SEM VOLTA
CAPÍTULO DEZ
A
decadência de Alcir estava evidente, depois que Sila foi embora, ele tornou-se
um rapaz desleixado. Sua casa vivia desarrumada e suja; havia roupas e panelas
jogadas por toda parte, nada mais importava. Se não estivesse no bar, com
certeza, estaria jogado em algum canto, dopado. Tornara-se um farrapo humano,
pouco restara do rapaz bonito e cheiroso que se apaixonara por Sila. Muitas
coisas que havia na casa foram vendidas para comprar drogas. Por último ele vendeu o automóvel, precisava
pagar as contas da casa e de seu fornecedor. Ainda lhe restara à motocicleta,
que ganhara no jogo de cartas.
Seus
pais tentaram leva-lo para morar com eles novamente, porém, ele não aceitava
falar sobre isso. Lá no fundo ele ainda tinha esperanças de que sua mulher
voltasse para casa. Alcir sentia que se ele deixasse a casa, seria como se
estivesse rompendo definitivamente com seu amor. E, essa ideia o deixava louco,
preferia morrer a ver Sila acompanhada de outro homem. A moça era sua para
sempre e ninguém a tiraria dele; seu peito doía quando pensava nela.
Depois
de três meses de separação, Alcir estava emagrecido; não comia, vivia nos
bares. Sua mãe queria interna-lo em uma clínica de recuperação para drogados.
Quando soube disso, ele ficou uma fera, até a mãe que ele gostava tanto, não
entendia o que ele estava passando, lamentava o rapaz.
- Que ela nunca mais tocasse no assunto, ele
pararia de usar drogas quando quisesse, disse o filho indignado para a mãe
sofrida.
A
mulher seguiu para sua casa, estava desolada, não sabia que atitude tomar
diante da rebeldia de seu menino. Então, a mulher foi procurar a nora, quem
sabe ela conseguiria que Alcir se tratasse. Sila se recusou a falar com ele,
tinha medo dele. O marido estava transtornado e ela queria sossego, não
voltaria para ele, pois se revelara um homem violento, que não confiava nela.
Desde que ele jogara a moto em cima dela e de Celso, que era somente um colega
de escola, ela desistira dele definitivamente.
Sila
saia de casa somente para trabalhar e ir à escola, ela queria dar um tempo para
Alcir esquecê-la e assinar o divórcio. Seu casamento fora precipitado, ela
tinha muita coisa para fazer antes de se prender a alguém. Não voltaria atrás,
para ela o assunto estava encerrado.
Mais
um mês se arrastou e sua formatura estava próxima, então, ela se deu conta de que
alguns de seus documentos ficaram na casa de Alcir. Teria que pegá-los quando
ele não estivesse lá; aproveitaria para apanhar o restante de suas roupas, que
ficaram na casa.
Às
seis horas da tarde, quando saiu do serviço, Sila resolveu passar em sua antiga
casa; iria resolver aquela situação de uma vez. Se o marido não estivesse lá,
ela entraria na casa com sua chave; era coisa rápida, ele nem iria perceber que
ela esteve lá.
Era
um fim de tarde de inverno, estava frio e escurecendo depressa, então ela se
aproximou da casa e viu que estava às escuras. A moto não estava na garagem e a
moça concluiu que o marido havia saído. Abriu o portão e entrou sem fazer
barulho, pegaria suas coisas e sairia rapidamente. Entrou na sala, e acendeu a
luz; ficou horrorizada com a sujeira e o abandono do lugar, que ela gostava e
tinha boas lembranças. Em seguida foi até o quarto, os documentos estavam na
gaveta da cômoda.
Quando
Sila abriu a porta do quarto, Alcir deu um pulo da cama, estava só de bermuda e
parecia drogado. Agarrou sua mulher pelo braço tentando beijá-la; ela o
empurrou, estava cheirando a álcool e devia fazer tempo que não tomava banho,
disse a moça indignada. Não estava ali para reatar o casamento, viera apenas
pegar uns documentos, que estava precisando. Ele tentou segurá-la, porém, ela
foi saindo e Alcir pediu para que ela voltasse para pegar suas coisas, não iria
agarrá-la mais.
Ele
foi para a cozinha enquanto ela pegava os documentos no quarto. Ao sair ele
estava na sala e disse que iria perguntar somente mais uma vez.
- Você pode voltar para mim? Eu amo você.
Ela
retrucou horrorizada.
- Nunca mais, você está perdido nas drogas.
Alcir
sentiu-se desprezado e humilhado, em seguida tirou as mãos das costas onde
escondia o revolver, que apanhara no armário da cozinha. Com muito ódio ele
retrucou:
- Se
não for minha, não será de mais ninguém.
E,
antes dela abrir a boca, ele deu cinco tiros à queima roupa no peito de Sila,
que surpresa caiu ao chão.
Em
segundos o sangue tomou conta de sua boca e entre rápidos espasmos a moça ficou
sangrando caída no chão da sala da casa, que um dia fora sua também.
Alcir
ficou parado olhando o que fizera; não podia acreditar que matara o amor de sua
vida. Abaixou-se e tentou levantá-la; ela estava inerte em meio a uma poça de
sangue. Horrorizado o rapaz afastou-se, o que fizera não tinha perdão, teria
que fugir para longe, onde ninguém o alcançasse.
Sua
moto estava atrás da casa, por isso Sila não viu. Pulou em cima da motocicleta,
estava de meias e bermuda, nada mais. Enquanto os vizinhos saiam para ver o que
fora aqueles estampidos, Alcir passava por eles desesperado e ganhava a rodovia
que o levaria até a cidade vizinha, deixando para trás o corpo inerte de seu
amor.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.