A LUA
POR TESTEMUNHA
CAPÍTULO
SETE
A pequena comunidade estava abalada
com o último acontecimento, aquele foi um caso inédito, que entristeceu as
famílias do local. Cecília não poderia mais viver ali, pois, sempre que saísse
de casa seria apontada na rua e nunca mais encontraria casamento na região.
Ficara marcada pelo ocorrido, era uma mulher rejeitada pelo marido, que teve
seu casamento anulado.
Os pais de Cecília estavam
envergonhados e desgostosos da vida, então, resolveram mudar de cidade. A
família foi, definitivamente, para a capital, lá ninguém conhecia aqueles
acontecimentos e Cecília poderia ter uma nova chance. Essa história ficou na
memória do povo da pequena cidade e fez arrochar a vigilância sobre as meninas
do local.
Maria Alcina foi proibida de sair à
noite.
- Não correremos o risco de Maria
Alcina seguir o caminho da amiga. Se alguém se interessar por ela, deve vir até
a nossa casa falar comigo; dizia seu pai preocupado.
As festas praticamente foram
extintas e o cinema estava sempre vazio. As meninas passaram a namorar no
portão, por durante três meses, era tempo suficiente para decidir se queria
namorar sério ou desistir ali mesmo.
Se entrasse, o rapaz teria que
pedir a moça em namoro para sentar no sofá da sala e conversar com ela em dias
marcados. E, dali a seis meses aconteceria o noivado. A seguir começariam os
preparativos para o casamento, que ocorreria na Igreja local.
A noiva ficaria empenhada em
confeccionar o enxoval e ao noivo caberia decidir onde morar. Ele teria que arrumar
uma casa ou morar com seus pais, até construir a própria casa. Tudo muito
prático e decidido para preservar a ética e a moral das donzelas.
E assim, Maria Alcina começou a
namorar no sofá da sala. Frederico chegava as dezenove horas e quando o relógio
batesse vinte e uma horas ele deveria se levantar e despedir-se na porta, para
depois sair fechando o portão. O namoro aconteceria somente aos sábados e
domingos. No restante da semana todos trabalhavam e não poderiam perder tempo
com namorados.
No entanto, Romeu, o pai da moça,
vivia desconfiado do novo casal, que, segundo ele, precisava ser vigiado para
não cair em tentação. Ele, então, colocou um quadro, que continha uma paisagem
clara e brilhante, na parede da copa; mais parecia um espelho. Dessa maneira,
ele poderia vigiar os acontecimentos no sofá, sem despertar suspeitas. Romeu
ficava assistindo o jornal na Televisão e de olho na filha, namorando no sofá
da sala.
Maria Alcina e o namorado eram
jovens, cheios de hormônios em ebulição e a proximidade despertava em ambos
desejos incontroláveis. Várias vezes, o pai teve que intervir com pigarros e
tosses forçadas para afastá-los, sem dar vexame. E, Doralice ficava encarregada
de chamar a atenção da filha, quanto aos agarramentos.
Todo cuidado foi pouco, pois,
algumas moças burlaram toda essa vigilância e se desviaram do caminho traçado.
Algumas se casaram grávidas e outras tiveram filhos solteiras, para desgostos
de seus familiares. A modernidade tinha reflexo no interior também.
As coisas da vida estavam por toda parte;
liberdade sexual, os hippies, as danceterias e a luta feminista pela igualdade
com o sexo masculino. Tantas mudanças incomodavam muita gente. As moças da
pequena cidade foram pressionadas a se casar cedo, para ficar longe de todas
aquelas tentações.
Assim, Romeu e Doralice forçaram os dois
namorados ao compromisso, que os levaria ao casamento. Maria Alcina e Frederico
estavam com o casamento marcado para dali a seis meses. Enquanto isso não
acontecia, eles se agarravam escondidos nos cantos escuros da rua, tendo apenas
a lua por testemunha.
A festa
começou a ser planejada para acontecer no clube de campo e contar com a
presença de grande parte da população local. Uma cidade pequena onde todos se
conheciam e a maioria eram parentes ou amigos. Os casamentos eram motivos de
grande confraternização naquela comunidade.
Um texto
de Eva Ibrahim Sousa