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quarta-feira, 16 de maio de 2018

"O LUAR" "O LUAR É A LUZ DO SOL QUE ESTÁ SONHANDO. O TEMPO NÃO PÁRA! A SAUDADE É QUE FAZ AS COISAS PARAREM NO TEMPO...OS VERDADEIROS VERSOS NÃO SÃO PARA EMBALAR, MAS PARA ABALAR..." MÁRIO QUINTANA

A LUA POR TESTEMUNHA

CAPÍTULO SETE
           A pequena comunidade estava abalada com o último acontecimento, aquele foi um caso inédito, que entristeceu as famílias do local. Cecília não poderia mais viver ali, pois, sempre que saísse de casa seria apontada na rua e nunca mais encontraria casamento na região. Ficara marcada pelo ocorrido, era uma mulher rejeitada pelo marido, que teve seu casamento anulado.

             Os pais de Cecília estavam envergonhados e desgostosos da vida, então, resolveram mudar de cidade. A família foi, definitivamente, para a capital, lá ninguém conhecia aqueles acontecimentos e Cecília poderia ter uma nova chance. Essa história ficou na memória do povo da pequena cidade e fez arrochar a vigilância sobre as meninas do local.

             Maria Alcina foi proibida de sair à noite.

          - Não correremos o risco de Maria Alcina seguir o caminho da amiga. Se alguém se interessar por ela, deve vir até a nossa casa falar comigo; dizia seu pai preocupado.

           As festas praticamente foram extintas e o cinema estava sempre vazio. As meninas passaram a namorar no portão, por durante três meses, era tempo suficiente para decidir se queria namorar sério ou desistir ali mesmo.

            Se entrasse, o rapaz teria que pedir a moça em namoro para sentar no sofá da sala e conversar com ela em dias marcados. E, dali a seis meses aconteceria o noivado. A seguir começariam os preparativos para o casamento, que ocorreria na Igreja local.

           A noiva ficaria empenhada em confeccionar o enxoval e ao noivo caberia decidir onde morar. Ele teria que arrumar uma casa ou morar com seus pais, até construir a própria casa. Tudo muito prático e decidido para preservar a ética e a moral das donzelas.

           E assim, Maria Alcina começou a namorar no sofá da sala. Frederico chegava as dezenove horas e quando o relógio batesse vinte e uma horas ele deveria se levantar e despedir-se na porta, para depois sair fechando o portão. O namoro aconteceria somente aos sábados e domingos. No restante da semana todos trabalhavam e não poderiam perder tempo com namorados.

             No entanto, Romeu, o pai da moça, vivia desconfiado do novo casal, que, segundo ele, precisava ser vigiado para não cair em tentação. Ele, então, colocou um quadro, que continha uma paisagem clara e brilhante, na parede da copa; mais parecia um espelho. Dessa maneira, ele poderia vigiar os acontecimentos no sofá, sem despertar suspeitas. Romeu ficava assistindo o jornal na Televisão e de olho na filha, namorando no sofá da sala.

             Maria Alcina e o namorado eram jovens, cheios de hormônios em ebulição e a proximidade despertava em ambos desejos incontroláveis. Várias vezes, o pai teve que intervir com pigarros e tosses forçadas para afastá-los, sem dar vexame. E, Doralice ficava encarregada de chamar a atenção da filha, quanto aos agarramentos.

            Todo cuidado foi pouco, pois, algumas moças burlaram toda essa vigilância e se desviaram do caminho traçado. Algumas se casaram grávidas e outras tiveram filhos solteiras, para desgostos de seus familiares. A modernidade tinha reflexo no interior também.

            As coisas da vida estavam por toda parte; liberdade sexual, os hippies, as danceterias e a luta feminista pela igualdade com o sexo masculino. Tantas mudanças incomodavam muita gente. As moças da pequena cidade foram pressionadas a se casar cedo, para ficar longe de todas aquelas tentações.

Assim, Romeu e Doralice forçaram os dois namorados ao compromisso, que os levaria ao casamento. Maria Alcina e Frederico estavam com o casamento marcado para dali a seis meses. Enquanto isso não acontecia, eles se agarravam escondidos nos cantos escuros da rua, tendo apenas a lua por testemunha.

 A festa começou a ser planejada para acontecer no clube de campo e contar com a presença de grande parte da população local. Uma cidade pequena onde todos se conheciam e a maioria eram parentes ou amigos. Os casamentos eram motivos de grande confraternização naquela comunidade.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

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