A
CORDA E AS ROMARIAS
CAPÍTULO
QUATRO
O rapaz chegou trazendo um pouco de
conforto para Edileusa, cuja alma vivia num turbilhão de incertezas. Só Caetano
conhecia o problema, que sua namorada estava amargando. Com ele, ela podia se
lamentar e até chorar, que tinha um ombro para colocar sua cabeça; ele era seu
porto seguro.
O tema da festa do Círio de Nazaré
de dois mil e dezenove era: “Maria, Mãe da Igreja”. A cidade estava em
alvoroço, muitos turistas por todos os lugares, havia uma previsão de mais de
um milhão de pessoas para participar dos festejos daquele ano. Edileusa não se
cansava de admirar a evolução, que a festa do Círio tivera nos últimos anos. Era
filha da terra e já nem se lembrava mais da beleza das comemorações.
À noite, sentados no abrigo da
casa da mãe de Edileusa, viram passar, ali em frente, dois enormes caminhões
carregados com cordas. Caetano ficou surpreso e perguntou:
- Para que serve tantas cordas?
De onde estão vindos esses caminhões?
Helena, a mãe, sorriu e disse:
- Essas cordas vêm de Santa
Catarina, viajam dias para participar da festa. São um dos símbolos da devoção
do povo, quiçá o mais importante, depois do manto da virgem. Somam oitocentos metros de corda de sisal,
que são financiadas por anônimos, que fazem esse ato de caridade para
homenagear a Virgem de Nazaré.
Caetano, então, prosseguiu:
- Como isso é possível? Onde
ficam essas cordas?
A mulher sorriu novamente e
continuou:
-Desde o século passado, nos idos
de um mil oitocentos e oitenta e cinco, houve uma tempestade e uma enchente na
hora da procissão. A berlinda, onde estava a Virgem de Nazaré, ficou atolada e
os cavalos não conseguiam puxar o andor. Os animais foram soltos e um
comerciante do local emprestou uma corda, para que os fiéis puxassem a pequena
carruagem. Desde então, a corda é utilizada como o elo entre a população e a
santa.
- A corda vem dividida em duas
partes, quatrocentos metros são usados na transladação e os outros quatrocentos
na procissão do domingo. Todos querem segurar na corda, ou até mesmo tocá-la para
pagar promessas e receber as bênçãos da Virgem de Nazaré.
A festa acontece durante quinze
dias, durante a chamada quadra Nazarena e culmina no segundo domingo de
outubro, não tendo uma data fixa. O Círio é uma grande vela, que acompanha a
Virgem durante a procissão, de um lugar para outro. Existem vários objetos
simbólicos, que atraem as pessoas para admirar e acompanhar o desenrolar da
festa religiosa.
Um deles é a berlinda: um andor em
forma de carruagem, que abriga a imagem da Virgem. É carregado de flores, que
enfeitam o nicho onde a Santa fica durante o translado e a procissão. Tem,
também, além da corda, as romarias, o rosário, o manto, as crianças vestidas de anjos
e outros.
O translado acontece na
sexta-feira e marca o percurso da imagem da Virgem de Nazaré pelas ruas de
Belém até a Igreja Matriz da cidade de Ananindeua, município vizinho de Belém
do Pará. O percurso é feito em carro aberto, no qual a imagem da Santa recebe
muitas homenagens e passa a noite na Igreja sob vigília dos fiéis. Essa romaria
acontece na sexta-feira para sábado, que antecede o domingo do Círio.
No dia seguinte, de madrugada
acontece a missa antes da partida da imagem da santa. A romaria rodoviária se
dá ainda na madrugada e os fiéis, em grande número, aguardam a passagem da comitiva, que é
composta de carros oficiais e de romeiros, até a vila de Icoaraci.
Ali, então, é iniciada a romaria
fluvial, que leva cerca de cinco horas em um trajeto pela baia do Guajará. É
uma festa muito grande com barcos de todos os tipos e tamanhos, que são enfeitados
de flores, fitas coloridas e bandeiras, colorindo a baia em homenagem à Santa.
Caetano estava admirado, com tantas
novidades encontradas naquele lugar. Abraçou sua namorada e a beijou na testa,
era um sinal de proteção. Ali existia amor verdadeiro. Estavam ali para uma
missão especial, precisavam de um milagre.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa.
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