SAINDO DA CASCA
CAPÍTULO DEZ
Clara estava amando novamente,
porém, tinha os pés no chão; não arriscaria o bem estar dos dois filhos. João e
Renata eram seu maior tesouro. Enquanto Marcos pagasse as contas
da casa, ela se sentiria submissa a ele e continuaria sendo uma mulher de
papel. Mais uma mulher presa ao homem somente por um papel assinado no cartório
e com deveres de manter a aparência diante da sociedade. Clara estava só e
ficaria livre dele quando conseguisse pagar suas contas, disso ela tinha
certeza.
Marcos, o marido, não lhe dava trégua, estava sempre vigiando e quando não a encontrava em casa, ele
ficava irado, apesar de te-la abandonado e estar morando com outra mulher. Depois telefonava ameaçando-a e Clara temia por seus filhos,
então ficava calada.
Ela e Tiago tinham uma
relação de amizade e respeito; deveria ser assim, enquanto Clara dependesse do
dinheiro do marido para sobreviver. Ambos eram sentimentais e honestos;
esperariam o tempo que fosse necessário. Havia uma atração e um sentimento de
amor crescendo no coração dos dois; tinham planos para o futuro.
Clara queria montar uma pequena empresa de artesanatos e presentes; uma loja cheia de coisas bonitas. Venderia os trabalhos confeccionados
pelas mulheres da comunidade e outras coisas também. Compraria um pouco de tudo que era feito na comunidade e o
restante as mulheres continuariam vendendo na feira livre dos domingos. Assim, elas teriam
duas fontes de renda; um incentivo a mais para aumentar a produção e empregar mais pessoas.
Tiago encontrou um local apropriado e disponível, uma antiga loja de roupas; onde havia um anúncio que dizia estar pronta para
ser alugada. Clara ficou deslumbrada, era o local perfeito; um salão grande e
bem localizado. O lugar poderia ser subdividido e nos fundos da loja colocaria algumas máquinas de costura.
Montaria um pequeno ateliê de
costura, para dar acabamento aos trabalhos confeccionados na comunidade; valorizando o trabalho feito à mão. Ela
traria algumas artesãs: Joelma, Rose, a cunhada de Tiago e Marli, que era
costureira, para trabalharem diretamente com ela. Marli era também, uma mulher
de papel, lutava pela sobrevivência de seus filhos; seu marido a abandonara por
outra mulher. Clara pretendia ajuda-la.
Tiago cuidaria das compras e da
parte financeira; seria seu conselheiro, além de seu amor. Josias, irmão de
Tiago continuaria cuidando da comunidade para prover a loja e a barraca da feira livre.
Estava tudo perfeito, Deus ouvira suas preces.
Pensou em sua mãe, ela poderia
morar com ela e dar suporte a criação dos seus filhos. Sara continuaria
cuidando da casa e das crianças. Clara sorriu, parecia que seu projeto estava
ganhando corpo para ser realizado. O dinheiro que recebera da herança de seu pai, seria
suficiente para ela iniciar seu empreendimento comercial.
A mulher procurou o advogado, que cuidara de sua separação e deixou a burocracia da papelada em suas mãos. Ela e
Tiago trataram de arrumar um marceneiro para subdividir o salão. Tiago e Clara
compraram os móveis e maquinários necessários.
A mãe de Clara respondeu à
filha dizendo que poderia contar com ela, pois, estava muito só; precisava
mudar de ares. A viuvez deixou a mulher deprimida. Em quinze dias a estrutura
da loja estava pronta e os móveis no lugar. Tiago e Clara se abraçaram felizes,
daria tudo certo.
Os dois fizeram muitas compras:
presentes e lembrancinhas de todos os tipos, além dos artesanatos. Passaram
três dias arrumando o local; ficou uma beleza! Uma loja alegre, cheia de coisas
bonitas e com música ambiente; um sonho realizado.
Abririam as portas na segunda
feira, teriam que comemorar. Á noite saíram para jantar e acabaram nos braços
um do outro; estavam apaixonados e felizes.
Os projetos e sonhos eram
grandes, se desse certo ela ficaria livre de Marcos e se casaria com Tiago.
Portanto, deixaria de ser apenas uma mulher de papel, para ser uma mulher amada.
Um sentimento doce e quente fez a
mulher sorrir; deixaria a tristeza, a humilhação e a solidão esquecidos para
sempre. Muita luta ainda estava por vir, o futuro ficaria a sua espera; por ora
tentaria viver intensamente o presente.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.