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quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

"EU SEM VOCÊ SOU SÓ DESAMOR, UM BARCO SEM MAR, UM CAMPO SEM FLOR. TRISTEZA QUE VAI, TRISTEZA QUE VEM. SEM VOCÊ, MEU AMOR, EU NÃO SOU NINGUÉM!' VINÍCIUS DE MORAES

EM MEIO AO LARANJAL

CAPÍTULO DOIS
          Tudo começou há três décadas, mais precisamente quando a família de Alceu morava no interior do Mato Grosso do Sul. Tinham um pequeno sítio em uma área rural e mantinham um pomar de laranjas. As frutas, de boa qualidade, eram vendidas na feira livre da cidade mais próxima e o excedente para fábricas de sucos de laranjas.

              O pomar de laranjas era uma lavoura que exigia pouco trabalho manual, portanto rentável. E, enquanto a natureza se encarregava da produção de laranjas, eles plantavam vagem, tomates e outros produtos hortifrúti. Assim a vida corria normalmente e havia fartura na região.

               Pai, mãe, avô, avó maternos, André, Alceu e depois três meninas, uma família comum do interior do Brasil. Os meninos trabalhavam na roça com o pai e o avô; as meninas ajudavam a mãe e a avó na casa.

            Em uma certa manhã, o pai percebeu que havia problemas no laranjal. As folhas e as laranjas estavam enferrujadas em vários pontos. O pai e o avô subiram na velha caminhonete e foram para a cidade buscar o agrônomo. Precisavam diagnosticar a doença, pois temiam as pragas, que rondavam os laranjais da região. O agrônomo foi taxativo:

            - É o bicho furão mostrando a sua cara, é necessário um combate ferrenho para que ele não se espalhe ou perderemos todo o pomar. Em último caso será necessário arrancar e queimar todo o laranjal.

               Quirino, o pai, viu seu mundo desabar, demorou anos para a formação daquele pomar e somente agora começou a dar lucros, não seria justo queimar todo o pomar por causa de pragas.  

         – Faremos o que for necessário para não perder o laranjal, afirmou Quirino, bastante nervoso.

         - Então, a solução será entrar com agrotóxicos e não dar folga para o bicho, disse o agrônomo preocupado.

No mesmo dia foram buscar os agrotóxicos para iniciar na manhã seguinte, bem cedo, o combate aquela praga. Era um procedimento feito logo após o amanhecer, com uma bomba pendurada nas costas do agricultor.

 Um procedimento manual, que liberava o veneno atingindo as folhas e frutos das laranjeiras. O veneno saia por um bico regulável de uma mangueira, espalhando-se por todo o ambiente. O agricultor que manuseava a bomba também ficava exposto ao veneno.

Quirino montou a bomba e a carregou com o veneno. Pulverizou uma pequena parte e o filho mais velho chegou para pedir que fosse receber o caminhão, que iria transportar as caixas de vagens e tomates para o Ceasa.

 Alceu ficou olhando e experimentou colocar a bomba em suas costas. Sentiu firmeza e resolveu pulverizar o restante da plantação. Quando Quirino voltou, Alceu já estava com o serviço bem adiantado. Ele era um menino de dezessete anos, forte e arrojado; poderia fazer aquele serviço para ajudar seu pai. Sendo assim, o pai autorizou que ele terminasse a pulverização.

O dia transcorreu normalmente e os homens foram para casa tomar banho, jantar e descansar para o dia seguinte. Quirino estava mais tranquilo, pois as providências quanto as pragas já tinham sido tomadas.

            No dia seguinte, Alceu levantou-se com mal-estar corporal, mas atribuiu a chegada de algum resfriado. O rapaz foi diretamente para o paiol pegar o veneno e continuar a pulverização recomendada pelo agrônomo. André, o pai e o avô foram cuidar das outras plantações, que requeriam mais cuidados.

Na hora do almoço, uma das filhas foi levar as marmitas para que os homens não perdessem tempo e almoçassem por ali mesmo.

    No entanto, Alceu não apareceu e Quirino foi assuntar o que aconteceu. Ao chegar no pomar, ficou arrazado ao se deparar com o filho caído em meio ao capinzal, entre as laranjeiras. Estava desfalecido, com a boca espumando, as calças urinadas e com trejeitos estranhos. 

Correu pedindo apoio aos demais, para ajudarem no socorro do filho. Então, o avô olhando o neto disse estarrecido:

 - Rápido, o Alceu está convulsionando!

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

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