O BEM MAIS PRECIOSO
CAPÍTULO
CINCO
Alcir abaixou a cabeça, a emoção tomou
conta de sua voz, então, ele começou a gaguejar e as lágrimas desceram fartas
de seus olhos. Dirceu levantou-se e pegou um copo com água da moringa, que
ficava na mesinha perto do beliche, dentro da cela. Enquanto o companheiro
sorvia o líquido, Dirceu perguntou se ele queria parar por ali.
–Não, de jeito nenhum. Gaguejou o rapaz
com a voz embargada.
Ele precisava contar tudo
para se livrar do peso que trazia na alma. O sofrimento reprimido por oito anos
e a armadura que usava para se apresentar a todos, estava lhe fazendo muito mal;
iria contar tudo até o final.
Respirando fundo, Alcir continuou sua
história.
- Amava a sua mulher com toda a força de
seu coração. Respirou fundo e tomando fôlego, continuou.
Era um sentimento verdadeiro, que viera de
um jeito que doía seu peito, o coração disparava quando pensava nela. Ela
representava a luz do Sol, a alegria de viver; um sorriso dela encantava seu
dia. Desde o momento que a viu pela primeira vez, Sila tornou-se o centro de
seu Universo. Gostava de vê-la caminhar em sua direção, balançando seus fartos
cabelos louros e quando se aninhava em seus braços ele ficava completo; era seu
bem mais precioso.
Os dois saíram da casa nova com o Sol brilhando
alto e, quando chegaram à casa de Sila, a mãe dela os estava esperando, sentada
na varanda da casa. A mulher apresentava as feições endurecidas pelo semblante
fechado. Levantou-se e com as mãos na cintura perguntou se tinha cara de
palhaço. Alcir abaixou a cabeça dizendo que não e Sila começou a chorar.
- Com
certeza estavam pensando que o mal feito ficaria escondido. Disse a mulher
irada, em seguida prosseguiu.
Por enquanto, somente ela sabia que os
dois tornaram-se amantes, mas, Alcir teria que marcar a data do casamento
naquele mesmo dia, ou ela contaria ao pai e aos filhos, que certamente tomariam
providências danosas para ambos.
Enquanto a moça chorava, o noivo
aquiesceu.
- Casaria
com Sila a qualquer momento, já tinham casa para morar.
Diante de tanta veemência, a mulher depôs
as armas, esperaria até a noite para acertarem as datas. Contava com a presença
dos pais dele, para se certificar de que estava falando sério.
Alcir não cabia em si de tamanha
felicidade, Sila era seu bem mais precioso e a levaria para o altar com muito
amor. Os pais do noivo foram pegos de surpresa e pediram um prazo de dois meses para que tudo fosse arrumado para o casamento. A data foi marcada para a
véspera do carnaval, assim eles poderiam viajar e curtir a lua de mel.
A mãe chamou a atenção da filha com dureza,
para a realidade que a aguardava.
–Será que ela não estaria jogando sua sorte
pela janela? Era muito jovem, ainda não estava formada e o noivo parecia muito
ciumento. Temia que ele não deixasse ela terminar os estudos, enfatizou a
mulher.
Sila ouviu calada, a mãe poderia ter
razão, porém, não queria pensar nisso naquele momento. Estava feliz com a
novidade, também amava Alcir e queria desfrutar dessa fase de sua vida, o
casamento.
O dia do casamento chegou e a felicidade
estava estampada no rosto dos noivos. Tudo saiu perfeito, a cerimônia, a festa
e a saída estratégica do casal de noivos para a viagem ao litoral; Sila queria
aproveitar o calor para curtir a praia.
O carnaval acontecia nas ruas e salões e
os dois passeavam agarradinhos pela orla marítima, depois iam dormir de
conchinha. Alcir nunca foi tão feliz, queria permanecer ali para sempre. Foi
uma semana inteira de muito amor, depois voltaram para casa. Era chegada a hora
de enfrentar a realidade que os esperava, cheia de novos compromissos.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.