CAPÍTULO
NOVE
O viúvo, desfigurado, aproximou-se da
defunta para despedir-se e constatou a frieza da morte. Ali estava um pobre
corpo inchado, sofrido, endurecido e frio; em nada se parecia com aquela mulher
quente e amável que fora sua amada. Olívia não estava ali, disso ele tinha
certeza.
- Onde ela estaria?
Olhou à sua volta e viu algumas pessoas
sentadas velando o corpo, outras do lado de fora, que pareciam cochichar. Todas
com um olhar estarrecido diante daquele fato triste, que é a morte de uma
pessoa tão jovem.
- Quem sou eu para querer descobrir
o maior mistério do mundo? Para onde vamos? Pensou e caiu em si, só lhe restava
chorar e pedir perdão ao Deus que ele amava.
Se Olívia se foi, deve ter sido para
alegrar o reino dos céus e ele teria que se conformar e nunca blasfemar.
Respirou fundo e quando o cortejo seguiu até a cova, ele foi segurando na alça
do caixão; acompanhou a esposa até sua última morada.
O pastor encomendou o corpo e Cirilo Artur se
manteve impassível, para não desabar ali mesmo. Em seguida, todos os parentes e
amigos jogaram flores das coroas sobre o caixão no fundo da cova. Entretanto,
Cirilo Artur escolheu uma margarida, uma flor que Olívia gostava e jogou sobre
o caixão; junto dela, jogou também o seu coração.
Depois, amparado por familiares, ele deixou o cemitério; sua alma estava vazia. Não tinha fome e nem
sentimentos, apenas um grande vazio. Quis dormir em sua casa, apesar dos
protestos de sua mãe. Cirilo Artur precisava ficar sozinho para chorar e
aliviar a sua dor, que era da alma. Um sentimento de impotência, de perda
irreparável, de angustia, de pena de si mesmo.
Deitado no sofá, chorou todas
as lágrimas possíveis, até adormecer como um pássaro ferido de morte. Passou a
noite ali, sem sonhos ou pesadelos, mergulhou na escuridão do sono
reparador. O Sol já estava alto quando
ele acordou. Dormiu 18 horas, precisava recuperar-se um pouco, para manter-se
vivo, depois de tantas noites mal dormidas.
Assim, a vida continua e ele
acordou com a claridade que entrava pelo vitro da sala. Sentou-se no sofá e
voltando à realidade ele viu que estava sujo de suor e de tantas dores
sofridas; sentiu nojo de si mesmo. Precisava tomar banho, fazer a barba e
aprender a conviver com sua dor. Era um homem de fibra e como tal agiria dali
para a frente.
Vestiu uma camisa preta, que é
o que mais combinava com seu estado de espírito e depois fez um café, que tomou
como se fosse um remédio para mantê-lo vivo. Cirilo Artur tornou-se um pássaro
ferido, que tinha duas opções; ou se escondia do mundo ou procurava a sua família
e a igreja para conseguir ajuda e levar a vida adiante.
Tinha muitas chamadas de sua mãe no
celular, mas ele apenas respondeu dizendo que estava bem e precisava ficar
sozinho. Cirilo Artur queria pensar em Olívia e entender por que a vida dela
fora tão curta. O Deus que ele conhecia era um Deus de amor, mas por que ele o
deixara sozinho?
Buscava respostas para não
enlouquecer. Esperou escurecer, não queria encontrar nenhum conhecido, depois
seguiu para a sua igreja.
Ficou do lado de fora esperando
o culto acabar, em seguida, entrou para conversar com o pastor, precisava de
ajuda espiritual.
Um
texto de Eva Ibrahim