BONECO
DE PANO
CAPÍTULO
DEZ
Marcelo se classificou em terceiro
lugar para as finais da montaria em cavalos, na modalidade Cutiano. Jiló se
portara magnificamente, pulou e corcoveou para todos os lados, o rapaz estava
satisfeito com seu cavalo. Vislumbrava a possibilidade de sair vencedor da
prova final.
Terminados os trabalhos de classificação
para as provas de cavalos e touros, os presentes se dirigiram para o espaço de
shows de músicas sertanejas. Os pais do rapaz e o casal de namorados, também se
dirigiram para o local do show de uma famosa dupla sertaneja.
Havia uma satisfação plena entre
os quatro, naquele evento. O melhor aconteceu, Marcelo provou que estava
recuperado e pronto para a competição, que teria sua final no dia seguinte. Já
era muito tarde quando se separaram, o peão foi para o camping, Angel e os pais
do rapaz para o hotel.
Voltariam a se encontrar ao cair da
noite na arena de rodeios. Ali seria decidido o novo campeão de montaria a
cavalo, no rodeio de Barretos. Dez foram os classificados, todos veteranos e
capacitados para vencer; seria um páreo duro.
Marcelo ficaria concentrado até chegar a hora
da competição, precisava descansar. A luta para manter Jiló controlado fora
intensa, seu punho doía, apesar da munhequeira usada. Mas, mesmo assim
acalentava em seu peito uma esperança de vitória, queria que Angel sentisse
orgulho dele. Embora a esperança fosse tênue, criara força depois das
eliminatórias. Dependia somente dele e de
Jiló levar o prêmio para casa, uma caminhonete possante.
Angel estava deslumbrada com
tantas novidades presenciadas. O trabalho dos salva-vidas ao abordar o animal a
deixou surpresa, eram verdadeiros heróis ao se colocarem para proteger os
peões. Assim, muitas vidas foram poupadas dos cascos de animais pesados,
violentos e descontrolados.
O dia amanheceu brilhante e
prometia muitas conquistas na arena. Depois do almoço, os pais e a namorada
deixaram o hotel, para passear e conhecer a cidade. A moça ganhou uma linda bota
e um chapéu de boiadeiro da futura sogra, que usaria para assistir à
competição.
Conheceram o Hospital de amor e
ficaram perplexos e extasiados pela grandiosidade da instituição e calor
humanos existentes no local. É um hospital moderno, enorme e abençoado, pois
todos que necessitam de tratamento são acolhidos e assistidos da melhor maneira
possível. São centenas de pessoas que passam por ali todos os dias,
provenientes de todos os estados brasileiros.
A festa de peões de boiadeiro de
Barretos é cheia de muita fé, alegria, caridade e principalmente amor pelos
doentes. Por sua própria condição de lidar com sertanejos, que são homens de fé
e respeito aos ensinamentos de Deus, emana dessa simplicidade a vontade de
contribuir para o bem-estar do próximo.
A noite chegou estrelada e
brilhante, propícia para eventos ao ar livre. Angel e os pais de Marcelo se
dirigiram à arena, onde ele já se encontrava. Sentaram-se bem perto das baias
dos cavalos, queriam ver os competidores de perto.
A festa começou com o narrador fazendo uma oração a Nossa Senhora de
Aparecida e todos os peões de cabeça baixa e com o chapéu nas mãos, fizeram a
sua oração. Depois dos fogos de artifício e do desfile dos competidores foi
dada a largada para a grande final. O berrante tocou mais uma vez e a arena se
calou para assistir a contenda.
O primeiro cavaleiro saiu com seu
cavalo xucro, pulando desembestado e seu condutor parecia um boneco de pano,
solto sobre o lombo do animal. De uma carreira rápida, ele foi atirado ao chão.
Foi aplaudido e socorrido pelos salva-vidas, estava eliminado. Assim, foram surgindo
os próximos candidatos, até que chegou a vez de Marcelo. A pontuação ficava
entre setenta e oitenta, ninguém chegara a noventa até o momento.
O coração de Angel batia tão
rapidamente, que parecia saltar do peito. Puxou o lenço do pescoço e cobriu os
olhos, temia por seu amor.
Um
texto de Eva Ibrahim Sousa.