A QUEIMA DO ALHO
CAPÍTULO SETE
Marcelo e Angel obtiveram a aprovação dos pais
da menina, para irem com a família dele, na festa do peão de Barretos. Uma
cidade do interior de São Paulo com cerca de cento e vinte mil habitantes, que
chega a receber milhares de pessoas durante a festa do peão de boiadeiro.
O rapaz queria que sua namorada conhecesse um
pouco daquele evento grandioso. Começou dizendo que a festa
acontece por dez dias, durante o mês de agosto e no domingo, que antecede a
grande final do rodeio, é festejada a queima do alho. O evento ocorre com um
grande concurso entre as comitivas.
Faltavam três meses para o maior
evento sertanejo e regional da festa do peão de boiadeiro de Barretos e, as comitivas
já se organizavam para participar. Os apetrechos e mantimentos são preparados
com bastante antecedência, pois, as comitivas são compostas de, mais ou menos,
trinta pessoas. Quinze homens são diretamente envolvidos com os concursos e apresentações,
dez são apoiadores, além de familiares do responsável pela comitiva.
Marcelo continuou contando, estava empolgado, sobre o famoso rodeio no interior de São Paulo.
- A festa se inicia na quinta-feira
e se estende até o domingo da outra semana. São dez dias de eventos na arena do
rodeio e logo após o término dos trabalhos com os animais, acontecem os shows
de cantores sertanejos famosos, que avançam madrugada a dentro.
Durante as festas de rodeio, no
decorrer do ano, que são realizadas por todo o país, são classificadas vinte
comitivas para participar da queima do alho, na festa de Barretos.
- Marcelo, o que é a queima do alho, para que
serve? Angel disse olhando fixamente para ele; estava curiosa.
- Segundo alguns peões mais
antigos, essa tradição vem do século passado. Os tropeiros saiam no lombo de
cavalos, levando boiadas, tropas de cavalos ou burros e ficavam dias nas
estradas, até chegarem ao destino. Era assim que acontecia o comércio de
animais, no início do século passado. Esses homens enfrentavam as chuvas, o
frio, muitas dificuldades e precisavam de alimentos fortes, para aguentar as
intempéries.
- Nem sempre tinham lugar para
comer e descansar, então, os tropeiros que sabiam cozinhar, preparavam um fogão
feito no chão de terra e colocavam os alimentos no fogo, que carregavam nos lombos
dos cavalos. O jantar era composto de feijão gordo com carne seca, arroz de
carreteiro feito, também, com carne seca, bacon, muito tempero e paçoca de
carne, além de churrasco na chapa.
E, para avisar os demais que
estavam cuidando da tropa, de que o jantar estava pronto, queimavam alho.
Depois da comilança, ficavam tocando viola e cantando músicas sertanejas.
- Dizem que o cheiro forte do
alho, tomava conta de uma distância de mil metros e envolvia as pessoas, que
voltavam rapidamente para comer, pois, a essa altura já estavam famintos. Essa
prática se espalhou e passou a fazer parte da cultura sertaneja. Homens de
pouco estudo, em sua maioria, mas, ágeis com os animais e tementes a Deus. Assim
eram os peões de boiadeiro em tempos passados.
Marcelo sentia-se à vontade para
falar e conviver com todas essas tradições e histórias de peões de boiadeiro. Angel
mantinha-se envolvida pelas coisas que seu amado dizia e, vez ou outra fazia
uma observação, ou perguntava alguma coisa.
O avô materno do rapaz, foi peão em
uma fazenda de gado no interior do estado de São Paulo e sempre contava histórias
e causos sobre touros bravos, cavalos indomáveis e perigosos. Havia alguns
fatos que deixavam o menino com medo. Seu avô dizia que aconteceram casos, em
que o peão caiu de mal jeito e morreu na arena do rodeio; quedas terríveis, tanto
de cavalos como de touros. Marcelo tremia de medo quando ouvia essas histórias. E, não contou para Angel, ficou com medo, de que ela quisesse voltar
para casa.
Finalmente, chegou o dia da
competição e os trabalhos começaram cedo. Em cada galpão é preparado o café dos
componentes da comitiva e depois começam a preparar os alimentos para a hora do
concurso. Os três cozinheiros, dentro de cada quadrado, identificado com o nome
de sua comitiva, se revezam nas tarefas. Os homens cozinham em fogão
improvisado com chapas de ferro, no chão de terra, como faziam os antigos
tropeiros, essa é uma exigência do concurso.
Mas, o evento começa, somente após o
berrante dar o toque para a abertura do
concurso. Ganha quem preparar o melhor almoço, no menor tempo possível. São
três jurados que provam e escolhem a melhor comida e, a que foi mais fiel a
tradição sertaneja.
Marcelo fazia parte da comitiva “Por do Sol”
e todos os anos tinha seu lugar garantido. O rapaz e sua namorada chegaram com
a comitiva e estavam passeando entre os galpões. Cada grupo tinha suas
bandeiras hasteadas balançando ao vento. As bandeiras do Brasil, do estado a
que pertence cada comitiva e do município também.
Para
Angel tudo era novidade, um mundo antes desconhecido. Ali havia muita gente,
muita comida, muitos apetrechos de montaria e rapadura de cana de açúcar para
adoçar a boca, sobre os balcões de madeira.
Enquanto aguardavam o almoço ser
servido, os homens se ocupavam de treinamentos, cada um em sua área. Um grupo dançava
a “Catira” como treinamento para a apresentação no concurso de dança regional.
O casal de namorados ficou parado, ouvindo músicas sertanejas de raiz, enquanto
os homens batiam os pés sobre as tábuas dispostas lado a lado. Angel estava
admirada por ver os homens cozinhando e dançando, enquanto as mulheres
passeavam.
Nesse momento, um forte cheiro de alho inundou o ambiente, era o
sinal; o almoço estava pronto.
Marcelo explicou, que nas fazendas de gados
são os homens que fazem a maioria dos trabalhos de sobrevivência. E, adoram reviver
o passado, mantendo a tradição de seus antecessores. Em seguida, foram pegar o prato feito dos quitutes, da tradição sertaneja.
Angel se fartou com um prato cheio e
ficou admirada pela delícia de almoço, preparado pelos cozinheiros da comitiva dos peões de boiadeiro.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa