto, queimavam alho. Depois da comilança, ficavam tocando viola e cantando músicas sertanejas.

              - Dizem que o cheiro forte do alho, tomava conta de uma distância de mil metros e envolvia as pessoas, que voltavam rapidamente para comer, pois, a essa altura já estavam famintos. Essa prática se espalhou e passou a fazer parte da cultura sertaneja. Homens de pouco estudo, em sua maioria, mas, ágeis com os animais e tementes a Deus. Assim eram os peões de boiadeiro em tempos passados.

            Marcelo sentia-se à vontade para falar e conviver com todas essas tradições e histórias de peões de boiadeiro. Angel mantinha-se envolvida pelas coisas que seu amado dizia e, vez ou outra fazia uma observação, ou perguntava alguma coisa.

          O avô materno do rapaz, foi peão em uma fazenda de gado no interior do estado de São Paulo e sempre contava histórias e causos sobre touros bravos, cavalos indomáveis e perigosos. Havia alguns fatos que deixavam o menino com medo. Seu avô dizia que aconteceram casos, em que o peão caiu de mal jeito e morreu na arena do rodeio; quedas terríveis, tanto de cavalos como de touros. Marcelo tremia de medo quando ouvia essas histórias. E, não contou para Angel, ficou com medo, de que ela quisesse voltar para casa.

             Finalmente, chegou o dia da competição e os trabalhos começaram cedo. Em cada galpão é preparado o café dos componentes da comitiva e depois começam a preparar os alimentos para a hora do concurso. Os três cozinheiros, dentro de cada quadrado, identificado com o nome de sua comitiva, se revezam nas tarefas. Os homens cozinham em fogão improvisado com chapas de ferro, no chão de terra, como faziam os antigos tropeiros, essa é uma exigência do concurso.

           Mas, o evento começa, somente após o berrante dar o toque  para a abertura do concurso. Ganha quem preparar o melhor almoço, no menor tempo possível. São três jurados que provam e escolhem a melhor comida e, a que foi mais fiel a tradição sertaneja.

              Marcelo fazia parte da comitiva “Por do Sol” e todos os anos tinha seu lugar garantido. O rapaz e sua namorada chegaram com a comitiva e estavam passeando entre os galpões. Cada grupo tinha suas bandeiras hasteadas balançando ao vento. As bandeiras do Brasil, do estado a que pertence cada comitiva e do município também.

             Para Angel tudo era novidade, um mundo antes desconhecido. Ali havia muita gente, muita comida, muitos apetrechos de montaria e rapadura de cana de açúcar para adoçar a boca, sobre os balcões de madeira.

              Enquanto aguardavam o almoço ser servido, os homens se ocupavam de treinamentos, cada um em sua área. Um grupo dançava a “Catira” como treinamento para a apresentação no concurso de dança regional. O casal de namorados ficou parado, ouvindo músicas sertanejas de raiz, enquanto os homens batiam os pés sobre as tábuas dispostas lado a lado. Angel estava admirada por ver os homens cozinhando e dançando, enquanto as mulheres passeavam. 

             Nesse momento, um forte cheiro de alho inundou o ambiente, era o sinal; o almoço estava pronto.

             Marcelo explicou, que nas fazendas de gados são os homens que fazem a maioria dos trabalhos de sobrevivência. E, adoram reviver o passado, mantendo a tradição de seus antecessores. Em seguida, foram pegar o prato feito dos quitutes, da tradição sertaneja.

           Angel se fartou com um prato cheio e ficou admirada pela delícia de almoço, preparado pelos cozinheiros da comitiva dos peões de boiadeiro.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

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