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quarta-feira, 1 de maio de 2019

"ROMARIA" (...) "O MEU PAI FOI PEÃO, MINHA MÃE, SOLIDÃO. MEUS IRMÃOS PERDERAM-SE NA VIDA, A CUSTA DE AVENTURAS. DESCASEI, JOGUEI, INVESTI, DESISTI. SE HÁ SORTE EU NÃO SEI, NUNCA VI". (...) RENATO TEIXEIRA

COM MUITA FÉ

CAPÍTULO TRÊS
            A tarde chegou e a menina estava eufórica, nunca estivera fazendo visitas em hospitais. Era uma grande novidade e se arrumou com mais afinco. Apesar da dor de cabeça intermitente, que a fazia sentir um pequeno coração na altura da testa, Angel queria rever o rapaz, que estava ferido no hospital.

              Deixou seus cabelos negros e encaracolados soltos ao vento, assim encobria parcialmente o curativo e acentuava sua beleza natural. Ela tinha grandes olhos esverdeados, olhos de camaleão, diziam em sua casa.

            - Cada vez que olho para ela, estão de uma cor diferente. Sua mãe dizia e completava, que eram olhos incisivos e desconcertantes. As vezes eram verdes, outras vezes, cor de mel. Quando sua dona ficava irada, eles escureciam a um tom de marrom escuro, profundo e misterioso. Seus irmãos saiam de perto, pois era sinal de agressividade, na certa. Angel era uma menina brava, mas tinha um bom coração, que fora tocado pelo acidente de Marcelo.

                Sua mãe arrumou uma sacola com algumas frutas e acompanhou a menina até o hospital. Lá estavam a mãe, o pai e uma irmã do rapaz, esperando para visitá-lo. Pareciam ansiosos e Angel se apresentou, dizendo da sua preocupação com a saúde do rapaz. Depois, mostrou sua cabeça costurada debaixo do curativo e, que estava ali para dar apoio ao colega de desventura. A família do rapaz ficou surpresa e acabaram sorrindo para a moça.

                 - Ele teve muita sorte mesmo, disse o pai de Marcelo. E a mãe completou:       
                     
                - Graças a proteção de Nossa Senhora Aparecida, o nosso menino está vivo. Em seguida, o casal se abraçou, estavam comovidos.

              Quando a porta foi aberta para as visitas, entraram os pais do paciente e depois iriam as duas moças. Celina, a irmã de Marcelo e Angel companheira ocasional do atendimento no pronto socorro. Olga e as duas moças ficaram aguardando a vez. A mãe estava ali apenas para acompanhar a filha, não pretendia atrapalhar as visitas.

                Algum tempo depois, os pais de Marcelo saíram e as duas meninas adentraram ao recinto.
               Celina abraçou seu irmão e seus olhos se encheram de lágrimas, estava emocionada, não conseguia falar; tinha um nó na garganta. Ficou alguns minutos olhando para ele e, depois sentou-se na poltrona dando lugar à Angel.

            A nova amiga chegou perto da cama e pegou nas mãos do rapaz, que continuavam quentes e cheias de calos. Foi somente naquele momento que ela percebeu, que as mãos dele estavam cheias de áreas grossas. Então, o rapaz explicou, orgulhoso.

             - Eu seguro o touro bravo com essas mãos e a força é tamanha, que formam calosidades, pelo atrito com a corda do cabresto.

                Angel sabia pouca coisa sobre peões de boiadeiro, mas, já o admirava como se admira a um herói. Era o homem e o animal, numa luta desconcertante e fora do normal, dentro de uma arena. Uma demonstração de poder humano, perigoso, grotesco e que arrasta multidões em suas apresentações. Os músicos e cantores vestidos à caráter, apresentam verdadeiros shows de músicas sertanejas, depois da contenda dentro das arenas.

              Os palcos são montados ao lado das arenas e as apresentações se estendem até a madrugada. São eventos que tem um poder milionário e turístico, proporcionando progresso aos locais de suas apresentações. Aquele mundo desconhecido a atraia, a ponto de querer ficar por perto do rapaz.

Na mesinha de cabeceira estava uma imagem de Nossa senhora Aparecida, que a mãe do rapaz colocara ali. Angel depositou suas frutas ao lado da imagem. No peito de paciente, que tinha a blusa do pijama aberta, brilhava a medalha da santa, agora limpa e polida.

 - Marcelo está bem protegido, eu também quero uma medalha dessas! Pensou Angel.

              Havia uma certeza de sua recuperação, apesar de todos os exames feitos e a preocupação externada pelos médicos. O coice poderia trazer consequências desastrosas, pois o impacto no cérebro fora grande. No entanto, a confiança e certeza da proteção recebida da santa, os deixavam tranquilos.
              Ali estavam pessoas de muita fé.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

MEU MUNDO REINVENTADO.

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