ENTRE
O CÉU E A TERRA
CAPÍTULO
OITO
Alceu continuava a frequentar o
centro espírita e seus estudos; tinha como conselheiro um dos médiuns do lugar.
A família do rapaz evitava falar sobre qualquer assunto, que tivesse alusão a
coisas espirituais. Ninguém da família tinha conhecimento para entender o que
se passava com ele; tinham medo do desconhecido.
As pessoas ficavam embaraçadas e
mantinham-se caladas, quando Alceu dizia ter visto alguma aparição ou ouvira
vozes. Quirino e Rosa ficavam tristes ao ouvir os relatos do filho; temiam que
ele ficasse louco. Entretanto, passavam meses sem que ele tivesse qualquer
crise ou tocasse no assunto e, a vida seguia em paz.
Algumas
visões, sempre escutando vozes, falando sozinho, estas eram as rotinas do
rapaz. O seu mentor dizia que ele não tinha dons para se tornar um médium, o
que acontecia com ele era inexplicável. Muitas vezes, não contava a ninguém suas visões, para não ser olhado como uma pessoa esquisita.
Anos
depois, Alceu estava fazendo entregas nas casas dos clientes e um deles morava
longe. O supermercado tinha como norma, nunca recusar vendas. Assim, ele
adentrou a rodovia para chegar à casa do freguês, já era noite, estava cansado
e com fome. Dirigia distraído e quase atropelou um cachorro, que atravessava a
pista.
Brecou
seco e bateu a cabeça no para-brisa, depois, atordoado seguiu o seu caminho.
Alguns quilômetros à frente surgiu uma mulher, que pulou para dentro da pista,
em frente ao caminhão. A figura, iluminada pelo farol do veículo, acenava
pedindo uma carona.
Alceu
sentiu pena da mulher perdida na noite, mas não gostava de dar caronas,
existiam relatos de assaltos, que se iniciavam assim. Então, acelerou e seguiu
em frente.
Era uma noite escura, que já tomara
conta de tudo e, alguns quilômetros à frente, surge outra mulher acenando para
Alceu parar o caminhão. Com surpresa ele constatou, que não se tratava de outra
mulher, era a mesma. Ela tinha um estranho vestido amarelo e cabelos crespos de
cor clara, eriçados, não seria possível confundi-la com ninguém. O rapaz sentiu um arrepio e pensou:
- Como ela veio parar aqui? Tem
alguma coisa estranha nessa pessoa. Amedrontado, tocou em frente.
Alceu fez a entrega dos mantimentos
e tomou o caminho de volta. Estava cansado e aquela mulher o deixara temeroso,
assim, queria chegar o mais rápido possível em sua casa. E, na volta quando
passava por aquele local da aparição, a mulher surgiu do nada. Lá estava ela
pedindo carona novamente.
O rapaz não sabia o que fazer, então
resolveu parar e encarar a situação, iria dar carona para a mulher. Encostou o caminhão e quando desceu
para perguntar o que ela estava fazendo na estrada, ela simplesmente
desapareceu.
Ele andou em volta do caminhão e
olhou por todos os lados, não havia ninguém por ali. Assustado, Alceu tomou a
direção novamente, estava amedrontado.
– O que será isso? Será algum
aviso? Onde estará aquela mulher?
Voltou para sua casa e não disse nada à sua
esposa, foi dormir dizendo que estava muito cansado.
Ele teve um sono conturbado e a
certa altura gritou;
- Mulher, o que você quer comigo? E
acabou acordando sua esposa, que deu um pulo e chacoalhando o marido perguntou:
- Quem é essa mulher, alguma vagabunda
da beira da estrada? Gritou Elisa.
Alceu sentou-se na cama e disse:
- Não é nada disso, vou te contar
o que aconteceu. Prepare-se, existem coisas entre o céu e a terra que são
incompreensíveis e surpreendentes.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa