DESENCONTROS
CAPÍTULO
TRÊS
A chegada de um bebê, em geral, traz
alterações na vida de uma família. O pós-parto compreende um prazo de três
meses de adaptação, onde a ansiedade e angustia tomam conta dos pais. E, se ele
for prematuro, tudo se torna duplamente difícil. O casal não consegue pensar
como poderá levar aquele ser pequenino cheio de aparelhos para casa.
Começam
a se estranhar com perguntas do tipo:
- Como isso pode acontecer conosco?
– Você não se cuidou como devia. Fez
esforço desnecessário. Samuel dizia em
tom alterado.
Celi começou a chorar...
– Não tivera culpa de nada. O médico
dissera que estava tudo bem.
A mãe da moça precisou intervir para que a
filha pudesse descansar, pois ainda estava de resguardo e aparentemente fraca.
O
marido estava visivelmente decepcionado com a pequena filha, aliás, tinha medo
de se aproximar dela. E, também estava criando uma rejeição em manter contato
com sua mulher. Ficava o menor tempo possível no Hospital e quando Celi ia para
casa trocar as roupas ou pegar alguma coisa, ele inventava uma desculpa para
escapar dela.
Luana
estava com 28 dias quando teve um agravamento de sua saúde, que já não era boa.
Estava com pneumonia e os médicos disseram que dificilmente ela sobreviveria.
No entanto, Celi ficou ao lado da filha durante todo o tempo pedindo a Deus por
ela e este ouviu suas preces. A pequena criança se mostrou guerreira e resistiu,
apresentando melhoras.
Celi
estava emagrecida e com os olhos fundos; carecia de alimentação e descanso. Depois
foi encaminhada para o Pronto Socorro para tomar soro, precisava ficar forte
para cuidar da filha.
Samuel, algumas vezes, aparecia ali no Hospital, no entanto, logo sumia. Não queria ver as
duas mulheres, mãe e filha definharem; preferia ficar na rua com os amigos. A
vida fora ingrata com ele, pensava constantemente.
Assim, os dias foram passando e depois de três meses a menina teve alta. Celi levou a
pequena criança para casa com uma porção de restrições. Luana precisava de cuidados
24 horas por dia; a mãe era só dela. A moça passou a viver em função da filha, vivia cansada e não se importava com o marido.
Samuel sentiu na pele o descaso que Celi
impusera a ele, ou cuidava da criança ou da casa. A comida nem sempre estava
pronta, a roupa raramente estava limpa e a casa se tornara uma bagunça. A mãe
ou a sogra, algumas vezes, iam dar uma mão, mas não era rotina e Samuel não
queria ajudar em nada. Dizia que era o provedor e pronto, não tinha deveres
domésticos.
Celi
passou a dormir com a filha, pois tinha medo que ela se afogasse. Passava o
tempo dentro de casa olhando a menina para ver se estava respirando, parecia
desnorteada e solitária. O marido vivia nos bares com os amigos.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.